Baleia colossal com 39 milhões de anos pode ser o animal mais pesado da Terra

A recém-descoberta Perucetus colossus teria uma massa corporal entre 85 e 340 toneladas. Prevê-se que a massa do esqueleto seja 2 a 3 vezes superior à de uma baleia-azul de 25 metros de comprimento.

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Reconstrução de Perucetus colossus no seu habitat costeiro, o comprimento estimado do corpo é de aproximadamente 20 metros Alberto Gennari
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Modelo 3D do esqueleto da nova espécie, Perucetus colossus (comprimento estimado do corpo de aproximadamente 20 metros), juntamente com o de um parente mais pequeno e próximo (Cynthiacetus peruvianus) e o da baleia-azul de Wexford (exposto no Museu de História Natural de Londres) Florent Goussard (modelo da <i>C. peruvianus</i>) e Centro de Análise e Imagem do Museu de História Natural de Londres
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Uma equipa de cientistas assina nesta quarta-feira um artigo na Nature que nos apresenta um animal especial: aquele que poderá ser o animal mais pesado da Terra. Trata-se da recém-descoberta Perucetus colossus, uma espécie antiga de baleia que terá existido há cerca de 39 milhões de anos. A partir de partes de um esqueleto encontradas no sul do Peru, foi possível avançar para estimativas de tamanho e peso que ultrapassam os registos da baleia-azul, que até agora se pensava ser o animal mais pesado que alguma vez existiu. Feitas as contas, o P. colossus teria uma massa corporal entre 85 e 340 toneladas.

“Os resultados sugerem que a tendência para o gigantismo nos mamíferos marinhos pode ter começado mais cedo do que se pensava”, refere o comunicado de imprensa da Nature sobre o artigo que descreve “uma nova baleia basilosaurídea com uma massa esquelética estimada que excede a de qualquer mamífero ou criatura marinha conhecida”.

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Ossos preservados da nova espécie Perucetus colossus Giovanni Bianucci

“Denominado P. colossus, o animal é modelado a partir de um esqueleto parcial, incluindo 13 vértebras, 4 costelas e 1 osso da anca, descoberto no sul do Peru e com uma idade estimada em cerca de 39 milhões de anos”, refere o mesmo texto, especificando que a estimativa sobre a massa desta baleia deverá ser duas a três vezes superior à de uma baleia-azul de 25 metros de comprimento. Assim, os autores estimam que a P. colossus teria uma massa corporal entre 85 e 340 toneladas.

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Ossos preservados da nova espécie Perucetus colossus Giovanni Bianucci

No artigo, os autores explicam que o registo fóssil dos cetáceos “é de grande importância para documentar a história evolutiva da vida dos mamíferos quando alguns animais terrestres estavam a regressar ao oceano”. O nosso imaginário transporta-nos para imagens de gigantes aquáticos nas águas do passado, mas a verdade é que os registos indicavam que o pico de massa corporal terá sido “uma diversificação relativamente recente”.

Parte do esqueleto a ser transportado do local de origem (Província de Ica, sul do Peru) para o Museu de História Natural, em Lima Giovanni Bianucci
Os ossos da nova espécie foram analisados para avaliar a sua estrutura interna Giovanni Bianucci
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Parte do esqueleto a ser transportado do local de origem (Província de Ica, sul do Peru) para o Museu de História Natural, em Lima Giovanni Bianucci

Os resultados publicados agora sugerem que “os cetáceos atingiram o pico de massa corporal cerca de 30 milhões de anos antes do que se supunha anteriormente, estando as características da P. colossus totalmente adaptadas a um ambiente aquático”. Com este tamanho e peso, esta colossal baleia estava adaptada a águas pouco profundas. A baleia basilosaurídea da época do Eoceno médio do Peru “apresenta, tanto quanto sabemos, o maior grau de aumento de massa óssea conhecido até à data”, escrevem os autores no artigo. “A massa esquelética estimada de P. colossus excede a de qualquer mamífero ou vertebrado aquático conhecido”, acrescentam.

Esta colossal baleia antiga ultrapassa as medidas do maior cetáceo conhecido que é a baleia-azul (Balaenoptera musculus), que era também até agora o animal mais pesado. Numa descrição mais detalhada, a equipa de cientistas explica-nos que as adaptações das espécies que mergulham a pouca profundidade e nadam lentamente incluem frequentemente um aumento da massa corporal. “Este aumento é produzido pelo enchimento das cavidades internas dos elementos esqueléticos com osso compacto (isto é, osteosclerose) e, nos casos mais extremos, pela deposição adicional de osso na sua superfície externa (isto é, paquiostose sensu stricto).”

A P. colossus combina um tamanho gigantesco com o mais forte grau de índice de massa corporal conhecido até à data, referem os cientistas. Sem acesso a partes importantes do esqueleto, como o crânio e os dentes, os autores do artigo reconhecem que qualquer hipótese sobre a dieta e estratégia alimentar desta baleia “seria especulativa”. No entanto, é possível avançar com a probabilidade de uma velocidade lenta na deslocação deste gigante.

“Embora subsistam incertezas quanto ao estilo de vida e dieta exactos de P. colossus, este era um consumidor bentónico [a comunidade bentónica vive no fundo do mar, é bastante complexa e inclui uma grande diversidade de organismos, desde bactérias a fungos, plantas e animais] de natação lenta, muito provavelmente costeiro”, adianta o artigo. E concluem: “Este novo registo apoia a hipótese de que os basilosaurídeos [uma família de cetáceos extintos] se hiperespecializaram em habitats costeiros durante o final do Eocénico, e que a subsequente grande queda na produtividade destes ambientes pode ter afectado sobretudo estas baleias, dando lugar aos seus parentes (os antepassados das actuais baleias e golfinhos) que invadiram habitats mais offshore.”