Acusações criminais contra Trump não abalam apoio republicano
Ex-Presidente dos Estados Unidos cimenta liderança na campanha do seu partido à eleição de 2024 e surge empatado com Joe Biden num cenário de repetição do duelo de 2020.
Apesar de cada vez mais eleitores do Partido Republicano considerarem que Donald Trump cometeu crimes federais graves no caso dos documentos secretos que reteve na sua mansão na Florida, as sondagens indicam que o ex-Presidente dos Estados Unidos tem praticamente garantida a sua nomeação como candidato à Casa Branca em 2024.
Segundo uma sondagem da Universidade Siena para o jornal New York Times, publicada esta semana, 13% dos eleitores republicanos inquiridos consideram que Trump cometeu crimes graves, em comparação com os 6% que disseram o mesmo em Setembro de 2022; ao mesmo tempo, a percentagem dos republicanos indecisos nesta questão também subiu em relação a Setembro, de 10% para 13%.
"Eu acho que ele fez coisas terríveis, mas também fez muitas coisas boas", disse um dos inquiridos na sondagem do Times, Joseph Derito, de 81 anos.
Derito, residente em Elmira, no estado de Nova Iorque — uma localidade rural onde Donald Trump bateu Joe Biden por dez pontos percentuais na eleição de 2020 —, disse também que deverá voltar a votar no ex-Presidente dos EUA em 2024.
"Eu costumava apoiar o Partido Democrata porque eles defendiam a classe média. Não gosto de Trump, mas agora gosto ainda menos dos democratas", disse o eleitor republicano ao Times.
No total — incluindo eleitores do Partido Republicano, do Partido Democrata e autodeclarados independentes —, 51% dos inquiridos dizem que Trump cometeu crimes federais graves no caso dos documentos secretos, e 53% consideram que as acções do ex-Presidente dos EUA no período eleitoral de 2020 representaram "uma ameaça à democracia".
Mesmo assim, Trump — o único ex-Presidente dos EUA acusado formalmente de ter cometido crimes em toda a História do país — tem cimentado a sua posição dominadora na corrida à nomeação como candidato oficial do Partido Republicano à eleição de 2024.
Depois de Trump, que recolhe 54% das intenções de voto entre os eleitores republicanos inquiridos na sondagem do Times, o candidato mais bem posicionado é o governador da Florida, Ron DeSantis, que surge 37 pontos atrás do ex-Presidente dos EUA, com 17%; segundo o jornal, nenhum candidato com uma vantagem de 20 pontos a esta distância da eleição, nos últimos 50 anos, deixou escapar a nomeação.
Ao mesmo tempo, a sondagem indica que Biden reforçou ainda mais a sua posição como grande favorito nas eleições primárias do Partido Democrata — com mais eleitores democratas a deixarem cair as suas objecções iniciais, como a preferência por um candidato mais jovem —, mas deixa em aberto o resultado na eleição de 2024, com Trump e Biden a surgirem empatados (43%).
Possíveis surpresas
É impossível antecipar o que vai acontecer na eleição presidencial de 2024 a uma distância de 15 meses; além de o sistema eleitoral dos EUA não permitir nenhuma conclusão com base em percentagens nacionais (principalmente quando se trata de um empate), a campanha deste ano vai ficar marcada pelos vários processos judiciais que envolvem Trump.
Apesar do apoio que Trump tem no Partido Republicano, e do facto de não poder ser impedido de se candidatar mesmo que venha a ser condenado a uma pena de prisão, é possível que o avolumar dos seus problemas judiciais leve o partido ou o eleitorado a apoiar outros candidatos, por exemplo.
Mesmo que isso não aconteça, as sondagens também indicam que Biden, ao contrário de Trump, tem margem para conquistar apoio no eleitorado indeciso — e mesmo entre alguns eleitores do Partido Republicano —, devido aos problemas do ex-Presidente dos EUA com a Justiça.
Segundo a sondagem do Times, 39% do eleitorado aprova o desempenho de Biden como Presidente dos EUA — uma percentagem baixa para qualquer Presidente em exercício que pretende ser reeleito, mas seis pontos acima do que se verificava no Verão de 2022.
A tendência de subida começou depois de o Supremo Tribunal dos EUA ter revertido o direito ao aborto no país, em Junho de 2022, e continuou à medida que a inflação foi caindo e que a Administração Biden foi alcançando algumas vitórias legislativas — num movimento ascendente que o Partido Democrata espera que se mantenha no próximo ano.
"Donald Trump não é um republicano, é um criminoso", disse ao Times John Wittman, de 42 anos, um eleitor do Partido Republicano que participou na sondagem.
"Votarei em qualquer pessoa deste planeta que pareça ser minimamente capaz de exercer o cargo, incluindo Joe Biden, em vez de Donald Trump."