Morreu o actor cómico Paul Reubens, o eterno Pee-wee Herman
Tinha 70 anos e morreu seis anos depois de lhe ter sido diagnosticado um cancro, algo que nunca tinha sido revelado até agora. Será sempre Pee-wee Herman, um ícone dos anos 1980.
Durante mais de 35 anos, Paul Reubens foi Pee-wee Herman. O actor cómico morreu este domingo aos 70 anos, seis anos depois de lhe ter sido diagnosticado um cancro, algo que nunca tinha sido revelado até agora. Era famoso por Herman, uma personagem singular e estranha que se tornou um ícone dos anos 1980. A notícia foi, aliás, divulgada pelas redes sociais oficiais de Pee-wee, não do próprio Reubens.
"Por favor aceitem o meu pedido de desculpas por não ter tornado público aquilo que tenho enfrentado nos últimos seis anos. Sempre senti uma grande quantidade de amor e respeito dos meus amigos, fãs e apoiantes. Amei-vos a todos tanto e desfrutei de fazer arte para vocês", lê-se numa citação do actor publicada nesses meios. Pediu também a quem visse a mensagem que fizesse doações em honra dos seus pais, Judy e Milton Rubenfeld ("Reubens" era uma adaptação desse apelido), à instituição Stand Up to Cancer ou outras "organizações envolvidas em cuidados, apoio e pesquisa" nas áreas de "demência e Alzheimer".
Pee-wee, de fato cinzento, laçarote vermelho e camisa e sapatos brancos, era uma criança grande e uma fonte de comédia parva, idiossincrásica e imaginativa. Começou nos palcos, co-criada por Phil Hartman, com a ideia inicial de fazer uma personagem que fosse um mau cómico. Era apenas uma personagem que fazia quando era membro da trupe de comédia de improviso e sketches The Groundlings, em Los Angeles, onde era colega de Hartman. Em 1980, decidiu transformá-la num espectáculo, isto após ter feito uma audição para se tornar parte do elenco de Saturday Night Live e não ter conseguido o trabalho. Foi um sucesso no The Roxy, em West Hollywood, e depois passou para a televisão, num especial da HBO. Começava aí um enorme fenómeno que chegou ao cinema em 1985, numa versão mais apelativa para um público infantil, com A Grande Aventura de Pee Wee, o primeiro filme de Tim Burton.
Depois voltou à televisão em Pee-wee’s Playhouse, uma inventiva, subversiva e surreal série cómica que ganhou vários Emmy e tinha no elenco nomes como Laurence Fishburne. Durou entre 1986 e 1990. Pelo meio, houve ainda uma sequela de A Grande Aventura de Pee Wee, já sem Burton aos comandos, Big Top Pee-wee, assinado por Randal Kleiser. Durante todo esse tempo, Reubens dava entrevistas em personagem.
Um farol de audácia no mainstream
Em 1991, a personagem saiu de cena quando Reubens foi preso num cinema pornográfico na Flórida, acusado de atentado ao pudor, o que gerou um escândalo fomentado pelos media norte-americanos. Acabaria por voltar à Broadway em 2010, numa série de espectáculos que deram, outra vez, um especial da HBO, e teve o seu acto final em 2016, ano do filme Netflix Pee-wee’s Big Holiday, assinado por John Lee e produzido por Judd Apatow. Lee, parte do colectivo de comédia bizarra, subversiva e nada para crianças PFFR, responsável por objectos estranhos como Wonder Showzen ou Xavier, Renegade Angel, fazia parte de uma geração de pessoas que cresceram a ver em Pee-wee um farol de audácia e excentricidade dentro do mainstream americano.
Fora da personagem, Reubens apareceu em inúmeras séries de televisão e em alguns filmes. Ainda antes de Herman ser um êxito, apareceu brevemente em O Dueto da Corda, de John Landis. Para Burton, por exemplo, fez um cameo em Batman Regressa, de Burton, como o pai do Pinguim de Danny DeVito, que o abandona à nascença – ainda no universo de Batman, voltaria a fazer de outra variação do pai do Pinguim de Robin Lord Taylor na série Gotham. Também emprestou a voz – trabalhou bastante como actor de voz em animação – a O Estranho Mundo de Jack, de Henry Selick, co-escrito por Burton. Foi visto ainda em filmes como Buffy, Caçadora de Vampiros, de Fran Rubel Kuzui, Matilda, a Espalha Brasas, de Danny DeVito, Homens Misteriosos, de Kinka Usher, Profissão de Risco, de Ted Demme e A Vida em Tempo de Guerra, de Todd Solondz, uma sequela de Felicidade, do mesmo realizador, com actores diferentes a fazerem as mesmas personagens (a de Reubens era, no original, a de Jon Lovitz, que também tinha sido membro dos Groundlings).
Na televisão, apareceu em Murphy Brown, Todos Gostam do Raymond, Ally McBeal, The Blacklist ou What We Do in the Shadows. Teve também uma prestação memorável em Rockefeller 30, como o último membro da linhagem da Casa de Habsburgo. Foi uma das personagens de Mosaic, a série-experiência de Steven Soderbergh e Ed Solomon que era também uma aplicação interactiva. Apareceu ainda em telediscos de Smash Mouth, Elton John, The Raconteurs ou TV on the Radio.