O Centro Arco-Íris é a casa LGBTI durante a Jornada Mundial da Juventude — para todos
De 1 a 4 de Agosto, a Casa da Cidadania do Lumiar acolhe o Centro Arco-Íris, onde todos são bem-vindos. Não importa a idade, nacionalidade, orientação sexual ou religião: basta querer ouvir.
Francisco foi o primeiro Papa da Igreja Católica a usar a palavra gay em público: “Se uma pessoa é gay e procura o Senhor de boa-fé, quem sou eu para a julgar? Ninguém deve ser marginalizado por isso.” Uma década depois, fazer parte da comunidade LGBTI+ continua a ser motivo de exclusão em muitas comunidades católicas. Por isso, e porque “ser gay já nem devia ser tema”, a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) vai cruzar-se em Lisboa com um Centro Arco-Íris onde todos são bem-vindos.
“Não importa a idade, a nacionalidade, se estarão na JMJ, se são católicos, agnósticos ou têm outra crença. Vamos receber todos os que vierem pela partilha e amor”, anuncia Ana Carvalho, membro da organização deste Centro Arco-Íris que ocupará a Casa da Cidadania do Lumiar entre 1 e 4 de Agosto.
Espaços de debate e partilha, uma mesa-redonda em que duas teólogas casarão a Igreja com as questões LGBTI+, momentos de oração, e tempo para festejar. “Seremos um grupo de jovens como qualquer outro na JMJ”, simplifica Ana Carvalho.
Não é a primeira vez que grupos de pessoas católicas LGBTI+ se unem para abrir espaços seguros nas cidades que acolhem a Jornada Mundial da Juventude. Aconteceu na Cidade do Panamá, em 2019. Em Cracóvia, 2016. Rio de Janeiro, 2013. Só na Polónia se fez algo parecido (ainda que em menor escala) ao que acontecerá no Centro Arco-Íris, em Lisboa.
“A questão LGBTI+ já nem devia ser tema. Em Portugal, temos paróquias em que estes jovens e adultos são acolhidos sem questões, e outras em que são deixados de lado, quase convidados a sair”, diz Ana Carvalho em entrevista ao P3. “O Centro Arco-Íris também é para os jovens que nem se inscreveram na JMJ porque se sentem feridos, magoados e dizem ‘tenho a minha fé’ sem estarem integrados na comunidade.”
Para quem nunca encontrou harmonia entre as próprias crenças e a identidade sexual e de género, ou não se sente bem-vindo na comunidade católica, Ana deixa um convite: “Venham conhecer a experiência de outros que passaram pelo mesmo, saber como lidaram com essa mágoa. Não estão sozinhos.” O mesmo para quem ainda se esteja a questionar sobre a própria identidade.
Nesta casa que, durante quatro tardes, será de todos, cada um levará ao peito um cartão onde pode escrever o nome, nacionalidade, os pronomes que prefere (femininos, masculinos, neutros, ou sem preferência), e se autoriza, ou não, ser fotografado.
“São necessários espaços dedicados a certos grupos porque há jovens que querem partilhar experiências de vida e interesses comuns. Sendo o tema LGBTI+ mais periférico, traz outras dores, também queremos acolher essas fragilidades”, diz Ana Carvalho, que fala por toda a equipa que construiu o Centro Arco-Íris desde que a ideia surgiu em 2019. “A partilha será sempre necessária. Espero que no futuro já não tanto para curar, sarar, mas pela vontade de conhecer e ouvir o outro."