No Mundial houve Kika, muita Kika. E houve Portugal, muito Portugal

Pela primeira vez na história, a selecção feminina de futebol venceu um jogo (2-0) num Mundial. O primeiro golo de sempre fica assinado por Telma, mas foi Kika a “dona da bola” frente ao Vietname.

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EPA/HOW HWEE YOUNG
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Na Madeira, na zona de Câmara de Lobos, nasceu a primeira mulher a marcar um golo por Portugal num Mundial de futebol. Telma Encarnação já tem um lugar só seu na história do futebol português, mas, nesta quinta-feira, a história é maior do que essa: acima da façanha individual da madeirense está a conquista colectiva de um país. E Portugal já pode dizer que ganhou um jogo entre a nata do futebol mundial.

O triunfo (2-0) frente ao Vietname deixa em aberto o apuramento para a fase seguinte, ainda que o empate entre Países Baixos e Estados Unidos dê ao cenário uma parca probabilidade de passar da quimera à vida real – Portugal, que perdeu o primeiro jogo, está obrigado a vencer a poderosa selecção norte-americana.

Em Hamilton, na ilha Norte da Nova Zelândia, o jogo foi de Kika Nazareth. Quase tudo o que aconteceu de bom passou pelos pés e pela cabeça da atacante de 20 anos, que fez o que quis das frágeis e menos capazes jogadoras vietnamitas, que pouco mais fizeram do que assistirem ao recital de Kika.

Em 68 minutos, a jogadora do Benfica driblou, criou, marcou, deu a marcar e mostrou o “perfume” técnico que faltava a uma equipa ofensivamente incapaz no primeiro jogo. E sorriu muito, como sempre.

Por estes dias, Kika é um oásis no futebol nacional, tendo mostrado, com o Vietname, que está muitos degraus acima de todas as outras, sobretudo quando o desenho táctico da equipa lhe dá liberdade para fazer o que quer e onde quer. E, nesta quinta-feira, pode fazer o que quis e onde quis.

Apesar de manter o sistema de três centrais, o seleccionador Francisco Neto mudou o desenho ofensivo, criando um lugar para Kika atrás da dupla atacante. Com uma n.º 10 “à antiga”, sem amarras tácticas, Neto criou algo semelhante ao que Rui Jorge criou em 2015, no Euro sub-21, na altura para dar liberdade a Bernardo Silva num 4x4x2 losango. E Kika foi, como Bernardo foi nesse Verão, um regalo para a vista.

Com sete alterações relativamente ao primeiro jogo, Portugal apresentou-se fresco fisicamente para poder responder a um preceito de jogo assente no dinamismo, nas trocas posicionais e na rápida reacção à perda da bola.

Descrever todas as oportunidades de golo de Portugal na primeira parte tornaria este texto algo aborrecido, tal foi a sequência de lances de perigo junto da baliza vietnamita.

Tal como se previa antes do jogo, a selecção asiática mostrou-se pouco capaz e pouco contundente nos duelos (Portugal ganhou 65%), algo espoletado ainda mais pela presença de Telma Encarnação, jogadora de tremendo poder físico, sobretudo comparada com as vietnamitas.

A avançada portuguesa ganhou vários duelos físicos, pelo chão e pelo ar, preceito que, conjugado com a arte de Kika, deu a Portugal uma supremacia permanente no terço ofensivo.

A ideia foi quase sempre a mesma: ter Telma ou Jéssica em apoios frontais, arrastando uma das centrais do Vietname, e depois soltar em profundidade alguma colega vinda de trás, que atacava o espaço que deveria ser ocupado pela asiática arrastada pelo apoio frontal.

A “receita” resultou vezes sem conta, até porque permitia haver muito espaço entre linhas para Kika, com tempo e espaço, mostrar a magia que tem nos pés.

Portugal chegou ao golo aos 7’, num dos tais lances de arrastamento (desta vez com atracção no corredor lateral), com cruzamento de Lúcia Alves e finalização de Telma, de primeira, no centro da área.

Por esta altura já Kika tinha falhado um golo e oferecido outro a Lúcia Alves, em duas jogadas individuais.

Aos 21’, fartou-se de criar para as demais e finalizou ela própria uma jogada criada pela recuperação adiantada de Telma, novamente superior no duelo físico com as asiáticas.

Portugal acabou por acalmar o ímpeto ofensivo, confortável num 2-0 que só seria revertido por um milagre – o Vietname pouco ou nada fez.

O jogo tornou-se, assim, menos interessante, com o Vietname a querer fazer algo que não conseguia e Portugal a controlar a partida com bola. Sem forçar tanto como nos primeiros 40 minutos, a equipa portuguesa ainda somou mais uma mão-cheia de oportunidades de golo.

Foram dois golos, mas poderiam ter sido o dobro ou o triplo.

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