Rudolph Giuliani admite ter mentido sobre fraude eleitoral na Georgia

Ex-advogado de Donald Trump é acusado de difamar duas responsáveis eleitorais, a quem acusou de terem manipulado boletins de voto na eleição presidencial de 2020.

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O advogado e ex-presidente da Câmara de Nova Iorque é acusado de promover falsidades sobre a eleição de 2020 Reuters/BRANDON BELL
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Numa declaração cuidadosamente preparada para não ser lida como uma admissão de culpa formal e em toda a linha, o advogado norte-americano Rudolph Giuliani fez saber, na noite de terça-feira, que desiste de se opor em tribunal à acusação de que difamou duas responsáveis eleitorais da Georgia, em 2020, e que mentiu quando disse que houve fraude eleitoral naquele estado.

Na declaração, Giuliani mantém a sua posição de que tudo o que disse sobre a forma como a eleição presidencial decorreu na Georgia é "matéria de opinião" ou "discurso protegido pela Constituição"; ao mesmo tempo, declara que desiste de contestar, através de recursos judiciais — e apenas na actual fase do processo —, as acusações específicas que são feitas pelas queixosas.

A distinção entre "admissão de culpa" e "desistência de oposição" foi sublinhada por um conselheiro de Giuliani, Ted Goodman, citado pelo site Politico: "Rudy Giuliani não admitiu que as suas declarações são falsas; o que ele fez foi deixar de contestar a acusação, nesta fase do processo, para que o caso chegue mais rapidamente à próxima fase, onde poderemos apresentar os nossos argumentos."

O processo estava parado numa fase anterior ao início do julgamento, em que as duas partes podem pedir acesso a provas de ambos os lados.

As duas queixosas — Ruby Freeman e Shaye Moss — exigiam a Giuliani que cedesse ao tribunal documentos que provariam, segundo a defesa, que o advogado sabia estar a mentir quando as acusou de manipulação de boletins de voto.

Ao deixar cair a sua oposição ao pedido das queixosas — com o argumento de que os documentos requeridos pela defesa foram destruídos pelo FBI após a apreensão do seu telemóvel —, Giuliani antecipa o início da próxima fase do processo, segundo os seus advogados.

Não é claro se a declaração assinada por Giuliani será interpretada pelo tribunal, a partir de agora, como uma admissão de culpa que será tida em conta noutras fases do processo, ou se os argumentos dos advogados do antigo presidente da câmara de Nova Iorque irão prevalecer.

Perseguidas e ameaçadas

Freeman e Moss, mãe e filha, trabalharam nas mesas de voto em Fulton, na Georgia, nas eleições de 2020. Logo nessa altura, Giuliani e o então Presidente dos EUA, Donald Trump, promoveram um vídeo partilhado nas redes sociais em que Freeman era acusada de manipular dezenas de milhares de boletins de voto a favor de Biden.

Várias auditorias, incluindo uma investigação iniciada em Janeiro de 2021 e concluída em Junho passado — e que contou com a participação da polícia de investigação criminal da Georgia —, ilibaram Freeman e Moss de qualquer suspeita relacionada com fraude eleitoral. Essas investigações concluíram que o vídeo partilhado por Trump tinha sido editado de forma a fazer crer que Freeman estaria a manipular a votação.

Apesar dos vários desmentidos, as duas mulheres foram perseguidas e ameaçadas de morte nos últimos dois anos e meio. Segundo os testemunhos de ambas na comissão de inquérito da Câmara dos Representantes dos EUA sobre a invasão do Capitólio, Freeman teve de mudar de residência e passou a receber protecção policial.

"Perdi o meu nome e a minha reputação", disse Freeman perante a comissão de inquérito, no Verão de 2022. "Sabem o que é ser um alvo do Presidente dos Estados Unidos?"

Numa conversa telefónica, no início de Janeiro de 2021, em que Trump pressionou o responsável pela certificação dos resultados na Georgia a "encontrar" 11.780 votos a seu favor — mais um do que os 11.779 que o separavam de Biden na contagem final —, o nome de Freeman foi referido 18 vezes pelo então Presidente dos EUA.

No telefonema, cuja gravação veio a público pouco depois, Trump e algumas figuras do seu círculo na Casa Branca — incluindo o então chefe de gabinete, Mark Meadows — insistiram com o secretário de estado da Georgia, Brad Raffensperger, para que o resultado da eleição fosse alterado.

Com o argumento de que era "impossível" ter perdido a eleição na Georgia, e apresentando como provas dessa certeza a dimensão da assistência nos seus comícios no estado e uma contagem parcial de votos feita a partir do vídeo adulterado pelos seus apoiantes — "com recurso à câmara lenta" —, o então Presidente dos EUA instou Raffensperger a anular a certificação dos votos.

Durante a conversa com o secretário de estado da Georgia — que nunca cedeu às pressões de Trump, e que seria reeleito em 2022 —, Trump referiu-se a Freeman como "uma conhecida burlona" que "devia estar na cadeia".

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