Feijóo com os dias contados, mas Ayuso garante que não vai avançar para a liderança
Presidente da Comunidade de Madrid, cujo nome foi gritado durante o discurso do líder do PP na noite eleitoral, diz que recebeu mensagens para avançar, mas não as está a abrir.
Enquanto Alberto Núñez Feijóo busca afincadamente encontrar uma quadratura para o círculo que foram os resultados do Partido Popular na noite eleitoral de domingo, Isabel Díaz Ayuso veio a público garantir que não vai avançar, pelo menos para já, para disputar a liderança ao político galego que falhou o objectivo de levar a direita ao poder.
“O presidente Feijóo conta com o apoio absoluto do PP de Madrid e da organização nacional inteira”, disse Ayuso em conferência de imprensa na capital espanhola. Uma frase destinada a acalmar os rumores de que a referência da ala mais à direita do partido estaria a preparar-se para destronar Feijóo, mas que dificilmente mudará os vaticínios de que a vida política nacional do actual líder está por um fio.
Esperanza Aguirre, antiga ministra da Educação, que foi presidente do Senado e da Comunidade de Madrid, é a voz que expôs publicamente o que muitos dentro do partido desejam, que Feijóo reconheça o seu fracasso (apesar do PP ter passado de 89 para 136 deputados, o número não lhe chega para governar) e que Ayuso dê o passo em frente e inclua no seu discurso toda a direita, inclusivamente os eleitores do Vox, no extremo desse espectro político.
“A estratégia do PP foi a que Aznar decidiu quando chegou. Todo aquele que esteja à direita do PSOE tem que se sentir bem no Partido Popular, liberais, democratas-cristãos e até sociais-democratas”, afirmou Aguirre num colóquio organizado pelo jornal digital espanhol The Objective.
Esta quarta-feira, agradecendo o apoio de Esperanza Aguirre, e os gritos na noite de domingo, Ayuso descartou, no entanto, seguir a onda. “Não pode ser que à quinta-feira estejamos com Feijóo, a apoiá-lo, e na terça-feira o atiremos de uma ponte”, disse. “Não somos assim, não somos podemitas”, acrescentou, referindo-se aos apoiantes do partido Podemos, actual parceiro de coligação do Governo do socialista Pedro Sánchez.
Uma afirmação ousada da política madrilena, tendo em conta que, como bem lembra o El País, foi exactamente o que fez, quando em Fevereiro do ano passado se rebelou contra o então líder Pablo Casado, levando à sua queda.
Na conferência de imprensa, Ayuso admitiu que tem recebido mensagens a instigá-la a avançar para a liderança, mas que “nem as abro”, e falou como dado adquirido que Sánchez continuará a ser líder do Governo e, que, para isso, “já tem um pacto [com Carles Puigdemont] para vender a nossa nação em duas semanas” e um acordo com a esquerda independentista basca “para fazer de Otegi lehendakari [presidente do governo do País Basco]”.
“É meu dever alertar que Pedro Sánchez vai aproveitar estes dias de Agosto, com a Espanha de férias, para assegurar o poder a todo o custo e fechar os seus pactos nas costas dos espanhóis”, garantiu Ayuso.
Entretanto, é possível que o resultado dos votos dos espanhóis no exterior possa ainda mudar o resultado eleitoral de domingo e de forma substancial. São mais de 2,3 milhões, no entanto, não se sabe ainda quantos deles exerceram o seu direito de voto e só se saberá na sexta-feira quando forem contabilizados os votos.
Desde 2011 que o número de eleitores que exercem esse direito não supera os 150 mil, no entanto, a lei mudou em 2022 e o processo de votação nas embaixadas e consulados foi simplificado o que poderá ter aumentado a afluência às urnas.
Em Madrid, o PP está 1700 votos de arrebatar um deputado aos socialistas e há 375.602 eleitores madrilenos a residir no estrangeiro; em Tarragona, o PSOE só precisa de 1300 votos para roubar um deputado ao Junts, de Puigdemont; e em Málaga, a diferença dos socialistas para os populares é de pouco mais de três mil votos.