Aos 30 anos, ex-assessora de Boris Johnson tomou posse na Câmara dos Lordes
Nomeada pelo ex-primeiro-ministro britânico, Owen é a mais jovem de sempre a obter um lugar vitalício na câmara alta do Parlamento. Dúvidas sobre o seu papel no Governo geram críticas na oposição.
Baronesa Owen de Alderley Edge. É este o novo título de Charlotte Owen, ex-assessora do antigo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, depois de ter tomado posse na Câmara dos Lordes nesta segunda-feira.
Aos 30 anos de idade – feitos em Maio – e excluindo quem recebeu lugares hereditários, Owen torna-se a mais jovem de sempre a obter um lugar vitalício na câmara alta do Parlamento do Reino Unido. A média de idades na Câmara dos Lordes, sublinhe-se, é de 71 anos.
Owen chega a este cargo após ter sido nomeada por Johnson, ao abrigo da lista a que os ex-primeiros-ministros britânicos têm direito quando deixam Downing Street e na qual, autorizados pelo primeiro-ministro em funções (Rishi Sunak), pedem ao monarca (Carlos III) a atribuição de lugares na Câmara dos Lordes ou outro tipo de títulos e condecorações para personalidades à sua escolha.
Os sete nomes incluídos na lista do antigo chefe de Governo conservador – que abandonou o cargo em Setembro do ano passado, após perder a confiança do seu executivo, em Julho, por causa da gestão errática de vários escândalos políticos, incluindo o das festas durante a pandemia – para a Câmara dos Lordes surpreendem não só pela idade, mas principalmente por não lhes ser conhecido um papel de destaque ou de primeiro plano no desempenho das suas funções.
Para além de Owen, a lista inclui outros dois ex-assessores, Ben Gascoigne (40 anos) e Ross Kempsell (31), assim como o presidente da câmara de Tees Valley, Ben Houchen (36) ou o deputado municipal e ex-candidato à câmara de Londres, Shaun Bailey (52).
Aquando da apresentação da sua proposta de abolição da “antidemocrática” Câmara dos Lordes – que tem, actualmente, mais de 700 membros, funções de fiscalização e competência para fazer emendas às propostas de lei da Câmara dos Comuns – o Partido Trabalhista, na oposição, acusou o Partido Conservador, e, concretamente, Boris Johnson, de aproveitamento do sistema de nomeações para encher a câmara de “lacaios e doadores” tories.
Os Liberais-Democratas acrescentaram ainda que a circunstância de o antigo primeiro-ministro ter sido acusado por uma comissão parlamentar de ter “enganado deliberadamente” os deputados durante o escândalo do “Partygate” e de ter denunciado uma “caça às bruxas” no Parlamento contra si nem sequer lhe devia dar o direito a atribuir cargos ou condecorações.
“Só o facto de Boris Johnson ter sido autorizado a ter uma lista de honras é uma vergonha, depois das suas mentiras e violações da lei. Os seus ataques recentes à democracia parlamentar são a derradeira de que nem sequer devia poder andar a distribuir medalhas”, atirou a deputada Christine Jardine.
A nomeação de Owen foi uma das mais criticadas pelos opositores do antigo primeiro-ministro. Disponível no LinkedIn, o currículo da agora baronesa, que se formou em Política e Relações Internacionais em 2015, refere que trabalhou brevemente numa empresa e que foi assessora de alguns deputados conservadores, antes de estagiar no Ministério dos Negócios Estrangeiros quando Johnson era o ministro responsável pela pasta da Diplomacia.
Ainda que, segundo o Guardian, o seu nome não venha referido na lista oficial de special advisers do Governo publicada em Junho de 2021, Owen informa que assumiu esse cargo entre Fevereiro de 2021 e Outubro de 2022, neste último mês já com Liz Truss como primeira-ministra.
As suas funções não são muito claras, mas o deputado conservador James Duddridge garantiu à BBC que a ex-assessora foi “vital para as operações” no n.º10 de Downing Street.
“Ela fazia a ligação entre o primeiro-ministro e todo o grupo parlamentar. Marcava reuniões, fornecia informações a Boris para, apenas 20 segundos antes de este entrar numa reunião, perceber sobre o que é que era essa reunião”, explicou.
Não ocupando nenhum cargo no Governo, um membro da Câmara dos Lordes não recebe qualquer salário. Tem, no entanto, direito a receber 342 libras (quase 400 euros) por cada dia que participa numa sessão na câmara, para cobrir despesas (deslocação, alojamento, alimentação, etc.)