Dezenas de gatos mortos na Polónia com gripe das aves reforça expansão do vírus

A dimensão que atingiu a transmissão do vírus da gripe aviária para gatos na Polónia e a dispersão geográfica dos casos preocupam as autoridades de saúde.

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Não é a primeira vez que os gatos são infectados pelo vírus da gripe das aves KUBA STEZYCKI/Reuters
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A morte de 34 gatos na Polónia com teste positivo para o vírus da gripe das aves – do subtipo H5N1–, depois de um surto detectado no último mês, coloca novamente a Organização Mundial da Saúde (OMS) em alerta face à expansão do vírus para mamíferos. Não é a primeira vez que é detectada gripe das aves em gatos, mas o número de gatos afectados e a sua dispersão pelo país são novos, como indica o jornal espanhol El País.

Para já, como nos outros casos que têm sido relatados de infecção de mamíferos com o vírus da gripe das aves, ainda não há nenhum caso identificado de transmissão do vírus entre gatos – tal como não há conhecimento de saltos entre mamíferos. O aumento de casos identificados deste vírus na Europa tem sido notório: desde Outubro de 2021, houve quase o dobro de aves infectadas face aos cinco anos anteriores, para os quais há registos da Autoridade Europeia de Segurança Alimentar.

“É a primeira vez que aparecem casos simultâneos em mamíferos situados em zonas distantes entre si, o que contrasta com o que observámos até agora, ou seja, surtos em animais concentrados em quintas ou espaços naturais que permitiam suspeitar de uma fonte de contágio comum”, explica Inmaculada Casas, directora da OMS para a vigilância da gripe em Espanha, em declarações ao El País.

A dispersão de casos identificados nestes gatos não torna mais fácil a transmissão para humanos, mas a OMS defende uma maior atenção aos casos identificados em animais e às possíveis fontes de transmissão. Até ao momento, nenhum dono dos animais infectados foi contaminado com o vírus da gripe das aves – o risco de transmissão para a população continua a ser baixo, para a OMS.

Uma nova variante do vírus

Ao contrário de outros casos registados em mamíferos, nos gatos da Polónia a variante identificada do vírus é a 2.3.4.4b. É uma variante conhecida, já que desde 2021 que se tornou mais contagiosa e tem sido uma das mais detectadas no vírus da gripe das aves, já que está muito presente nas aves migratórias, como destaca o especialista da OMS Richard Webby, num estudo publicado na revista Nature. Esta variante já foi identificada em focas mortas na Escócia ou cães de uma quinta italiana, além dos milhares de mamíferos marinhos na América do Sul.

Apesar de não haver, até agora, um alarme com a transmissão entre mamíferos ou para humanos, há preocupações com a possível evolução do vírus. “À medida que mais e mais aves e mamíferos se infectam, há mais oportunidades para que o vírus evolua. Até agora não há provas de que o vírus circule de forma estável entre nenhum mamífero, mas se isso acontecer, a ameaça para a saúde pública aumenta”, explica Tim Uyeki, dos Centros de Controlo e Prevenção das Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês), também ao El País.

A transmissão para humanos tem sido bastante escassa, neste caso. Apenas uma dezena de pessoas em todo o mundo foi infectada com esta variante 2.3.4.4b e, destas, apenas duas tiveram doença grave – algo que mostra que o vírus não está adaptado ao ser humano.

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Os surtos de gripe aviária têm-se multiplicado em aves migratórias por todo o mundo, como é o caso da Noruega OYVIND ZAHL ARNTZEN/EPA

Para já, apenas uma criança de 11 anos morreu infectada no Camboja subtipo do vírus H5N1, mas de outra variante que não a 2.3.4.4b (nesse caso foi a variante 2.3.2.1c​). A OMS indica ainda que houve apenas cinco casos de infecção em 2022 por subtipo do vírus H5N1, aos quais se juntam dois já em 2023. Desde 2003, houve 868 casos identificados só com o subtipo H5N1, dos quais resultaram 457 mortes.

“O vírus da gripe das aves H5N1 existe e é motivo de preocupação há décadas devido à sua capacidade de infectar aves domésticas, aves selvagens, mamíferos e humanos”, reforçava Michelle Wille, investigadora especializada em gripe das Aves da Universidade de Sydney (Austrália), ao PÚBLICO, em Abril deste ano.

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