PSD, Chega e IL levam a Marcelo preocupação sobre comissão de inquérito à TAP

Partidos da oposição à direita traçam quadro negro sobre a situação política, um ano e meio depois de o Governo ter tomado posse. PS garante que actual maioria é de “diálogo”.

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Marcelo Rebelo de Sousa recebeu André Ventura e Bruno Nunes LUSA/MIGUEL A. LOPES
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Com o próximo Conselho de Estado na mira, que deverá realizar-se nesta sexta-feira, o dossier quente da TAP foi uma das preocupações levadas pelos líderes do PSD, do Chega e da Iniciativa Liberal ao Presidente da República nas audiências realizadas no âmbito dos contactos regulares de Marcelo Rebelo de Sousa com as forças políticas representadas no Parlamento.

Em jeito de balanço do primeiro ano e meio de Governo, Luís Montenegro traçou um quadro negativo, apontando a "falta de resultados da governação" e o incumprimento em casos como o da criação da direcção executiva do SNS e da utilização adequada do Plano de Recuperação e Resiliência. A TAP foi um dos temas abordados na reunião, assumiu o líder social-democrata, considerando que o relatório final da comissão de inquérito "é um texto que não tem valor nenhum, é faccioso e sectário".

Em declarações aos jornalistas, Luís Montenegro reiterou que o PSD se constitui como "alternativa" ao Governo do PS. Ainda em Março passado, o Presidente discordava. Questionado sobre se já conseguiu convencer Marcelo de que o PSD é alternativa política ao Governo PS, o líder social-democrata não quis revelar a opinião do chefe de Estado, mas assumiu ter tentado: "Demos fundadas razões para que ele, como de resto já acontece com muitos portugueses, possa confiar que Portugal tem uma grande alternativa política diante de si que é liderada pelo PSD."

Por seu turno, o líder do Chega defendeu que o caso da TAP deveria ser discutida no próximo Conselho de Estado, considerando estar em causa “o estado da democracia ou a falta dela” em todo o “processo da comissão parlamentar de inquérito à TAP”.

André Ventura criticou a “vergonhosa actuação do PS” na elaboração do relatório da comissão de inquérito à TAP e considerou que, ao “ilibar o Governo” mesmo quando os ministros assumem "responsabilidade pessoal", mostrou “um tipo de atitude, que é de desprezo pela democracia parlamentar”.

Sem adiantar a posição assumida pelo Presidente durante a reunião, Ventura referiu que Marcelo não deixará de notar a mesma preocupação “no seu tempo e no seu modo”.

Depois da IL, André Ventura foi o segundo partido a ser recebido na tarde desta segunda-feira pelo Presidente. Ao sair da audiência, o líder do Chega apercebeu-se de que se iria cruzar com o presidente do PSD, Luís Montenegro, colocando-se em posição para falar aos jornalistas na sala das bicas, sem aceitar a sugestão das assessorias de Belém para esperar numa outra sala. Por seu turno, o líder social-democrata foi avisado de que teria de passar atrás de Ventura, e em frente às câmaras de televisão, e voltou para trás (assim como a restante delegação do partido), tendo esperado no carro até Ventura sair do Palácio de Belém.

Antes, o líder da IL também assumiu que o dossier da TAP foi “obviamente abordado” na audiência, salientando a “divergência evidente entre o relatório que o grupo parlamentar do PS aprovou e o que foi vivido pela comissão de inquérito à TAP”. Rui Rocha mostrou também preocupação com a operação de privatização da companhia. Sem revelar o teor da conversa com Marcelo, o líder da IL disse ter conseguido “perceber a preocupação do Presidente” em torno da TAP.

Rui Rocha disse ainda ter dado nota da preocupação do partido sobre a situação do país, salientando que houve uma evolução. “Se há um ano falávamos da estagnação do país, hoje falamos de degradação do poder de compra, das instituições e dos serviços públicos”, afirmou, reiterando aquela que tem sido a posição do partido: “Este Governo já não tem condições para reverter a situação do país.”

Os dois líderes partidários convergiram na ideia de que o Governo já não tem condições para continuar em funções. André Ventura aproveitou para voltar a anunciar a apresentação de uma moção de censura ao executivo no início da próxima sessão legislativa, que se inicia a 15 de Setembro. Em Abril passado, o Chega tinha desafiado o PSD a avançar com uma moção de censura ao Governo e, caso os sociais-democratas não o fizessem, comprometeu-se em dar entrada à iniciativa na nova sessão legislativa, já que não pode repeti-la na mesma sessão.

Em contraste com as audiências aos partidos da oposição, o secretário-geral adjunto do PS assumiu que os socialistas encaram "com optimismo e confiança o presente e o futuro do país, considerando que a actual maioria é de "diálogo". Já a oposição "não tem estado à altura das suas responsabilidades, é incapaz de reconhecer mérito ou boa notícia para o país mesmo num contexto difícil e falha a sua missão de se constituir como alternativa", acusou João Torres.

Notícia actualizada com declarações dos líderes dos partidos e do secretário-geral adjunto do PS

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