PSD acusa António Costa de vitimização para “desviar as atenções”

O líder da IL refere que o primeiro-ministro trouxe para o Governo pessoas “directamente ligadas a José Sócrates”. Chega sustenta que o “remendo” não resultou.

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Rui Rocha considerou que Costa não defende a transparência desde que foi presidente da câmara de Lisboa LUSA/Pedro Sarmento Costa

O vice-presidente do PSD Miguel Pinto Luz acusou, este domingo, o primeiro-ministro de vitimização e “golpe mediático” para “desviar as atenções” com o artigo no jornal Observador, considerando que o PS perdeu a capacidade de atrair “os melhores quadros”.

“Não se tratou de um artigo de opinião, tratou-se de uma tentativa de desviar as atenções, num processo de vitimização a que já estamos habituados, de tentar dizer que estão a tentar acusá-lo de que ele não valoriza o fenómeno da corrupção em Portugal, quando não é isso que está em causa”, defendeu Miguel Pinto Luz, em declarações à agência Lusa.

O dirigente social-democrata reagia ao artigo de opinião publicado, no sábado, pelo primeiro-ministro no jornal Observador, no qual António Costa afirmou que não desvaloriza a corrupção, e que o tem demonstrado no seu percurso político “sem retórica e com acção”, acusando os críticos de construírem “uma mentira”.

Para Miguel Pinto Luz, “o PS hoje, pouco mais de um ano depois de ter tido maioria absoluta, não é capaz de convocar a sociedade civil, os melhores quadros, os melhores talentos para fazerem parte do seu governo”, algo que considerou ser “sinalizador de um fim de linha” do executivo.

“O que foi dito por todos os partidos e pelo PSD sucessivas vezes, foi que este silencio ensurdecedor de quase uma semana, de o primeiro-ministro não ter tido opinião formada e pública daquilo que hoje sabemos que é a 13.ª demissão num Governo, que já mostra sinais de pouca capacidade gestionária, de pouca capacidade convocar os melhores da sociedade para fazer parte do seu elenco, denota que António Costa se quer esconder”, considerou.

O social-democrata referia-se à demissão do antigo secretário de Estado da Defesa Nacional Marco Capitão Ferreira, que na semana passada foi constituído arguido na operação Tempestade Perfeita.

Para o PSD, António Costa fez “mais um golpe mediático, comunicacional, de dizer que o estão a tentar acusar de não ter sensibilidade para o fenómeno da corrupção”.

“Ninguém diz isso, sabemos que todos os políticos, que a sociedade em geral, tem profunda preocupação com o fenómeno da corrupção. (…) Mas não é disso que estamos a falar: o que estamos a falar é que António Costa objectivamente não quis falar sobre um assunto, e este assunto em particular, nomeadamente da demissão do secretário de Estado da Defesa”, salientou.

IL: “Não defende a transparência”

Por sua vez, o líder da Iniciativa Liberal, Rui Rocha, defendeu que o primeiro-ministro não defende a transparência nem combate a corrupção, considerando que tal acontece desde que António Costa era presidente da autarquia de Lisboa.

“Os factos são estes: António Costa não defende a transparência, António Costa não combate a corrupção, e isso é verdade enquanto presidente da Câmara Municipal de Lisboa, e agora na sua função governativa”, defendeu Rui Rocha, em declarações à Lusa e RTP, em Braga.

O líder liberal ironizou dizendo que prefere “ter uma raposa a guardar um galinheiro do que António Costa a cuidar da transparência”.

Na opinião do presidente da Iniciativa Liberal, António Costa “tem muitas explicações a dar em matéria de transparência, de corrupção, e não é seguramente uma pessoa que tenha assegurado que o país esteja melhor nesta altura em matéria de transparência e de corrupção”.

Recuando aos tempos em que o chefe do executivo liderou a autarquia da capital do país, Rocha apontou que Costa “andou durante dois anos e meio a tentar impedir que um relatório sobre obras públicas fosse conhecido, apelou mesmo ao Tribunal Constitucional que depois não lhe deu razão, obviamente”.

O líder da IL argumentou também que Costa “trouxe para os seus sucessivos governos um conjunto de pessoas ligadas directamente a José Sócrates, muitas delas que tiveram participação na opinião pública no sentido de intoxicar a opinião pública em favor de José Sócrates”, enumerando ministros como Mariana Vieira da Silva, Pedro Adão e Silva e João Galamba.

Para o líder da IL, o ex-secretário de Estado da Defesa Marco Capitão Ferreira e João Gomes Cravinho, actual ministro dos Negócios Estrangeiros, “são pessoas que não deveriam ter entrado neste Governo”.

PAN: “Não tem posto em marcha”

Em reacção ao artigo, a porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, considerou que o primeiro-ministro “não tem posto em marcha” algumas medidas de combate à corrupção, defendendo que os portugueses “estão preocupados” com este fenómeno.

Em declarações à agência Lusa, Inês Sousa Real sublinhou a importância das acções, lembrando o caso da Entidade para a Transparência, a quem compete fiscalizar os cargos políticos, e que não tem “nem água e luz” para o seu funcionamento.

“É importante para o PAN que haja aqui medidas de combate à corrupção que o primeiro-ministro não tem posto em marcha”, defendeu a líder do partido. “E, portanto, quando o primeiro-ministro vem dizer no seu artigo que tem actuado para garantir os mecanismos de combate à corrupção no nosso país, e que de alguma forma tem procurado dar resposta a essas problemáticas, a verdade é que no nosso entender não tem sido feito o suficiente para garantir os meios, por um lado, para termos em funcionamento a entidade para a transparência”, sustentou.

Chega diz que houve tentativa de "maquilhagem"

Para a deputada do Chega, Rita Matias, o que o primeiro-ministro fez com o artigo em causa foi “tentar maquilhar e remendar o que disse”, mas sem sucesso. “António Costa tenta remediar o que teria dito, mas ao ler o próprio artigo, que é uma transcrição [das suas declarações], vemos que é uma desvalorização da corrupção”, disse esta tarde em declarações à RTP3.

A deputada considerou que o chefe de Governo deveria ter feito uma "auto crítica" já que "errou muito nas escolhas" que fez para o executivo. Ao mesmo tempo, Rita Matias assumiu que o Governo reforçou os meios da Polícia Judiciária e lamentou que os partidos reagissem negativamente à operação de buscas realizadas esta semana ao ex-líder do PSD e a sedes do partido por causa de alegado uso indevido de fundos públicos.