Esquerda foi a Belém acusar o Governo de “autoritarismo” e pedir “mais diálogo”

Paulo Raimundo condenou Governo por “usar a maioria absoluta como poder absoluto” e Mariana Mortágua acusou o Governo de “autoritarismo”.

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As audiências do Presidente aos partidos decorrem um dia depois da votação do relatório da comissão de inquérito à TAP Rui Gaudencio
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Ouvidos pelo Presidente da República, em Belém, esta sexta-feira, sobre a sessão legislativa que chega agora ao fim e a situação do país, os partidos da esquerda parlamentar acusam o Governo de estar fechado em si próprio e de ser autoritário, pedindo uma maioria absoluta mais dialogante que dê respostas aos problemas das pessoas.

Em declarações aos jornalistas após a audiência, o secretário-geral do PCP acusou o Governo de "usar a maioria absoluta como poder absoluto", ainda que faça "esta ou aquela operação de simulação de diálogo". "Nas questões de fundo, [o executivo] reflecte, decide e implementa. O problema com que estamos confrontados é que é acompanhado no fundamental por PSD, Chega e IL", atirou.

Paulo Raimundo diz ter tentando passar duas mensagens a Marcelo Rebelo de Sousa. Primeiro, que o país enfrenta uma "densidade dos problemas com o aumento do custo de vida", em "contraste com o país dos números e das estatísticas", onde "tudo está a correr bem para um punhado de gente".

E, em segundo lugar, que "o país não está condenado a este rumo", sendo precisa uma "nova política", que "rompa com o caminho de empobrecimento generalizado" que corresponde "aos interesses dos grupos económicos". Isto, através do "aumento dos salários", do "investimento nos serviços públicos" e pondo "os lucros da banca a pagar o aumento das taxas de juro".

Já a coordenadora do Bloco de Esquerda acusou o Governo de "deriva autoritária" por tentar "apagar as exigências de transparência e escrutínio e a actividade do Parlamento na comissão de inquérito" à TAP a fim de "ocultar a falta de resposta que tem dado ao país".

Mariana Mortágua criticou, em particular, o ministro da Administração Interna por "tentar interferir com a RTP" em relação ao cartoon sobre racismo na polícia, o primeiro-ministro por ter afirmado que "os portugueses não querem saber da corrupção" apesar das suspeitas no Ministério da Defesa, e o ministro das Infra-Estruturas pelos "episódios rocambolescos" de 26 de Abril e a sua "actuação na gestão da TAP".

Segundo a líder bloquista, o Governo "enxovalhou os deputados" por ter "omitido" do relatório da comissão de inquérito os episódios que envolvem João Galamba. Relatório esse que considera ser "inútil" porque "apaga uma parte da história" e "tem uma única preocupação, que é ilibar o Governo".

Questionada pelos jornalistas sobre se antevê uma crise política, a coordenadora do BE afirmou que "a questão é a instabilidade da vida das pessoas" devido aos problemas do "empobrecimento", da "habitação", da "educação" e da "saúde". "O que temos de exigir ao Governo é que faça o seu trabalho e governe, em vez de encontrar expedientes perante a sua incapacidade, incompetência ou falta de vontade, que acabam por ter tiques de autoritarismo", declarou.

PAN pede Presidente "vigilante" e Livre "convergência à esquerda"

A deputada única do PAN, Inês Sousa Real, defendeu que o primeiro-ministro tem de "arrumar a casa" para evitar os "casos e casinhos", assim como aumentar o "diálogo" com a oposição "democrática" para concretizar "reformas estruturais". Já ao Presidente, pediu que se mantenha "vigilante" e "acompanhe com atenção esta instabilidade" para o "populismo" não "sair a ganhar".

Considerando que existe uma "clara degradação das condições de trabalho entre órgãos de soberania”, Rui Tavares, deputado único do Livre, acusou o Governo de estar "muito longe de cumprir" a promessa da "maioria absoluta dialogante" e apelou a uma "reforma da convergência à esquerda".​

Questionado sobre uma eventual dissolução do Parlamento, o porta-voz do Livre afirmou que esse cenário está "na mão do Governo" e que, se o executivo "governar de forma dialogante" com os partidos, "evitaremos uma crise política" e uma "maioria de direita com a extrema-direita".

Marcelo Rebelo de Sousa esteve nesta sexta-feira no Palácio de Belém a ouvir os partidos da oposição de esquerda com assento parlamentar para fazer um "balanço da sessão legislativa" e da "situação económica, social e política" do país, antes do debate do estado da nação da próxima quinta-feira. Na segunda-feira, seguem-se a Iniciativa Liberal, o Chega, o PSD e o PS. O Presidente deverá ainda reunir o Conselho de Estado na próxima sexta-feira.

Notícia actualizada com novo título e as declarações de Paulo Raimundo

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