Putin diz que Prigozhin recusou integrar mercenários nas fileiras do Exército

Declarações do Presidente russo parecem fazer parte de campanha para “desacreditar Prigozhin” junto da opinião pública. Kremlin não confirma prolongamento do acordo de cereais, anunciado por Ancara.

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Putin fala a dois jornalistas, um deles do jornal Kommersant SPUTNIK/Reuters
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O destino dos mercenários do grupo Wagner e do seu líder continua a suscitar debate dentro e fora da Rússia, três semanas depois de uma rebelião abortada que foi também a última ocasião em que Yevgeny Prigozhin apareceu em público. Depois de o Kremlin ter anunciado que o patrão e 35 comandantes da empresa paramilitar se tinham reunido com Vladimir Putin cinco dias depois do motim, o Presidente russo pronunciou-se pela primeira vez sobre esse encontro, afirmando que propôs a integração do grupo como unidade nas Forças Armadas, mas que Prigozhin foi contra.

“Eles podiam ter-se mantido juntos a prestar serviço e nada teria mudado para eles”, disse Putin ao ao jornal russo Kommersant durante uma visita a um fórum tecnológico. “Muitos deles acenaram [em concordância] quando eu disse isto, mas Prigozhin, que estava sentado à frente e não viu isso, respondeu: ‘Não, os rapazes não concordam com a decisão’”, relatou o Presidente russo. A condição para que os mercenários integrassem as fileiras do Exército regular era de que fossem liderados por um comandante conhecido pela alcunha “Sedoi”, que, segundo Putin, é “a pessoa que tem sido o seu real comandante”.

Steve Rosenberg, correspondente da BBC em Moscovo, comenta que “seja verdade ou não” a história contada por Putin, “parece que o Kremlin quer diferenciar Prigozhin dos soldados do Wagner” e que “isso explicaria as tentativas de desacreditar Prigozhin nos meios de comunicação estatais.”

Para Putin, “a empresa militar privada Wagner não existe” porque “simplesmente não existe uma lei sobre organizações militares privadas”, o que deixa os seus membros num limbo jurídico. O porta-voz presidencial, Dmitri Peskov, disse já esta sexta-feira que “é preciso estudar e examinar” a eventual legalização de grupos paramilitares no Parlamento russo, mas replicou as palavras de Putin, para quem esta “é uma questão muito complexa”.

Ainda com Prigozhin em parte incerta, um meio de comunicação da Bielorrússia divulgou imagens do que diz serem combatentes do Wagner a dar formação a militares daquele país. “Os soldados aprendem a deslocar-se no campo de batalha, a disparar, a gerir a logística e a prestar primeiros socorros”, diz a jornalista da VoenTV, que publicou um vídeo com treinos militares no Youtube.

No entanto, um responsável militar ucraniano afirmou que não tem informações sobre a presença de mercenários em território bielorrusso e até disse que já praticamente não há soldados russos junto à fronteira com a Ucrânia. “Até recentemente, estimávamos que fossem uns 2000, mas houve uma nova rotação e a quase totalidade do pessoal russo foi retirado”, segundo Andrii Demchenko, porta-voz da guarda fronteiriça.

O desaparecimento de Prigozhin da esfera pública – que não é caso único depois da rebelião abortada – até motivou uma piada do Presidente americano. “Se eu fosse a ele, teria cuidado com o que comia. Ficaria muito atento à ementa”, disse Joe Biden no fim da cimeira nórdica, na quinta-feira em Helsínquia. “Mas fora de brincadeiras, nenhum de nós sabe com certeza que futuro terá Prigozhin na Rússia.”

Incerteza nos cereais

No longo artigo do Kommersant, que relata detalhadamente a visita de Vladimir Putin à feira tecnológica, o Presidente russo é citado a dar extensas explicações sobre o acordo para a exportação de cereais ucranianos. A sua principal queixa é a de que um outro acordo, que foi assinado no mesmo dia na Turquia, e que contemplava fertilizantes e produtos agrícolas russos, continua por cumprir.

“Nada, e quero enfatizar isto, nada foi feito!”, indignou-se Putin a dado ponto, declarando mesmo que “já chega” e dando a entender que vai abandonar o acordo (já o fez uma vez, mas regressou pouco depois). “Vamos pensar no assunto – ainda temos uns dias, vamos pensar no que fazer”, acrescentou.

Esta sexta-feira, o Presidente turco chegou a anunciar a extensão do acordo de cereais, que tem em Ancara um dos principais mediadores. “Estamos a preparar-nos para receber o sr. Putin em Agosto e nós estamos de acordo sobre o prolongamento do corredor de cereais no mar Negro”, disse Recep Tayyip Erdogan.

Não passaria muito tempo, no entanto, até que o Kremlin fizesse saber que ainda nada está decidido. “Não fizemos qualquer declaração sobre este assunto”, disse Dmitri Peskov à agência noticiosa Interfax.

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