Londres arrisca surto de sarampo, avisam autoridades de saúde britânicas

A cobertura da vacinação contra o sarampo é a mais baixa numa década no Reino Unido. Epidemiologistas dizem que o risco de surtos de sarampo “é muito real” em Londres.

Foto
A OMS considera que a população está protegida quando a cobertura da vacinação contra o sarampo alcança os 95% KAROLY ARVAI
Ouça este artigo
00:00
03:56

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

Londres está em risco de ter um surto de sarampo, avisou a Agência de Segurança Sanitária do Reino Unido (UKHSA, na sigla em inglês). Uma análise deste organismo, divulgada esta sexta-feira, mostra que a capital britânica arrisca um surto com 40.000 a 160.000 casos da doença. Qual o motivo? As taxas de cobertura de vacinação contra o sarampo têm vindo a diminuir. Epidemiologistas dizem que “o risco é muito real”.

A análise da UKHSA agora divulgada baseou-se na cobertura histórica e actual da vacinação do sarampo no Reino Unido e em modelos matemáticos. Desta forma, concluiu-se que “o risco de uma epidemia de sarampo no Reino Unido é considerado baixo”, refere-se no comunicado da agência de saúde. Contudo, tendo em conta os níveis de cobertura actuais em Londres, pode ocorrer na cidade um surto que terá entre 40.000 e 160.000 casos.

“O risco em Londres deve-se sobretudo devido às baixas taxas de vacinação ao longo dos anos, que foram ainda mais agravadas pela pandemia de covid-19”, indica-se no comunicado.

Actualmente, a cobertura da vacinação do sarampo no Serviço Nacional de Saúde britânico é a mais baixa numa década. Neste momento, em Inglaterra, há 85% de crianças até aos cinco anos com as duas doses da vacina – as necessárias para a vacinação ser considerada completa. Em Londres, esse número desce para os 75%. Ora, a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que a população está protegida quando a cobertura alcança os 95%.

A análise também indica que há um “risco elevado” de casos ligados a viagens ao estrangeiro, que podem depois levar a surtos em populações com pessoas mais novas e comunidades menos vacinadas.

Um “risco muito real”

“A UKHSA está certa em estar preocupada com este assunto”, afirmou ao jornal britânico The Guardian Paul Hunter, epidemiologista da Universidade de East Anglia, no Reino Unido. O investigador diz que um surto poderia levar a “dezenas de mortes”. “O sarampo é um dos vírus mais infecciosos a infectar humanos. Cerca de duas em 1000 pessoas infectadas morrerão e o principal risco é para as crianças abaixo dos cinco anos, mas os adultos também podem ficar doentes.”

A epidemiologista Vanessa Saliba salienta também que o sarampo pode ser uma infecção bem séria e levar a complicações sobretudo em crianças mais novas, assim como a quem tem um sistema imunitário mais fraco. “Devido ao facto de a vacinação ter ficado aquém do ideal, há um risco muito real de acontecerem grandes surtos em Londres”, alerta a consultora da UKHSA.

Por isso, pede que as famílias façam algo que está ao seu alcance – e que é bem fácil – para evitar casos de sarampo: vacinar as crianças com as duas doses da vacina. Avisa ainda que é “importante que todas as pessoas estejam completamente vacinadas antes de viajarem para o estrangeiro este Verão”.

No início de 2022, depois de dois anos de pandemia, a OMS avisava que os casos tinham aumentado 80% no mundo entre Janeiro e Fevereiro desse ano. Só nesses dois meses tinham sido diagnosticados 18.000 casos – quase o dobro relativamente a 2021. Juntamente com a Unicef, a OMS alertava para o risco de propagação da doença e para a possibilidade de desencadear um surto global de sarampo. No final desse ano, a OMS alertava que 40 milhões de crianças no mundo estavam susceptíveis “à crescente ameaça” do sarampo. Esse aviso era feito com base nas crianças que não tinham a vacinação contra o sarampo completa.

O sarampo é uma doença altamente contagiosa causada por um vírus. Antes da introdução da vacina do sarampo nos anos 60, esta doença provocava 2,6 milhões de mortes por ano, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Só entre 2000 e 2021 a vacinação evitou a morte de 56 milhões de pessoas. Mesmo com a vacina, em 2021, estima-se que tenham morrido 128.000 pessoas com sarampo no mundo, sobretudo indivíduos que não estavam vacinados ou crianças vacinadas abaixo dos cinco anos.

Sugerir correcção
Comentar