Primeira transgénero a vencer concurso de beleza holandês denuncia discursos de ódio
A primeira mulher transgénero a ser coroada Miss Holanda viu o seu sucesso no concurso como um símbolo da abertura do seu país. Depois, foi bombardeada com uma corrente de ódio nas redes sociais.
Rikkie Valerie Kollé, de 22 anos — que venceu o Miss Holanda e tornou-se na segunda candidata transgénero a Miss Universo, depois da espanhola Angela Ponce, em 2018 —, denunciou o facto de se ter tornado alvo de discursos de ódio, depois de vencer o concurso quase centenário, na semana passada.
Rikkie, originária de Breda, no Sul dos Países Baixos, disse numa entrevista que estava a tentar concentrar-se no que é bom, em vez de nos comentários maldosos nas redes sociais. “Pensava que nos Países Baixos estávamos a aceitar bem..., mas os comentários de ódio mostram o outro lado da nossa sociedade. Espero que seja uma chamada de atenção”, disse à Reuters.
Algumas pessoas argumentaram que uma mulher transgénero não deveria ter sido autorizada a competir e, de acordo com Kollé, houve até ameaças de morte. “Vêem-nos como monstros e as minhas DM [mensagens directas] diárias estão cheias de pessoas a desejar a minha morte”, adiantou, citada pela Newsweek.
Mas, para lá da angústia que as mensagens lhe causam, vê na onda de ódio uma oportunidade: “Desejar-me a morte e dizer-me para me suicidar são coisas terríveis de se escrever, mas ao mesmo tempo só me estão a elevar porque tenho uma plataforma maior do que alguma vez poderia sonhar.”
Em 2001, os Países Baixos tornaram-se o primeiro país a legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo e, em 2014, aprovaram uma lei que facilitaria a auto-identificação das pessoas transgénero. Porém, acusa a agora Miss Holanda, a maioria dos avanços não saiu do papel, com os holandeses a terem dificuldade em acederam a cuidados de saúde de afirmação do género. “Quero fazer algo pela lista de espera dos cuidados de saúde para pessoas trans... As listas são muito, muito longas. E isso tem de mudar, porque as pessoas precisam de obter ajuda o mais rapidamente possível, porque é uma coisa necessária [para a sua saúde mental].”
No PÚBLICO, os comentários à notícia que dava conta da vitória de Rikkie Valerie Kollé foram limitados, tanto no site como no Facebook, depois de terem sido identificadas mensagem de ódio e que incentivavam à violência.