Estados Unidos sobem o tom face a Israel

Comunicado pedindo “respeito pelo direito de manifestação pacífico” seguiu-se a convite de Biden feito ao Presidente Isaac Herzog, e não ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

Foto
EUA pediram às autoridades israelitas que “protejam e respeitem o direito a manifestação pacífica” Reuters/AMMAR AWAD
Ouça este artigo
00:00
03:27

Os sinais de uma degradação na relação entre os Estados Unidos e Israel têm-se repetido ao longo dos últimos dias: houve uma recusa do Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em dizer quando faria um convite ao primeiro-ministro de Israel, um comunicado dos EUA pedindo a Israel que respeitasse o direito de reunião pacífica e uma entrevista do embaixador dos EUA em Israel, Tom Nides, dizendo que os EUA têm, como aliados de Israel, obrigação de dizer quando “as coisas estão a descarrilar”.

Um artigo de opinião do jornalista do diário norte-americano The New York Times Thomas Friedman falava mesmo em “reavaliação” da relação por parte da Administração de Joe Biden, algo que diplomatas dos dois países, citados sob anonimato, negaram. Mas o jornalista israelita especialista em diplomacia Barak Ravid comentava que, independentemente disso, há uma “erosão” na relação.

O capítulo actual começou com uma entrevista do Presidente Biden à CNN, em que Biden foi questionado pelo entrevistador Fareed Zakaria sobre “o que será preciso para Benjamin Netanyahu conseguir ser convidado para a Casa Branca”. Biden respondeu que, “primeiro, o Presidente vai fazer uma visita”, na próxima semana, e mencionou ainda “problemas” de Netanyahu na sua coligação.

O Presidente dos Estados Unidos considerou ainda que o actual Governo de Israel tem os “elementos mais extremistas” que já viu “desde o tempo de Golda Meir” e que ministros que dizem ‘​podemos ter colonatos onde quisermos’ são parte do problema”.

Os comentários foram feitos antes de o Parlamento levar a cabo a primeira aprovação (são precisas três) de uma lei que remove a possibilidade de o Supremo reverter leis e acções do Governo que violem o “padrão de razoabilidade” – e que na falta de salvaguardas na lei (Israel não tem uma Constituição) impedem abusos (um dos exemplos recentes foi a rejeição da nomeação para ministro de um líder condenado por corrupção e que, como parte de um acordo para evitar uma pena de prisão efectiva, prometera não voltar a ocupar cargos públicos).

A aprovação levou dezenas de milhares pessoas às ruas na terça-feira, em manifestações que encontraram uma acção mais musculada da polícia – isto aconteceu depois de o antigo comandante da polícia de Telavive ter feito uma declaração afastando-se devido ao que disse ser pressão política para repressão dos protestos com mais força. Havia imagens de manifestantes com sangue na cara, ou a serem empurrados para o chão.

Nesse dia, a embaixada dos Estados Unidos emitiu dois comunicados, um deles pedindo às autoridades israelitas que “protejam e respeitem o direito a manifestação pacífica” – uma declaração que, notava o Times of Israel, “não chegava a ir tão longe”, mas mostrava “semelhanças com algumas das respostas dos Estados Unidos a repressão a protestos por regimes autoritários pelo mundo”.

Finalmente, o embaixador dos Estados em Israel, Tom Nides, que já tinha pedido publicamente ao Governo de Netanyahu “pé no travão” na reforma judicial, voltou a dizer que era preciso “abrandar” e chegar a um acordo mais alargado para a reforma, numa entrevista ao diário Wall Street Journal em véspera de deixar o cargo no Estado hebraico.

Nides disse ainda que a aparente “intromissão” dos Estados Unidos era justificada: "Penso que a maioria dos israelitas quer que os Estados Unidos se envolvam nas suas questões. Isso implica, por vezes, um preço módico, que é comunicar quando achamos que as coisas estão descarrilar.”

De Israel, o ministro do Interior, Itamar Ben-Gvir, um dos visados pelo comentário de Biden sobre elementos extremistas, disse que Israel não era uma das estrelas da bandeira dos Estados Unidos. O ministro da Diáspora israelita, Amichai Chikli, acusou os Estados Unidos de “coordenar” com Yair Lapid e Ehud Barak (ambos da oposição e antigos chefes de Governo) as declarações da Casa Branca, “sempre que querem inflamar os protestos em Israel”.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários