O caso do ex-”melhor escanção de Espanha” que terá desviado 22.487 euros de vinho

Antigo escanção do Mugaritz, restaurante basco 2* Michelin, foi condenado a dois anos de prisão e a pagar indemnização: “Apropriação indevida”. Um caso de centenas de garrafas de vinho desaparecidas.

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O chef Andoni Aduriz do Mugaritz, numa passagem recente pelo Porto Anna Costa / PUBLICO
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Há mais de quatro anos que o caso andava nos tribunais e a resolução, que não necessariamente o fim do caso, foi conhecida há poucos dias: Guillermo Cruz, antigo chefe de sala e escanção do Mugaritz, entre 2012 e 2019, e eleito "melhor sommelier de Espanha" em 2014, foi condenado a dois anos de prisão por apropriação de várias garrafas de vinho do afamado restaurante basco, galardoado com duas estrelas Michelin.

O caso tem dado muito que falar desde que foi anunciada, na semana passada, a decisão do Tribunal de Gipuzkoa. Cruz ficou obrigado ao pagamento de uma indemnização de mais de 22 mil euros ao icónico restaurante liderado pelo chef Andoni Luis Aduriz, assim como de todas as custas do processo, soube-se na sexta-feira.

Segundo noticiava o El Mundo, os responsáveis pelo Mugaritz, localizado em Errenteria (na província de Gipuzkoa, País Basco), pediam um total de quatro anos e meio de prisão e o pagamento de 61.370 euros pela apropriação de várias garrafas de vinho de alta qualidade do restaurante, algumas delas vendidas a duas empresas. Já o Ministério Público tinha pedido dois anos e três meses de prisão e uma indemnização de 31.854 euros.

Durante o julgamento realizado em Janeiro, Cruz chegou a admitir ter vendido garrafas "a terceiros", mas afirmou serem suas e que "tudo era conhecido e consentido" pelos proprietários do restaurante, adianta o periódico espanhol. Segundo o testemunho, Cruz teria "o seu próprio nicho" na adega do espaço e comprado "mais de 200 garrafas" ao próprio restaurante "em dinheiro".

O tribunal, no entanto, considerou que o escanção "não estava autorizado a vender garrafas de vinho do restaurante em benefício próprio", cujas transacções foram registadas numa conta bancária "de sua propriedade exclusiva".

Contudo, não ficou comprovada a propriedade de todos os lotes, referindo-se a indemnização apenas às garrafas que o Mugaritz conseguiu demonstrar a titularidade através de facturas, no montante de 22.487 euros.

No início do ano, a agência EFE e destacava o La Vanguardia referiam que Cruz dava até como prova em sua defesa que enviava muitas das garrafas vendidas pelo serviço de entregas do restaurante, porque, precisamente "não tinha nada a esconder". Guillermo Cruz pode ainda recorrer da decisão perante o Tribunal Superior de Justiça do País Basco.

Porém, o réu não terá conseguido comprovar "documentalmente, nem de qualquer outra forma, que as garrafas de vinho que vendeu eram sua propriedade". No acórdão, resume o El Diario Vasco, Cruz apenas expôs oralmente que, quanto às garrafas, algumas "adquiriu ao próprio restaurante, pagando em dinheiro vivo", outras "comprou a terceiros", ou outras ainda "que lhe foram oferecidas como presentes devido à sua profissão" e "como pagamento [pelo restaurante] pelas conferências, cursos e palestras que dava como sommelier de reconhecido prestígio". Cruz também não conseguiu provar em tribunal que a sua venda de vinhos era "plenamente conhecida, aceite e consentida" pelo proprietário.

Para o chef Andoni Luis Aduriz, para já, "fez-se justiça", segundo disse à rádio SER. O célebre cozinheiro, acrescenta El Diario Vasco, não terá querido comentar muito mais, cansado deste "calvário judicial" iniciado em 2019.

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