Contra a Constituição, Bukele será novamente candidato a Presidente de El Salvador

O actual Presidente anunciou formalmente a sua recandidatura às eleições do próximo ano. Guerra contra o crime rende-lhe uma popularidade estratosférica.

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Bukele tem caminho aberto para se recandidatar a mais um mandato presidencial no próximo ano Reuters/JESSICA ORELLANA
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O Presidente de El Salvador, Nayib Bukele, cultivou nos últimos anos a imagem de um homem de acção a quem as habituais amarras impostas pela lei, pela economia ou pela política não põem em causa os seus objectivos. O próximo é voltar a ser candidato às eleições presidenciais do próximo ano, apesar de a Constituição do seu país proibi-lo.

O Novas Ideias, o partido de Bukele, apresentou este domingo a sua candidatura presidencial, desafiando todas as vozes que sublinham o carácter inconstitucional desta decisão. De acordo com vários juristas, há pelo menos quatro artigos da Constituição salvadorenha que são violados pela apresentação da candidatura a um segundo mandato presidencial consecutivo.

O passo dado pelo Presidente do país latino-americano não é surpreendente. Desde Setembro de 2021 que Bukele tem alimentado esta possibilidade, que ganhou força com um acórdão do Tribunal Constitucional, composto por juízes nomeados pelo chefe de Estado, que veiculou uma controversa interpretação da norma constitucional que proíbe a sucessão de mandatos. Para que Bukele possa ser novamente candidato terá apenas de renunciar seis meses antes do término do actual mandato.

Fica aberto o caminho para uma eternização do líder de 41 anos que, desde que chegou ao poder em 2019, se tornou num dos maiores exemplos de governação populista no continente americano. A sua principal façanha foi a promoção da sua imagem como um garante de lei e ordem, num país que vive assolado pelo crime organizado e pelo tráfico de droga.

Bukele lançou nos últimos anos uma ofensiva de grande envergadura contra as organizações criminosas, não olhando a meios ou sequer à letra da lei para conseguir projectar a imagem de um homem impiedoso contra o crime. Pelo menos 68 mil pessoas estão actualmente atrás das grades, o que equivale a cerca de 2% da população adulta de El Salvador.

No contexto deste encarceramento em massa, as forças policiais são acusadas por organizações de defesa dos direitos humanos de inúmeras violações, que incluem tortura, mortes sob custódia, agressões e falta de garantias processuais. Segundo a Human Rights Watch, até ao fim do ano passado havia mais de 1600 crianças e adolescentes presos.

A mão pesada de Bukele tem-lhe rendido dividendos eleitorais. Em 2021, o seu partido alcançou uma vitória em toda a linha nas eleições legislativas, dispondo de maioria absoluta na Assembleia. Os estudos de opinião atribuem-lhe uma popularidade em torno dos 80% e será com naturalidade o favorito para as eleições de 4 de Fevereiro do próximo ano.

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