Pinkwashing: unidas como as uvas estão no cacho

O pinkwashing é uma estratégia usada por alguns Governos, empresas e instituições que, apresentando-se como defensores dos direitos LGBTQIA+, o fazem com o propósito de distrair a atenção.

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Megafone: Pinkwashing: unidas como as uvas estão no cacho Reuters/MINWOO PARK
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O pinkwashing é uma estratégia usada por alguns Governos, empresas e instituições que, apresentando-se como defensores dos direitos LGBTQIA+, o fazem com o propósito de distrair a atenção relativa a práticas e políticas controversas noutros domínios ou violações de direitos humanos.

Um dos mais conhecidos e referidos exemplos de pinkwashing é o praticado pelo Estado de Israel, um regime de apartheid e de violações continuadas dos direitos do povo palestiniano, que usa a publicitação do reconhecimento de direitos queer para dar uma imagem de país progressista.

O purplewashing é uma outra face da mesma moeda, uma estratégia de lavagem de imagem através dos direitos das mulheres ou da igualdade de género. A Arábia Saudita, actualmente, leva a cabo uma campanha internacional de charme, convidando e desafiando à criação (remunerada) de vídeos (IA) promocionais que ilustrem “a transformação da Arábia Saudita, destacando o seu património, a mudança de visão sob a liderança de Mohammad Bin Salman e os ambiciosos planos para o futuro”.

A contra-ofensiva conservadora

Dos EUA de Trump ao Brasil de Bolsonaro, da Rússia de Putin à Polónia de Duda, da Hungria de Órban ou à Itália de Meloni, em todos os países em que a direita conservadora e a extrema-direita ganharam força ou estão ou estiveram no poder, o seu programa de acção passa ou passou por fazer recuar os direitos sexuais e reprodutivos e perseguir modos de vida não normativos.

Nos EUA, o aborto legal passou a ser uma intervenção de difícil ou muito difícil acesso, desde o recuo da Roe vs. Wade que, durante meio século, garantiu a jurisprudência que assegurava o direito ao aborto. Na Polónia, as mulheres voltaram a ter de ocupar as ruas para exigir os direitos sexuais e reprodutivos entretanto revogados. Na Hungria foi aprovada uma lei que permite denunciar às autoridades pessoas e famílias LGBTQIA+. Na Rússia, a comunidade LGBTQIA+ está proibida de sair do armário: as marchas do orgulho não são permitidas e a constituição define o casamento como “a união entre um homem e uma mulher”. Na Arábia Saudita, o país do purplewashing, a homossexualidade é punida com pena de morte.

Movimentos como o Habeas Corpus, cujo porta-voz é o inusitado juiz antivacinas e negacionista entretanto expulso da magistratura, e partidos como o Chega dão, por cá, corpo e voz a este atavismo, tendo ultrapassado a fronteira do confronto de ideias: em Junho de 2023, uma exposição promovida pelo Évora Pride, que propunha uma reflexão sobre o ódio à comunidade LGBTQIA+, foi vandalizada; na mesma cidade, um grupo de homens invadiu e interrompeu, com insultos e agressões, a iniciativa Pride dos Pequeninos, na qual se procurava sensibilizar para a empatia, o amor e a não-discriminação.

Só conseguimos avançar, se avançarmos todos

Embora o Europride tenha como objectivo celebrar a diversidade e promover a igualdade LGBTQIA+, é uma iniciativa construída a partir de patrocínios e parcerias comerciais. Muitas dessas empresas, como referimos, estão manchadas por práticas discriminatórias e usam o Orgulho para lavarem a sua imagem e se promoverem como inclusivas.

É, por isso, necessário prestar atenção às práticas de pinkwashing e responder-lhes com clareza: o apoio às causas LGBTQIA+, e a todas as outras, faz-se com medidas concretas, e não com proclamações, porque só elas alteram as condições de vida de quem vive sob a discriminação.

No contexto português, é fundamental conhecer a história de luta e resistência da comunidade LGBTQIA+. As marchas do orgulho têm ganho cada vez mais expressão, representando um espaço de afirmação, visibilidade e reivindicação de direitos. Desde os primeiros corajosos protestos pela igualdade até às actuais marchas que atravessam todo o país, temos muito claro o que queremos: afirmar uma comunidade, reivindicar direitos, construir solidariedades e alianças.

O activismo que nos interessa e que responde às sombras é o que se empenha e compromete com a transformação e a justiça sociais para todas as pessoas. A solidariedade é, por isso, o fio que entretece as nossas práticas e as nossas lutas, razão pela qual caminhamos lado a lado com outros movimentos sociais. Somos como as uvas de um cacho: só fazemos sentido se estivermos juntas, unidas. E é neste cacho que investimos as nossas vidas, os nossos corpos, a nossa esperança, para avançarmos todos e ninguém ficar para trás.

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