Repressão de protestos após demissão do chefe da polícia de Telavive

O comandante Ami Eshed saiu denunciando a pressão do Governo para ordenar o uso de violência sobre manifestantes.

Foto
Acção da polícia em protesto na quarta-feira à noite em Telavive NIR ELIAS/Reuters
Ouça este artigo
00:00
02:59

Ao anunciar que se demitia, o comandante da polícia de Telavive, Ami Eshed, disse que não podia ceder a pressão para “partir cabeças e ossos” dos manifestantes anti-Governo, e que descer à pressão do executivo significaria encher as urgências de um grande hospital de Telavive a seguir a cada manifestação.

Mas mal Eshed fez, na quarta-feira à noite, a sua declaração surpreendente, centenas de manifestantes voltaram às ruas de Telavive, Jerusalém e outras cidades. E a repressão da polícia foi mais violenta: 14 manifestantes ficaram feridos, incluindo um com uma fractura na órbita ocular e outra no nariz.

A demissão do chefe da polícia acontece quando os protestos estavam de novo a intensificar-se depois de o Governo ter dado aprovação preliminar a uma das leis do pacote da reforma judicial (os críticos chamam-lhe “golpe judicial”, já que acaba com a possibilidade de leis aprovadas por maiorias simples no Parlamento serem rejeitadas pelo Supremo).

Na sequência de um aumento dos protestos em final de Março, depois de o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, ter ameaçado que demitia o ministro da Defesa, que tinha criticado a reforma judicial, o Governo suspendeu a reforma.

Isso não convenceu os manifestantes a deixar de protestar semanalmente, como vinham a fazer desde o início do ano, temendo o regresso da reforma ao Parlamento. Esta semana aconteceu isso mesmo, com a primeira de três votações para o fim da possibilidade de o Supremo rejeitar uma lei que não seja “razoável”.

Ainda esta semana, o Governo levou ao Parlamento, dando aprovação preliminar, a uma lei que passa os poderes da Ordem dos Advogados para um organismo governamental presidido pelo ministro da Justiça. Este organismo passará, se a lei for aprovada, a decidir quem pode exercer advocacia, quem pode ser castigado por más práticas, etc, e será também responsável pelos dois votos de advogados no painel que selecciona juízes.

O antigo adversário de Netanyahu, Benny Gantz, apelou ao primeiro-ministro para cancelar a reforma judicial e voltar a uma negociação patrocinada pelo Presidente “se não for pela democracia, que seja pela unidade do povo de Israel e para prevenir derramamento de sangue” – dizendo que se não o fizer, o primeiro-ministro será responsável.

No seu anúncio de demissão, Eshed lamentou que “em três décadas de serviço” se tenha deparado “com uma realidade absurda”, em que não lhe era pedido que assegurasse “a calma e a ordem, mas precisamente o contrário”.

Nos protestos que se seguiram ao anúncio de Eshed, um condutor investiu contra os manifestantes. O condutor foi preso, mas libertado depois de ter sido interrogado, e ao comparecer na esquadra para testemunhar sobre a agressão, o manifestante que foi atingido acabou a ser interrogado pela sua participação nos protestos.

Isto acontece quando Israel terminou uma operação militar no campo de refugiados de Jenin, na Cisjordânia ocupada, em que entrou com bulldozers no campo, cortou ligações eléctricas e canalização, matando doze pessoas, que disse serem combatentes, numa operação que fez lembrar operações da Segunda Intifada (2000-2005).

Esta quinta-feira, um israelita foi morto perto de um colonato judaico na Cisjordânia por um palestiniano, que foi depois morto por forças israelitas.

Sugerir correcção
Comentar