Afinal, Pogacar “está vivo” na Volta a França

O ciclista esloveno, em agonia na quarta-feira, prosperou na última etapa do Tour, batendo Vingegaard e Hindley numa tirada montanhosa. O português Rúben Guerreiro, em destaque, foi quarto na etapa.

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Pogacar celebra no Tour Reuters/STEPHANE MAHE
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Nesta quarta-feira, escrevemos que Tadej Pogacar tinha três problemas para resolver: recuperar a melhor forma, arranjar forma de bater o mais fulgurante Jonas Vingegaard e lidar com a surpresa criada por Jai Hindley. Nem nos melhores sonhos do povo esloveno o ciclista da Emirates resolveria, 24 horas depois, os três problemas que tinha em mãos.

Em mais uma tirada de montanha, Vingegaard e a Jumbo tentaram “esvaziar” o esloveno, mas houve resposta. Em rigor, houve mais do que resposta. Pogacar não só acompanhou o adversário e aliviou grande parte dos fãs de ciclismo – talvez só os dinamarqueses quisessem que Vingegaard selasse praticamente o Tour logo na primeira semana – como o atacou e cruzou a meta 24 segundos antes do actual campeão e 2m39 antes de Jai Hindley, anterior camisola amarela, que teve uma quebra física ainda na penúltima escalada do dia.

Se a etapa de quarta-feira criou a sensação de que Tadej Pogacar, ainda na primeira semana de prova, estaria perto de ver a vitória por um canudo, a desta quinta-feira esventrou por completo essa tese. E o esloveno tinha avisado para isto antes da etapa: “A forma está aqui e nos próximos dias posso estar melhor. Veremos se consigo responder. Estou bem”, apontou. E cumpriu, mesmo que Vingegaard seja o novo camisola amarela, 25 segundos à frente de Pogacar.

Guerreiro em fuga

A fuga do dia foi, como se esperava, bastante grande, mas a parte menos previsível era estar desprovida de corredores relevantes na luta pelo top 10. O mais próximo da liderança era Alaphilippe, a mais de sete minutos, pelo que os fugitivos estavam, sobretudo, à procura de metas secundárias: uns a pensarem na etapa, outros a pensarem em sprints intermédios para a camisola verde e outros ainda a pensarem na camisola da montanha – como o português Rúben Guerreiro.

Na frente estava ainda Wout van Aert, que provocou uma situação estranha. Na fuga, o belga “puxava” o grupo. No pelotão, a Jumbo perseguia o seu próprio ciclista em fuga.

Uns poderiam dizer que a Jumbo estava a atacar Wout van Aert e que isso era bizarro, porque tiraria ao belga a possibilidade de vencer a etapa, mas outros poderiam argumentar que era uma táctica bem pensada, para que o belga ajudasse Vingegaard mais tarde na tirada, na última subida do dia, com final em alto.

Na escalda ao Tourmalet, a penúltima subida do dia, a Jumbo “partiu” o pelotão assim que entendeu e o camisola amarela, Jai Hindley, mostrou que está um patamar abaixo de Pogacar e Vingegaard – ou talvez mais do que um.

Em cerca de quatro quilómetros de subida, Kuss, o “reboque”, Pogacar e Vingegaard deixaram Hindley e os restantes candidatos ao top 5 a dois minutos de distância. Depois, ainda a 50 quilómetros da meta e a três do fim do Tourmalet, Vingegaard atacou e Pogacar, para alívio dos espectadores não dinamarqueses, respondeu bem.

E deu-se novamente uma situação dúbia na Jumbo. Por um lado, pareceu desnecessário Vingegaard “esvaziar” Kuss com uma descida e uma subida final ainda pela frente. Por outro, Kuss pode ter dado a indicação de que estava no limite, pelo que Vingegaard só agiu em função disso.

Seja como for, seguiram os dois subida acima e descida abaixo, até se juntarem aos seis fugitivos que restavam, entre os quais Wout van Aert, que continuou a grande etapa que vinha a fazer, ajudando Vingegaard, e Guerreiro, que foi buscar pontos de montanha no Tourmalet – e só não foi buscar mais porque fez um sprint irregular e provavelmente deixou o adversário passar na frente para se livrar de uma penalização.

Tal como mostrou noutras edições do Tour, Wout van Aert provou que é bastante mais do que um sprinter. O belga, que já vinha em fuga durante todo o dia – e quase sempre na cabeça do grupo –, ainda liderou o grupo da frente durante largos quilómetros, mesmo em zonas de pendentes elevadas.

Wout van Aert “fechou a loja” a cerca de cinco quilómetros da meta, tal como Guerreiro, e só Pogacar é que seguiu ao ritmo de Vingegaard. Correcção: Deixou Vingegaard para trás.

Depois de o dinamarquês ter ido a liderar o duo durante três quilómetros, sempre olhando por cima do ombro, desconfiado, Pogacar fez um ataque explosivo e abriu 27 segundos de vantagem – mais os quatro que ganhou nas bonificações na meta. Hindley e os demais voltistas chegaram a mais de dois minutos e meio.

Nota para Guerreiro, que ainda fechou em quarto lugar, e está na luta pela camisola da montanha.

Para esta sexta-feira está desenhado o paraíso dos velocistas, com mais uma etapa com provável final em pelotão compacto. Mais uma para Philipsen ou, finalmente, o recorde de Cavendish?

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