Pogacar cede no Tour e tem três problemas para resolver

O esloveno mostrou fragilidades no Tour. Perdeu terreno para Vingegaard na luta corpo a corpo e perdeu bastante tempo para Hindley, que venceu a etapa e já não é apenas um mero candidato ao pódio.

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Vingegaard e Pogacar em acção no Tour Reuters/PAPON BERNARD
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Dificilmente um fã de ciclismo acordou nesta quarta-feira a achar que, numa etapa sem final em alto, Jonas Vingegaard e Tadej Pogacar seriam inicialmente “enganados” por Jai Hindley, provavelmente o terceiro favorito à conquista da Volta a França, e que, mais tarde, o esloveno teria, já à quinta etapa, a primeira demonstração de fraqueza. E que este seria um dia semelhante a uma qualquer "etapa rainha" da terceira semana do Tour. Mas foi isso que sucedeu.

Hindley, que se aventurou sozinho cedo na etapa e foi o vencedor do dia, chegou à camisola amarela. Pogacar, que andou a “caçar” segundos de bonificação em etapas inócuas, mostrou que essa predisposição ofensiva ou era bluff ou se dissipou esta quarta-feira. E Vingegaard foi Vingegaard.

Para Pogacar, existem três problemas para resolver: o primeiro, e mais importante, é consigo mesmo, já que não esteve numa forma que lhe permita lutar quando a estrada inclinar ainda mais – e vai inclinar. O segundo, não menos relevante, é perceber como deitar abaixo Vingegaard, que parece fulgurante. O terceiro chama-se Hindley, que de repente se tornou um sério adversário não apenas pelo pódio, mas pelo triunfo no Tour.

Distracção ou sobranceria?

A etapa não é fácil de explicar. Inicialmente, Vingegaard e Pogacar pareceram ter sido enganados. Mas talvez não tenha sido só isso. José Azevedo, ex-ciclista e actual director-desportivo da Efapel, criticava durante a tarde a pura desatenção dos dois “monstros”. “Vingegaard e Pogacar não reagiram. Se a fuga fosse de poucos ciclistas era uma coisa, mas sendo 36 foi uma desatenção muito grande. Estão tão preocupados um com o outro que se esquecem de outros. Sei que a Jumbo e a Emirates tinham corredores na frente, mas não servem de nada se há Hindley na frente. Deviam ter estado atentos e seria um pequeno esforço a fazer para poupar problemas”, apontou no Eurosport.

Outra tese apontava para a crença do dinamarquês e do esloveno de que a luta seria entre ambos e Hindley, mesmo indo para a fuga, não seria um problema. Seja qual for a hipótese certa, "puseram-se a jeito".

O que estava em causa? Estava em causa, numa etapa com montanha dura, uma fuga de mais de 30 ciclistas, sendo que um deles foi Hindey. O vice-campeão do Giro 2020 infiltrou-se no grupo e, até pela improbabilidade do cenário, terá escapado à atenção das duas principais equipas. Nesse grupo, estava também Wout van Aert, que se comportava de forma estranha – ao puxar no grupo, “rebocava” Hindley, adversário directo de Vingegaard.

A vantagem do grupo chegou a ser de mais de quatro minutos, até porque a Jumbo, num bluff tremendo, escusava-se de trabalhar – e a Emirates perseguiu sozinha durante grande parte do dia.

Hindley acabou por ficar isolado na frente e, mais atrás, o “pelotão” já era apenas Vingegaard, Kuss e Pogacar, sobretudo assim que Kuss se colocou ao trabalho. Depois, caiu Pogacar. O esloveno, não tendo ficado “a pé” – manteve-se com Kuss –, teve uma quebra tremenda e perdeu rapidamente um minuto para Vingegaard.

O dinamarquês, que a dada altura do dia pareceu ter em Hindley um problema gigante para resolver daqui para a frente, acabou por minimizar as perdas para o australiano, que ainda assim venceu a etapa, chegou à camisola amarela, com 47 segundos de vantagem para Vingegaard, que é segundo, e 1m40s para Pogacar, que está em sexto lugar. Pelo meio estão Ciccone, Buchmann e Yates, que perdeu a liderança.

Nesta quinta-feira haverá mais montanha, mas com final em alto, numa subida de primeira categoria.

Notícia alterada às 17h51, corrigindo a classificação final de Jai Hindley no Giro 2020.

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