Relatório sobre a TAP é “obra de ficção” com “um buraco”, acusa oposição

A oposição uniu-se contra as conclusões do relatório sobre a TAP, que terá o voto contra do PSD e da IL. O PS deixou um aviso aos partidos: “Não se precipitem” na leitura do documento.

Foto
Houve uma tentativa de "branquear factos" com este relatório, acusa o maior partido da oposição RUI GAUDENCIO/ ARQUIVO
Ouça este artigo
00:00
03:26

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

Os partidos da oposição teceram fortes críticas ao relatório preliminar da comissão parlamentar de inquérito (CPI) à gestão da TAP. Unidos contra as conclusões apresentadas, Bloco, PSD e Chega vão avançar com propostas de alteração, mas a IL recusa-se a fazê-lo porque não compactua com “farsas”. O PS optou por recomendar aos partidos que “não se precipitem” na leitura do documento.

Há “um buraco completo no relatório da TAP”, considera Pedro Filipe Soares. O deputado do Bloco defende que é “incompreensível que haja tamanha omissão” de informação, nomeadamente no que diz respeito às intervenções do ministro das Infra-Estruturas, João Galamba, e do primeiro-ministro, António Costa, na gestão da empresa. Para o Bloco, houve uma “condução política” do relatório, numa tentativa de “condicionar as conclusões para retirar de cima da mesa as consequências políticas que António Costa devia tirar”.

A opinião é partilhada pelo PSD. O relatório “foi feito com o objectivo de que as conclusões políticas não existissem”, acusou Paulo Moniz. “É um relatório parcial, leve, que não tem atenção àquilo que foram as audições da comissão de inquérito talvez mais seguida pelos portugueses. Qualquer cidadão que leia este relatório não se revê”, acrescentou o deputado.

O social-democrata defende que o relatório devia abordar os acontecimentos de 26 de Abril, quando “o Governo indicou aos serviços de informação fazerem a recolha de um computador”: “Como é que se pode enviar ao Ministério Público um relatório omitindo este facto?” Tanto Paulo Moniz como o líder do partido, Luís Montenegro, consideram que houve uma tentativa de “branquear factos” e as responsabilidades do Governo.

Já a Iniciativa Liberal diz que o relatório é “uma obra de ficção que contraria a liberdade”. Para o líder liberal, Rui Rocha, “há uma diferença brutal” entre o que se lê no documento “e o que os portugueses puderam acompanhar durante semanas”. Complementando esta ideia, André Ventura diz ter ficado com a certeza de que foi tudo “escrito pelo Governo”.

O líder do Chega classifica o documento como “um embaraço, antes de mais, de quem o fez”. “Quando o relatório vem dizer que a indemnização [de Alexandra Reis] não é da responsabilidade de Pedro Nuno Santos e de Hugo Mendes, as pessoas perguntam o que estivemos aqui a fazer”, diz.

Já no entender do PCP, o relatório tem “o objectivo de, dê lá por onde der, defender a privatização da TAP”. O documento “ignora e esquece o impacto, consequências e resultados da privatização” da empresa, critica o deputado Bruno Dias

IL não fará propostas de alteração

Face às críticas, o PS deixou um recado à oposição, pedindo uma leitura mais atenta do documento: “Não se precipitem numa leitura rápida de um relatório que chegou à meia-noite e tem 200 páginas”, pediu Bruno Aragão. “Uma CPI deve apurar factos para lá da interpretação política que qualquer um tenha. Por isso é que é uma comissão de inquérito e não política”, explicou. Segundo Bruno Aragão, ao PS cabe agora “fazer uma análise” do documento, para perceber se avançará com “propostas de melhoria” do texto.

Por seu lado, Bloco, Chega e PSD asseguram desde já que vão avançar com propostas de alteração, ao passo que os liberais se recusam a fazê-lo: “A IL faz uma avaliação negativa da conclusão deste relatório. Perante isto, nem sequer faremos proposta de alteração do relatório, porque não participamos em farsas”, atirou Rui Rocha. Certos são já os votos contra do PSD e da IL.

Sugerir correcção
Comentar