José Peixoto e Nuno Cintrão apresentam Combinatorium na Casa Fernando Pessoa
O duo Combinatorium, formado por José Peixoto e Nuno Cintrão, apresenta ao vivo, em Lisboa, o seu disco de estreia, Fragmentos Imaginários. Esta quinta-feira na Casa Fernando Pessoa, às 19h.
No ano em que se estreou o novo disco do Lisboa String Trio (LST), do qual é fundador, o guitarrista e compositor José Peixoto envolveu-se noutro desafio: gravar um duo de guitarras com o também guitarrista, compositor e professor Nuno Cintrão. Combinatorium, o duo que daí nasceu, vai apresentar-se ao vivo esta quinta-feira em Lisboa, na Casa Fernando Pessoa, na esplanada do Restaurante Flagrante Delitro, às 19h. A entrada é livre, sujeita à lotação.
Foi um trabalho moldado pelas circunstâncias. José Peixoto estava inserido num projecto que estava agendado para Janeiro deste ano, no Musibéria, em Serpa, mas problemas de agenda de alguns dos músicos estrangeiros envolvidos, e ficou sem efeito. Mas as datas continuaram agendadas. “E perguntaram-me se eu queria aproveitá-las”, conta José Peixoto ao PÚBLICO. “Então liguei ao Nuno Cintrão, com quem nunca tinha tocado, tinha estava com ele uma vez na vida a beber café (embora conhecesse o que ele fazia, e vice-versa), e perguntei-lhe se na segunda quinzena de Janeiro ele conseguia arranjar tempo para ir até Serpa.” Ele aceitou, combinaram um encontro para verem o que poderiam fazer e, juntando os fragmentos do que cada um trazia, chegaram a uma base do que depois, em duo, poderiam desenvolver.
“Foi como se fosse um filho não planeado”, diz José Peixoto. “De repente apareceu, e acabei por estar em dois discos [este e o do LST] quase ao mesmo tempo.” Estreado em Março nas plataformas digitais e lançado em Maio em CD, com a assinatura Combinatorium (José Peixoto e Nuno Cintrão), o disco chama-se Fragmentos Imaginários, foi gravado e produzido nos estúdios Musibéria, em Serpa e é o 13.º álbum com a chancela da editora Respirar de Ouvido.
Com um total de dez faixas instrumentais, os nomes com que acabaram por ser registadas (Terceiro fragmento, Grand Canyon, Rio, Noite, Invisível, La Vanda, Quatro diabos, 7 para as 8, 5.ª fragmentação e Mistério da água) foram surgindo consoante as situações. “A maneira como começam os temas Grand Canyon ou Rio, transporta-nos logo para esses universos”, diz José Peixoto. “Tal como o La Vanda. Aqui, começámos a imaginar e a visualizar aquelas lavandarias onde se põe as máquinas a andar com uma moeda, depois tira-se a roupa de lá e põe-se no secador e fica aquilo ali a andar à volta. Foi essa a associação. Depois há temas directamente associados aos fragmentos (Terceiro fragmento, 5.ª fragmentação) e os título foram surgindo um bocado à medida do que íamos compondo. O 7 para as 8, por exemplo, é uma associação que o Nuno faz com os dias em que a gente acorda em cima da hora e tem de se despachar à pressa. É um tema rápido, uma coisa meio stressada, foi essa a intenção.”
O tema Quatro diabos cita, explicitamente, a Cantiga sem maneiras, escrita para o GAC por José Mário Branco, com quem José Peixoto trabalhou em vários concertos e discos. “Foi por iniciativa minha”, diz Peixoto. “Eu tinha usado o tema Quatro diabos numa peça de teatro, noutro contexto, e achei que fazia sentido ir parar à Cantiga sem maneiras, que é uma melodia fantástica, das composições mais fortes que conheço. Achei que era uma boa oportunidade de poder associá-la aqui, tanto mais que não é cantada. Pedi autorização e avançámos.”
Tal como o disco, que acabou por nascer sem ter sido planeado, também as suas apresentações ao vivo têm seguido o ritmo que o tempo lhes permite. “Anda por aí”, comenta José Peixoto. Já andou por vários espaços, num circuito mais marginal às grandes salas e aos grandes centros, e agora chega a Lisboa, à Casa Fernando Pessoa, integrado no ciclo Jazz na Esplanada. “Isto não é bem jazz, as pessoas que não levem a mal”, graceja José Peixoto. “É aquela coisa clássica: isto não é jazz, mas se o jazz não existisse, esta música também não existia.”