A Heinz diz que o ketchup deve ser guardado no frigorífico, mas o debate continua
Onde guardar o ketchup? A marca norte-americana tem a resposta, mas nem todos concordam com ela.
Hoje descobri que sou casada com um desconhecido. Mencionei ao meu marido que estava a escrever sobre o debate sobre se o ketchup deve ser guardado no frigorífico ou no armário e, sem perder tempo, o homem com quem vivo há 18 anos disse algo tão chocante que fiquei momentaneamente congelada enquanto ele subia as escadas, aparentemente inconsciente da bomba que tinha acabado de lançar: “Armário.”
Leitor, com esta única palavra, duvido agora que saiba realmente alguma coisa sobre esta pessoa. Durante anos, o “Eric” (será que é esse o seu nome?) e eu guardámos a nossa garrafa de Heinz na porta do frigorífico como pessoas normais. Durante todos estes longos anos, nem uma única vez ele me deu qualquer pista de que, no fundo, achava que o lugar dela era na prateleira da despensa. Quem é este homem, perguntei-me enquanto o via retirar-se, e que outros segredos esconde?
A profundidade da minha estupefacção está no centro de um debate que se desenrola nas redes sociais, suscitado pelo que parecia ser uma decisão definitiva sobre o assunto do gigante do ketchup Heinz. Na semana passada, a conta do Twitter da filial da empresa no Reino Unido tweetou a sua opinião. “Para sua informação: o ketchup vai para o frigorífico!” declarou a Heinz.
A marca americana já tinha dito anteriormente que o seu ketchup é estável devido à sua acidez (o vinagre é o segundo ingrediente da lista, depois do tomate, que também é ácido), mas aconselhou os utilizadores a mantê-lo refrigerado depois de aberto para “manter a qualidade do produto”. E as garrafas têm as instruções: “Para melhores resultados, manter no frigorífico depois de aberto.”
Ainda assim, como a refrigeração é opcional, as pessoas lidam com as suas garrafas vermelhas de forma diferente, e as redes sociais entraram em erupção com o mais recente espasmo do debate há muito aceso. A equipa do frigorífico parece ser maior — a Heinz alimentou o seu momento viral (o seu tweet original obteve cinco milhões de visualizações na tarde de segunda-feira), seguindo-se uma sondagem (altamente não científica) que mostra que 63% dos inquiridos o mantém no fresco, enquanto 37% não o fazem.
Muitos na facção pró-frio declararam-se confusos por haver outra forma. “As pessoas guardam-no fora do frigorífico? *gasp*”, respondeu um. “Claro que sim. Depois de abrir é que isto é controverso?”, perguntou outro.
Ainda assim, a Equipa do Armário foi muito expressiva. Muitas pessoas referiram que não é vendido no frigorífico na mercearia (o que não é um grande argumento, na minha opinião, uma vez que a maionese também é vendida sem refrigeração, e ninguém está a debater onde guardá-la). “Não, não é”, respondeu um comentador à declaração da Heinz. “Ficas com a produção e eu trato do consumo.”
O lado do armário também tem uma celebridade nas suas trincheiras. Em 2019, a rapper Cardi B revelou que vê a escolha de armazenamento de condimentos como um teste de carácter. “As pessoas que colocam o ketchup no frigorífico não são de confiança”, escreveu no Twitter.
Para muitos, parecia ser apenas uma publicação sobre os seus hábitos de longa data, mas alguns dos comentários se concentraram na sua preferência pela temperatura em que gostam de ser servidos. “Nunca compreenderei o ketchup no frigorífico”, escreveu um. “Porque é que eu havia de querer pôr ketchup frio na comida quente?”
Outros, porém, gostam do contraste que a combinação oferece. “As pessoas na sondagem continuam a dizer porque é que quereriam ketchup frio em comida quente e, honestamente, é a melhor combinação para mim”, asseverou outro.
Claro que a temperatura não é a única coisa controversa no ketchup. Há também uma divisão sobre se o condimento pertence aos cachorros-quentes. O Conselho Nacional do Cachorro-Quente e da Salsicha tentou acabar com essa questão ao declarar no seu guia de etiqueta, na lista de “não fazer”: “Use ketchup no seu cachorro-quente depois dos 18 anos de idade. Mostarda, condimentos, cebolas, queijo e chili são aceitáveis.” O esforço, claro, não teve sucesso — porque se há algo que as pessoas gostam mais do que encharcar a sua comida em ketchup, é uma razão para discutir sobre assuntos de pouca importância.
Por seu lado, a Heinz parecia estar a gostar da “loucura” que os seus tweets mais recentes tinham criado. Na segunda-feira, criou um concurso online cujo prémio era um minifrigorífico vermelho-tomate abastecido com garrafas Heinz. E apesar de a marca estar a promover uma luta alimentar, pode ter criado outra. Na fotografia do prémio, mostrava o frigorífico aberto com garrafas de ketchup na prateleira de cima. A prateleira de baixo, talvez apenas por uma questão visual, continha vários tomates vermelhos maduros, uma decisão de armazenamento controversa que também suscita a opinião de algumas pessoas.
É evidente que a empresa gosta do drama.
Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post
Tradução: Carla B. Ribeiro