Mbappé e companheiros de seleção francesa apelam ao fim da violência

O capitão da selecção francesa, Kylian Mbappé, foi o primeiro a pedir que a violência em França dê lugar ao diálogo. Os jogadores apontam que a “ira popular” está a conduzir à “autodestruição”.

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O capitão da selecção de França, Kylian Mbappé, foi o primeiro a publicar o comunicado no Twitter EPA/Tolga Bozoglu

Futebolistas da selecção francesa, incluindo o capitão Kylian Mbappé, de 24 anos, defenderam na sexta-feira que a violência que ocupou as ruas das principais cidades francesas nos últimos dias, desencadeada pela “morte brutal do jovem Nahel”, na terça-feira num controlo policial, deve dar lugar ao diálogo.

“Como todos os franceses, ficámos abalados e chocados com a morte brutal do jovem Nahel. […] Evidentemente, não podemos ser alheios às circunstâncias em que esta morte inaceitável teve lugar”, lê-se num comunicado publicado na conta do jogador do Paris Saint-Germain na rede social Twitter.

O texto nota que, “após o trágico acontecimento”, está a assistir-se “a uma manifestação de ira popular”.

“Partilhamos igualmente esses sentimentos de dor e tristeza. Mas a esse sofrimento junta-se o de assistirmos impotentes a um verdadeiro processo de autodestruição. A violência não resolve nada […]. São os vossos bens que vocês estão a destruir, os vossos bairros, as vossas cidades, os vossos locais de desenvolvimento e proximidade”, alertam.

Liderados por Kylian Mbappé, que foi o primeiro a divulgar o comunicado no Twitter, os futebolistas alegam não poder ficar em silêncio: “a nossa consciência cívica incita-nos a apelar à calma, à consciencialização e à responsabilização”.

“O tempo da violência deve parar para dar lugar ao do luto, do diálogo e da reconstrução”, concluem.

A morte de Nahel, provocada pelo disparo de um polícia na terça-feira, num controlo de trânsito, fez regressar a tensão entre jovens e a polícia em França.

Na última noite, a polícia francesa fez mais de 1300 detenções em toda a França, "79 polícias e gendarmes ficaram feridos", cerca de 1350 veículos foram incendiados, 234 edifícios foram queimados ou danificados e cerca de 2560 incêndios foram registados na via pública.

Para evitar este tipo de episódios, a primeira-ministra francesa, Élisabeth Borne, anunciou na sexta-feira o destacamento de blindados da polícia militarizada, sem especificar quantos.

Numa reunião extraordinária, o ministro do Interior decidiu estender a todo o país a restrição de circulação de autocarros e eléctricos, que não puderam funcionar a partir das 21h locais (20h de Lisboa) até novas ordens.

Também foi temporariamente proibida a venda de foguetes para fogos-de-artifício, bidões de gasolina, ácidos e outros produtos químicos e inflamáveis.

A morte de Nahel, que será sepultado no sábado na cidade de Nanterre – onde residia e onde foi morto -, chocou boa parte do país e provocou a enérgica condenação da esquerda e de movimentos sociais, por considerarem que se tratou de um acto de racismo.

Os alvos dos manifestantes têm sido carros da polícia e dos bombeiros, mas também edifícios públicos e lojas, muitas das quais pilhadas.