A Geração Z namora à moda antiga. Como será o futuro das aplicações de encontros?
A era das fotos enigmáticas em appsde encontros terminou. A Geração Z quer “autenticidade” e prefere conhecer parceiros fora da internet. O futuro dos namoros já tem um nome: “Social First”.
Há um mundo antes e depois do Tinder. Até há pouco mais de dez anos, antes de os dedos de milhões de pessoas deslizarem para esquerda ou para a direita num ecrã de telemóvel em busca de um parceiro, quem assumisse que tinha conhecido alguém através da internet arriscava-se a ser alvo de estigma (ou pelo menos de algumas piadas). Depois de 2012, com o lançamento da aplicação de encontros e de relacionamentos mais popular do mundo, o universo dos namoros com origem no mundo digital encheu-se de matches, mensagens privadas e — convenhamos — fotografias de torsos musculados sem cabeça.
Mas isso está a mudar neste momento. E está a mudar porque a nova geração de utilizadores de aplicações de encontros já não se interessa pelas formas de conhecer pessoas que, até agora, tinha conquistado todas as gerações até aos millennials. “O que vemos com a Geração Z é que namoram de uma forma mais parecida à dos nossos pais”, relevou Marcus Lofthouse, um dos líderes da Archer, aplicação de encontros para homens homossexuais, bissexuais e queer, numa das conversas desta terça-feira no Collision, evento tecnológico da Web Summit a decorrer em Toronto, Canadá.
“Esta geração quer conhecer alguém em pessoa, desenvolver uma amizade com ela e depois ver o que pode acontecer a partir daí”, revelou Marcus Lofthouse, mencionado os estudos de mercado da Archer. “Conhecer um parceiro através de uma aplicação é um comportamento que está a ser revertido porque as aplicações tradicionais já não servem”, prosseguiu: “Estes miúdos querem é celebrar a vida, querem conexões mais profundas com as pessoas”. Uma prova disso? As mensagens directas do Instagram, uma rede social sem o cunho típico das aplicações de encontros, que são agora a principal ferramenta para trocas de mensagens quando duas pessoas se querem conhecer melhor.
Essa mudança de comportamento está a entrar nos algoritmos das novas aplicações de encontros, que incluem agora uma característica que não se encontrava nas versões mais antigas do Tinder ou do Grindr: o “Social First”. “Percebemos que as pessoas preferem cada vez mais conhecer alguém através dos amigos, por isso tivemos de encontrar maneira de incluir a amizade na equação”, explicou Marcus. E isso parece ser válido para quem quer um relacionamento sério e exclusivo, para quem apenas quer um relacionamento casual — “e para todos os tipos de relacionamentos pelo meio”.
Mas a grande aposta do mercado tecnológico no ramo das aplicações de encontros também passa pela verificação dos próprios utilizadores. Adeus, nudes (ou quase-nudes); olá, rostos sorridentes e informações essenciais disponíveis logo à partida, resumiu Amanda Bradford, criadora da app The League, que serve para “ligar solteiros ambiciosos”. “Agora as pessoas podem encontrar alguém de uma forma mais eficiente do que conhecer alguém num bar. Qual é a probabilidade de encontrar aleatoriamente quem queira o mesmo número de filhos, tenha as mesmas ambições e esteja disponível para o mesmo tipo de relação que se procura?”, questionou.
A aplicação de Amanda foi alvo de duras críticas aquando do lançamento, em 2015. Conquistar um lugar na comunidade de utilizadores do The League implica ceder informações pessoais que tipicamente são publicadas em redes sociais tradicionais — como o Facebook, o Instagram e o LinkedIn. Por exemplo, é necessário disponibilizar pelo menos três fotografias de elevada qualidade, incluir uma ligação para outras redes sociais, adicionar o número de telefone, publicar um vídeo e escrever uma pequena biografia.
O processo de avaliação demora entre três e 32 semanas. No fim, só 20% a 30% dos interessados consegue aceder ao The League — percentagens que não demovem a criadora da aplicação. Pelo contrário, assumiu no Collision: “Estava farta de conhecer alguém no Tinder e ter de vasculhar as outras redes sociais para saber se realmente me interessava”, confessou Amanda Bradford. “Sabia o que queria num parceiro e sabia o que sentia falta numa aplicação. Criei a minha própria app para resolver o problema.”
Pela experiência que tem tido no contacto com a Geração Z, Amanda concorda que o futuro das aplicações de relacionamentos passa por muito mais do que a busca por um namoro: trata-se de encontrar quem goste de fazer as mesmas coisas, conhecer essa pessoa melhor e deixar que a vida revele (ou não) a faísca. Se isso nunca acontecer, “não faz mal”: “Muitas vezes fica a amizade. E se o encontro for mau, pelo menos o utilizador pode dizer que fez alguma coisa de que gostou”. Autenticidade — essa é a palavra de ordem, considerou.
A jornalista viajou a convite da Collision