Aliados de Johnson acusados de interferir e atacar investigação ao ex-primeiro-ministro

Comissão parlamentar diz que sete conservadores, incluindo três antigos ministros, integraram campanha para pôr em causa a credibilidade e a legitimidade democrática da Câmara dos Comuns.

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Boris Johnson foi acusado de ter "enganado deliberadamente" o Parlamento Reuters/TOM NICHOLSON
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Duas semanas depois de ter divulgado os resultados da investigação à conduta de Boris Johnson durante o escândalo das festas na sede do Governo britânico durante a pandemia, que concluiu que o antigo primeiro-ministro conservador “enganou deliberadamente” o Parlamento, a Comissão de Privilégios da Câmara dos Comuns publicou nesta quinta-feira um relatório que acusa os aliados do agora ex-deputado de “ataques sem precedentes” à legitimidade democrática da investigação e de envolvimento numa “campanha coordenada para interferir” com os trabalhos do Parlamento.

Com uma maioria de deputados conservadores, a comissão condenou o comportamento de dez membros do Parlamento, todos tories: sete membros da Câmara dos Comuns e três da Câmara dos Lordes.

Entre eles destacam-se os ex-ministros Jacob Rees-Mogg, Nadine Dorries e Priti Patel, assim como Zac Goldsmith, actual secretário de Estado para os Territórios Ultramarinos e para a Commonwealth, que é o único dos visados que faz parte do executivo liderado por Rishi Sunak – com quem Johnson e os seus aliados têm divergências políticas e ideológicas.

Em causa estão as críticas feitas nas redes sociais, nos jornais e nas televisões por parte destes membros do Partido Conservador à investigação que a comissão levou a cabo durante 14 meses – mandatada por todos os partidos, incluindo os tories, quando Johnson ainda era primeiro-ministro – e à credibilidade e legitimidade da tarefa dos seus membros.

Os visados rotularam a investigação de “caça às bruxas” e de “teia de aranha”, referiram-se à comissão como um “tribunal de fachada”, e um deles chegou a dizer que o processo parlamentar “envergonharia uma república das bananas”.

“Esta pressão sem precedentes e coordenada não teve impacto na condução do desfecho do nosso inquérito. Contudo, teve um impacto pessoal significativo em cada um dos membros [da comissão] e levantou significativas questões de segurança”, lê-se no relatório publicado nesta quinta-feira.

A comissão enfatizou particularmente os “mais vociferantes ataques” feitos por Rees-Moog e Dorries, “através da plataforma dos seus próprios programas de televisão”. O ex-ministro das Oportunidades do “Brexit” tem um programa na GB News e a antiga ministra da Cultura tem o seu próprio espaço opinativo na TalkTV.

Estes argumentos foram repetidos por Boris Johnson dias antes de o relatório final ser publicado – mas também no dia da publicação – para justificar a sua renúncia ao cargo de deputado e o facto de entender que estava a ser alvo de um “assassínio político”.

“Os ataques feitos por membros experientes são ainda mais preocupantes, uma vez que estes sabiam que, durante uma investigação, a Comissão de Privilégios não os podia contestar”, lê-se ainda.

A comissão pede ao Parlamento para introduzir novas medidas para garantir que os deputados não podem “impugnar a integridade” das investigações parlamentares. “Os membros não podem ter o direito de prejudicar uma investigação ou de fazer pressão sobre os membros da Comissão de Privilégios durante uma investigação.”

O antigo primeiro-ministro foi denunciado por cinco infracções que consubstanciam “obstruções” ao trabalho parlamentar, por não ter sido honesto sobre o seu verdadeiro conhecimento relativo à realização de, pelo menos, 15 festas e convívios em Downing Street, tendo sido multado pela polícia por ter estado numa, tendo estado noutras duas que resultaram em multas para outras pessoas.

Se se tivesse mantido no cargo de deputado, Johnson teria sido suspenso do Parlamento por 90 dias.

O relatório foi aprovado pela maioria dos membros da Câmara dos Comuns, ainda que dezenas de deputados do Partido Conservador, incluindo o primeiro-ministro, não tenham participado na votação.

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