Montenegro: “Salários não se aumentam por decreto”, mas país tem de “arriscar”

A posição do líder do PSD surge depois de o BCE ter considerado que o aumento dos salários é uma nova fonte de inflação.

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O líder do PSD considera que o aumento das pensões é um "número político" LUSA/ANTÓNIO COTRIM
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Luís Montenegro, presidente do PSD, defendeu nesta quarta-feira que Portugal tem de “arriscar” e aumentar salários — principalmente na função pública. A declaração de Montenegro parece ser um distanciamento do BCE, cuja presidente considerou, na terça-feira em Sintra, que o aumento dos salários é uma nova fonte de inflação.

Montenegro começou o dia com um bom pequeno-almoço no Hotel Marriott, em Lisboa, onde falaria à câmara de comércio americana em Portugal. Queijo, fiambre, quivi, manteiga, compotas e café: tudo à disposição do líder social-democrata. Na sala estavam outros membros do PSD — entre os quais Pedro Duarte, coordenador do Conselho Estratégico Nacional — e empresários, como Tim Vieira, sul-africano lusodescendente que quer ser candidato à Presidência da República em 2026.

O discurso começou com uma espécie de carta de intenções em que Luís Montenegro pedia que as suas críticas ao Governo não resultassem no afastamento do investimento daqueles “do outro lado” — ou seja, americanos que queiram investir em Portugal — nem daqueles “do lado de cá” — ou seja, portugueses que queiram investir nos EUA.

A intervenção do presidente do PSD não trouxe particular novidade — pediu melhorias para a demografia, criticou a carga fiscal, demonstrou-se favorável à imigração —, à excepção de uma: disse que Portugal tinha de “arriscar” e aumentar salários, mesmo que por decreto.

Entre a teia de problemas que imputou ao país constava o do “nível salarial”, típico de uma “sociedade nivelada por baixo”. Por isso, considera Montenegro, é necessário aumentá-lo.

“É costume dizer-se que salários não se aumentam por decreto, mas confesso que teremos de arriscar: no Estado, nas políticas públicas, em pagar melhores salários”, começou por dizer o presidente do PSD.

“Temos de desafiar a economia e o Estado a subir o nível salarial”, acrescentou, notando que na administração pública — sobretudo na saúde e na justiça — “há falta de qualidade e de recursos humanos”. Por isso, diz Montenegro, a “administração pública também tem de ser atractiva e ter bons salários”, assim como “as empresas têm de ser competitivas, terminou.

Estas declarações do líder do PSD surgem um dia após Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu, considerar que o aumento dos salários para fazer face à inflação está a criar uma nova fonte de inflação.

Segundo a banqueira central, a percepção de que os trabalhadores perderam muito poder de compra "está a desencadear um processo sustentado de convergência em alta dos salários, com os trabalhadores a tentar recuperar essas perdas", o que, por sua vez, “está a fazer subir outras medidas da inflação subjacente”.

Pensões e ousadia

O líder social-democrata aproveitou ainda a publicação em Diário da República do aumento intercalar das pensões para notar já haver “uma campanha eleitoral em curso”. Aliás, Montenegro nem considera que haja um “aumento” das pensões, mas sim uma “devolução do que [o primeiro-ministro] tirou”.

“Primeiro cortou e agora aparece com a cara lavada a querer dar aquilo que já era das pessoas. Um número político à conta do dinheiro que nunca deixou de ser dos pensionistas”, considerou Montenegro.

O presidente do PSD terminou o seu discurso rejeitando a ideia de que o seu partido não apresenta alternativas — “nunca nenhum partido num ano após legislativas apresentou tantas medidas”, disse — e fez uma súmula sua. Desde o “programa de emergência social” até às “iniciativas sobre saúde” que apresentarão a 6 de Julho, Montenegro recuperou as principais medidas que o PSD apresentou neste seu ano de mandato.

“Um ano depois de legislativas apresentar este pacote, se calhar até é demasiado ousado da nossa parte”, rematou.

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