Morte de adolescente pela polícia causa distúrbios nos arredores de Paris
Tumultos na cidade de Nanterre, nos arredores da capital francesa, após a morte de um jovem de 17 anos, atingido com um tiro no peito por um agente da polícia durante uma operação stop.
A morte de um jovem, pela polícia, na cidade francesa de Nanterre durante uma alegada tentativa de fuga originou uma série de distúrbios nas últimas horas nos arredores de Paris, levando as forças de segurança a deterem 24 pessoas.
O responsável pela polícia de Paris, Laurent Núñez, explicou esta quarta-feira ao canal CNews que os manifestantes incendiaram 42 veículos, além de máquinas utilizadas na construção, e insistiu que os 350 polícias destacados durante a noite impediram roubos em lojas e noutros edifícios.
“O dispositivo durará o tempo que for necessário”, disse Núñez sobre a manutenção do aparato policial nos próximos dias, acrescentando que 24 elementos das forças de segurança ficaram feridos nos confrontos.
A mesma fonte adiantou que os tumultos já eram esperados, após o incidente da manhã de terça-feira, em Nanterre, aludindo à morte de Naël, um jovem com alegados antecedentes criminais que conduzia sem documentos e que, após ser mandado parar pela polícia durante uma operação stop, tentou fugir com o veículo e acabou por ser morto a tiro.
Um vídeo dos acontecimentos registado por uma testemunha mostra como um dos agentes, de 38 anos, apontou a arma directamente para o jovem junto à janela do motorista enquanto o outro falava com ele do mesmo lado. Ambos os agentes foram detidos.
A Justiça abriu duas investigações, uma delas por homicídio voluntário. A segunda por causa da fuga da vítima. Esta decisão tem provocado a indignação da família do jovem que, de acordo com a sua advogada “em França não se pode julgar um morto”.
Em declarações à estação France Info, Jennifer Cambla indicou que a família pretende apresentar queixa por falsificação, considerando que os agentes envolvidos no incidente mentiram no seu primeiro depoimento.
A advogada insistiu que a reacção da polícia foi “absolutamente ilegítima” e que “não se enquadra no quadro da legítima defesa” porque “sentir-se ameaçado não basta para disparar uma bala no peito”.
O incidente gerou uma reacção política, especialmente de alguns dirigentes de esquerda, que denunciaram o grande número de mortes às mãos de agentes da polícia.
A estrela da selecção francesa de futebol Kylian Mbappé também reagiu, escrevendo numa mensagem, na sua conta no Twitter: "A França magoa-me. Uma situação inaceitável. Estou com a família e parentes de Naël, esse anjinho que se foi cedo demais".