Medidas dos governos que o BCE temia ajudaram a controlar inflação

Estudo apresentado por economista do FMI conclui que medidas como a redução dos impostos sobre os combustíveis limitaram subidas de preços no imediato, não criando pressões inflacionistas no futuro.

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Medidas fiscais limitaram escalada dos preços no auge da crise Paulo Pimenta
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Ao contrário do que instituições como o Banco Central Europeu (BCE) ou o Fundo Monetário Internacional (FMI) temiam, medidas orçamentais tomadas por diversos governos da zona euro como a redução dos impostos sobre os combustíveis ou o corte do IVA sobre a electricidade ajudaram a suavizar a evolução da inflação na zona euro, em vez de criarem uma pressão inflacionista adicional por causa do agravamento dos défices.

A conclusão é retirada de um estudo apresentado esta quarta-feira, no Fórum do BCE em Sintra, pelo economista-chefe do FMI. Pierre-Olivier Gourinchas analisou o impacto na zona euro da decisão de vários governos de, aumentando a despesa pública ou abdicando de receita fiscal, tentar mitigar no imediato a subida de preços sentida pelos consumidores, nomeadamente em produtos como os combustíveis, a electricidade ou os alimentos.

Em entidades como BCE ou o FMI, a aposta do Governo neste tipo de medidas foi visto com grande cepticismo. Para além do efeito negativo nos défices e nas dívidas do Estado e do entrave que podem significar para a redução do consumo energético, o receio é o de que, ao assumir estes aumentos de despesa e redução de receita, os governos estejam, com um uma política orçamental mais expansionista, a actuar no sentido contrário dos bancos centrais na luta contra a inflação. Isto é, que, ajudando as famílias a consumir, as medidas acabam por contrariar o efeito que os bancos centrais pretendem com as suas subidas de taxas de juro, que é arrefecer a procura para fazer descer a inflação.

É por isso que, há já vários meses, estas entidades aconselham os governos a tomar medidas que, para além de temporárias, sejam direccionadas apenas às famílias mais vulneráveis e não estimulem uma economia já sobreaquecida.

Como assinalou esta quarta-feira Pierre-Olivier Gourinchas, vários países europeus “decidiram seguir um caminho diferente”. Em média, na zona euro, os governos tomaram medidas num valor equivalente a 2,7% do PIB, tendo Portugal ficado apenas ligeiramente abaixo desse nível. E, passado mais de um ano desde que as medidas começaram a ser tomadas (principalmente a seguir ao início da guerra na Ucrânia), o efeito das medidas é agora visto como positivo para a luta contra a inflação na zona euro, de acordo com o estudo apresentado.

Aquilo que as medidas estão a fazer, na prática, é transferir alguma da inflação imediata para os anos seguintes e, ao fazer isto, a mitigar o problema que constitui o contágio do aumento dos preços da energia para o resto dos preços dos bens e serviços, para além de ajudar a controlar as expectativas de inflação.

O autor estima que as medidas tomadas pelos governos reduzam a inflação entre um e dois pontos percentuais em 2022 e 2023, registando-se em 2024 um efeito de subida, que, mesmo assim, acaba por ajudar a inflação a não cair abaixo da meta de 2% definida pelo banco central.

As medidas acabam por alisar a curva da inflação e, em especial, ajudam a evitar que uma inflação demasiado elevada agora provocada pelos preços da energia conduza a um agravamento significativo dos preços noutra áreas e agravem as expectativas dos agentes económicos para o futuro.

Pierre-Olivier Gourinchas alertou, contudo, que isto não significa que se tenha encontrado aqui uma receita para limitar a inflação em todas as circunstâncias. O resultado obtido, disse, “deveu-se a alguma sorte”.

Uma das sortes esteve no facto de a economia europeia não ter sobreaquecido tanto como, por exemplo, a norte-americana. “Quando a economia não está sobreaquecida, o efeito na inflação do impulso orçamental é mais moderado e a inflação europeia tem sido motivada mais por choques do que por um sobreaquecimento da economia, ao contrário dos EUA”, disse o economista do FMI. Uma simulação feita com a economia dos EUA aponta para que, se tivessem sido tomadas medidas do mesmo tipo, se iria ver a inflação disparar rapidamente alguns meses depois.

O outro motivo para falar de sorte vem do facto de o choque energético se ter revelado temporário. Se tivesse sido permanente, estaríamos perante o risco de o estímulo orçamental se ter de tornar também permanente, ajudando a criar mais inflação. Ainda se está por saber se efectivamente vão retirar as medidas dentro dos prazos previstos.

Na sua última intervenção da conferência, a presidente do BCE, Christine Lagarde, fez questão de deixar claro aquilo que o BCE quer que aconteça: “Agora é tempo de retirar as medidas. O espaço orçamental que foi usado deve ser reduzido em 2023 e não ir para 2024.”

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