Desmantelamento do Encrochat levou a mais de 6500 detenções em todo o mundo

Em Portugal as comunicações extraídas do Encrochat, o “WhatsApp dos criminosos”, foram fundamentais na detenção de Rúben Oliveira, conhecido como “Xuxa” e que está acusado de tráfico de droga.

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Em três anos, foram apreendidos 30,5 milhões de comprimidos de drogas químicas, 103,5 toneladas de cocaína, 163,4 toneladas de canábis, 3,3 toneladas de heroína. bruno lisita
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O desmantelamento do Encrochat, conhecido como o “WhatsApp dos criminosos”, a cujo servidor a polícia francesa conseguiu aceder no final de 2020, já levou até ao dia de hoje a 6558 detenções em todo o mundo, revelaram esta terça-feira as autoridades judiciais francesas e holandesas numa conferência em Lille.

De acordo com um comunicado da Europol, 197 destes detidos eram considerados alvos de elevada importância e foram apreendidos cerca de 900 milhões de euros: 739,7 milhões em numerário e 154,1 milhões congelados em bens ou contas bancárias.

A mesma informação revela que foram analisadas mais de 115 milhões de conversas de mais de 60 mil usuários que se suspeita estarem ligados ao mundo do crime, nomeadamente ao tráfico de droga.

Segundo o balanço feito pelas autoridades francesas e holandesas, que partilharam a informação que extraíram desta rede de comunicações com as polícias de outros Estados-membros da União Europeia e outros países, os processos de investigação que foram levados a cabo já resultaram em várias condenações a penas de prisão, num total de 7134 anos, assim como a apreensão de várias toneladas de drogas.

Assim, em três anos, foram apreendidos 30,5 milhões de comprimidos de drogas químicas, 103,5 toneladas de cocaína, 163,4 toneladas de canábis, 3,3 toneladas de heroína.

Além disso, as autoridades apreenderam também 971 veículos, 271 propriedades ou casas, 923 armas, bem como 21 750 cartuchos de munições e 68 explosivos. Foram também apreendidos 83 barcos e 40 aviões.

As comunicações extraídas do Encrochat foram igualmente fundamentais para as autoridades portugueses, por exemplo, no caso da detenção de Rúben Oliveira, conhecido como “Xuxa” e que está acusado de tráfico de droga.

Com apenas 39 anos (faz 40 em Dezembro deste ano), tem sido descrito por diversas fontes policiais como o maior traficante português, por ter montado uma rede de tráfico com ligações a grandes cartéis da Colômbia e do Brasil. Será, aliás, homem de confiança do Sérgio Carvalho, que é considerado o “Escobar brasileiro” na Europa.

Rúben Oliveira foi detido pela Polícia Judiciária em Junho do ano passado, nos Olivais, em Lisboa, no âmbito da Operação Exotic Fruit (a droga, nomeadamente cocaína, vinha para Portugal dissimulada em carregamentos de ananases, açaí, papaias e bananas). Está acusado, juntamente com mais 20 arguidos (dos quais três são empresas), de crimes de tráfico de estupefacientes agravado, associação criminosa para o tráfico e de branqueamento de capitais.

Mas porque é que os criminosos usavam esta rede? A rede EncroChat, assim como os telemóveis que eram fornecidos para a sua utilização, foram apresentados como algo que garantia o anonimato na perfeição porque as comunicações eram encriptadas.

Segundo revela a Europol, tinha até uma funcionalidade destinada a garantir o apagamento automático de mensagens e um código PIN específico para apagar todos os dados do telemóvel.

Isso permitiria aos usuários apagar rapidamente mensagens comprometedoras, por exemplo, no momento de uma eventual detenção pela polícia. Além disso, os dados do telemóvel podiam ser apagados à distância pelo fornecedor.

A EncroChat vendia criptotelefones por cerca de mil euros cada, à escala internacional. Também oferecia assinaturas com cobertura mundial, ao custo de 1 500 euros por um período de seis meses, com suporte 24 horas por dia, sete dias por semana.

As investigações sobre a suposta conduta criminosa da empresa que operava o EncroChat começaram em 2017 e depois de as autoridades francesas terem encontrado com muita regularidade os telemóveis encriptados nas detenções que faziam no âmbito de operações de combate ao crime organizado.

A polícia seguiu o rasto da empresa que fornecia o serviço e percebeu que operava através de servidores localizados em França. A partir daí foi montada uma mega operação que levou ao desmantelamento do Encrochat em 2020.

A Europol tem apoiado o caso desde 2018. Foi uma equipa grande e dedicada de especialistas da Europol que analisou mais de 115 milhões de mensagens e dados e os cruzou com as informações disponíveis nos seus sistemas e forneceu cerca de 700 pacotes com dados ​para países em todo o mundo.

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