Universidade de Coimbra chumba audição de Vladimir Pliassov
Conselho geral da instituição reprovou pedido para ouvir o professor de russo despedido em Maio por alegada “propaganda russa”, bem como o director da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
Vladimir Pliassov não vai ser ouvido no conselho geral da Universidade de Coimbra, ao contrário do que era pedido por alguns professores da instituição. A proposta foi chumbada pela maioria dos membros do conselho geral na reunião que teve lugar esta segunda-feira, em Coimbra, e incluía ainda um pedido para ouvir o presidente da Faculdade de Letras, Albano Figueiredo. A posição tomada pelo conselho geral já motivou a demissão de Ana Paula Arnaut, docente da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
Os pedidos de audição de Vladimir Pliassov acompanharam o desenrolar da própria rescisão do vínculo deste professor do Centro de Estudos Russos com a Universidade de Coimbra. Primeiro, cerca de 60 professores da Faculdade de Letras enviaram um abaixo-assinado em que era criticada a ausência de contraditório. Depois, no início deste mês, uma centena de professores e investigadores de toda a Universidade de Coimbra pedia a “urgente abertura de um processo de averiguação dos factos imputados àquele docente”, perante a falta de explicações claras do reitor Amílcar Falcão e a ausência de um inquérito antes do despedimento de Vladimir Pliassov.
O pedido de audição votado esta segunda-feira tinha sido proposto por alguns membros do conselho geral, com o intuito de ver respondidas algumas das dúvidas que se mantinham sobre o despedimento do antigo professor da Universidade de Coimbra, como a existência de propaganda russa ou o desconhecimento da reitoria da sua contratação – algo que é negado pelo próprio contrato, aprovado por despacho autorizado pelo vice-reitor da instituição.
O chumbo desta audição deverá marcar o fim da discussão deste caso no conselho geral da universidade, o principal órgão de fiscalização da reitoria (onde o reitor é também eleito), uma vez que, sem a aprovação das idas de Vladimir Pliassov ou de Albano Figueiredo ao conselho geral, não deverão surgir novos pedidos para discutir o caso neste fórum.
As acusações de propaganda russa surgiram no Jornal de Proença, a 8 de Maio, num artigo de opinião assinado por dois activistas ucranianos – que viria a ser republicado a 9 de Maio pelo Observador e mereceria a atenção de José Milhazes num comentário na SIC Notícias. Neste seguimento, Amílcar Falcão rescindiu no dia seguinte o vínculo com Vladimir Pliassov, que tinha um contrato a título gracioso com a Universidade de Coimbra. Apesar de, a 10 de Maio, a Universidade de Coimbra afirmar que estavam em causa “actividades lectivas do referido Centro de Estudos Russos” que “estariam a extravasar esse âmbito”, nunca foram esclarecidas quais as “actividades” em causa.
Membro do conselho geral demite-se
Na sequência desta última reunião do conselho geral da Universidade de Coimbra, esta segunda-feira de manhã, Ana Paula Arnaut demitiu-se das funções neste órgão, depois de ter tomado posse em 2020. A professora da Faculdade de Letras refere, no pedido de demissão escrito que enviou à presidência do conselho geral, que “conhecidos os resultados da votação do pedido de audição” considera “não haver condições para continuar no conselho geral”.
A também investigadora, especializada na obra de José Saramago, escreve ainda que este é “um episódio sobre o qual têm sido transmitidas versões contraditórias” e que a rejeição da audição de dois dos principais envolvidos é um “incumprimento” do que entende ser a obrigação de uma “instituição que deve pautar-se por ideais democráticos”, defende no texto a que o PÚBLICO teve acesso.
Apesar desta menção, Ana Paula Arnaut destaca que este pedido deve-se mais ao “tom veemente e agressivo que perpassou as palavras usadas” por alguns membros do conselho geral na justificação do voto contra a audição de Albano Figueiredo e Vladimir Pliassov. Ao PÚBLICO, Ana Paula Arnaut não quis comentar a sua demissão, para além do exposto no pedido escrito, nem especificar as críticas à justificação do voto, remetendo para o sigilo a que as reuniões do conselho geral estão sujeitas.