Festival Trengo leva circo a jardins, praças e bairros do Porto

Oitava edição arranca esta terça-feira e prolonga-se até domingo. Festival quer ser montra para artistas que não desistem do circo, “o parente pobre” da cultura. Espectáculos são quase todos gratuitos

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Festival Trengo apresenta 11 espectáculo na sua 8ª edição Lino Silva
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O Parque do Covelo volta a ser o epicentro do Trengo, mas o festival de circo vai espalhar-se por várias geografias da cidade do Porto, das mais improváveis às mais nobres – e ainda dar um saltinho até Viseu. A oitava edição da iniciativa da companhia Erva Daninha, com o apoio da Câmara do Porto e da Direcção-Geral das Artes, arranca esta terça-feira e prolonga-se até domingo com 22 apresentações de 11 espectáculos (quase todos gratuitos) e artistas de vários países para além de Portugal: Senegal, França, Itália, Espanha, Suécia e Brasil.

Quando completou uma década de trabalho, em 2016, a companhia Erva Daninha decidiu criar um festival. “Não por algum tipo de vaidade, mas porque sentíamos que o que existia era apenas para fazer circular companhias internacionais.” Nesse ano, ainda sem apoio da DGArtes, o modelo era de desenrasca. “Os artistas dormiam na minha casa”, recorda divertida Julieta Guimarães, co-fundadora da Erva Daninha.

O festival Trengo cresceu, solidificou-se, ganhou apoios. Mas faz questão de manter a “essência”: “Não temos ambição de fazer espectáculos vistosos para milhares de pessoas. Queremos estar nos parques, em zonas tranquilas, cativar malta jovem e famílias. Pagar cada vez melhor aos artistas e manter a proximidade com o público.”

Querem também ser uma espécie de montra para quem tem a luta inglória de sair das sombras com uma arte muitas vezes menorizada. “O circo continua a ser o parente pobre da cultura. Basta ver os valores que lhe são atribuídos pela DGArtes”, protesta.

O Trengo não se manifesta contra companhias internacionais, mas existe sobretudo para “criar uma rede de artistas que residem em Portugal” – não necessariamente portugueses, porque nas artes circenses as fronteiras são abolidas. A presença de agentes e programadores no Porto é uma oportunidade para muitos. Todos os anos, artistas que actuam na cidade ganham visibilidade e oportunidades de internacionalização. A programação feita com base no “boca a boca” dá oportunidade a quem tem “menos visibilidade fora dos circuitos poderosos franceses”.

Há 18 anos, quando a Erva Daninha nasceu, só a Circolando fazia circo em Portugal. “Deixaram de fazer. E percebo. Nós também somos candidatos a deixar de fazer, porque os apoios são tão poucos que se opta por fazer programação.” Em Portugal, está, ainda assim, a atingir-se um nível de “maturidade interessante”. Saiba, agora, o topo da hierarquia olhar para baixo: “Falta os programadores e a rede de cineteatros darem resposta a isto.”

A primeira companhia do Senegal

Um dos pontos altos do festival acontece no Teatro Municipal Rivoli (30 de Junho e 1 de Julho, 19h30) e no Teatro Viriato, em Viseu (2 de Julho às 19h), com o espectáculo senegalense Ancrage. “Na Europa estamos muito fechados na nossa cultura e, de repente, vem esta oportunidade de trazer uma coisa de um país africano, com uma energia inabalável”, elogia Julieta Guimarães. A Cie SenCirk foi a primeira estrutura de circo criada no Senegal, em 2006. Tem uma escola e promove oficinas para dar oportunidade a jovens artistas senegalenses de se integrarem social e profissionalmente. “O foco deles é tirar os miúdos da rua através do circo”, conta Julieta.

Esta edição traz duas co-produções em estreia: Livre, do INAC – Instituto Nacional de Artes do Circo (30 de Junho, às 19h30, no Parque do Covelo) e Baraka de Alexandre Duarte e Salgari Records (1 de Julho, às 16h e 2 de Julho, às 18h30, no Parque do Covelo). Além do Rivoli, também o Coliseu do Porto, a Praça D. João I e o Bairro Pinheiro Torres se fazem palco do festival este ano.

Durante uma semana, o Trengo ofereceu formação a artistas. E nos dias 1 e 2 de Julho chega a vez dos mais novos (maiores de seis anos), com as “oficinas trenguinhos”, no Clube de Circo Contemporâneo. A bolsa Trengo, uma novidade desta edição para apoiar a criação de projectos emergente de circo, teve 38 candidaturas e acabou por apoiar o projecto Aria, da companhia Nordistiny’s (actua dia 29 de Junho, às 19h15 e dia 30 de Junho às 18h30, no Parque do Covelo).

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