Portugal está morto e vivo no Europeu sub-21

Portugal está vivo no Europeu, porque ganhando à Bélgica ainda pode seguir em frente, mas não podemos dizer que a saúde seja muita: o cenário é difícil e o desempenho voltou a ser cinzento.

Zé Carlos (à esquerda) em acção frente aos Países Baixos
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Zé Carlos (à esquerda) em acção frente aos Países Baixos EPA/YURI KOCHETKOV
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Consideremos um cenário no qual uma equipa, numa fase de grupos de um Europeu sub-21, perde o primeiro de três jogos – e frente ao adversário teoricamente mais frágil do grupo. Consideremos também que, na partida seguinte, defronta a equipa que é, em tese, a mais forte – e que leva uma geração de talentos já consolidados no futebol de primeira água. É difícil traçar um cenário mais negro do que este, mas Portugal sobreviveu e ainda está vivo – ainda que não muito.

Neste sábado, depois de já ter perdido com a Geórgia, somou um empate (1-1) frente aos Países Baixos. Podemos dizer que Portugal está vivo, porque ganhando à Bélgica ainda pode estar nos quartos-de-final, mas não podemos dizer que a saúde seja muita, porque não só o cenário pontual não é agradável como a equipa voltou a ter um desempenho bastante cinzento. Schrödinger e o seu gato numa caixa teriam uma teoria sobre este estado simultâneo de vida e morte da selecção portuguesa.

Roberto Martínez, seleccionador nacional da equipa principal, esteve na bancada, mas dificilmente saiu deste jogo com indicações cabais de qualidade de boa parte dos jogadores.

Sim, Penetra e Amaro, na defesa, tiveram desempenhos de bom nível em defesa baixa, apesar dos erros com bola. Sim, Pedro Neto fez o que pôde numa posição que não é a sua e “inventou” um golo. Sim, Celton Biai, apesar da insegurança, fez um trio de defesas importantes. Mas pouco mais há a elogiar no prisma individual.

4x4x2 losango

A primeira parte em Tbilisi teve contornos curiosos. Portugal levou a este jogo o habitual 4x4x2 losango e começou por sofrer do mal que este sistema padece quando não é bem trabalhado ou quando não tem jogadores de predicados muito específicos.

Os Países Baixos, com muitos jogadores por dentro, fizeram com que os médios interiores portugueses tivessem receio de defender muito abertos, deixando muito espaço ao adversário para explorar pelos corredores – Samu, por exemplo, pelas rotinas de 6, teve tendência para estar muito dentro na zona central.

Até pela forma como passava facilmente a dupla atacante portuguesa – com ajuda do guarda-redes –, os Países Baixos tinham sempre superioridade quando os laterais subiam e os médios interiores só faziam contenção.

E foi assim que a equipa neerlandesa criou lances de triangulações, como aos 9’ e 14’, e também assim que chegou ao golo aos 12’, num lance de tremenda liberdade para cruzamento e cabeceamento certeiro de Taylor – anulado por fora-de-jogo – e esteve perto do golo aos 20’, num lance de ala que acabou com remate de Brobbey e defesa de Biai.

Em bom português, os neerlandeses estavam a dar um “banho de bola” nos primeiros 20 minutos.

Já Portugal tinha, ofensivamente, um losango também ele incapaz, já que não era executado no sentido de subir os laterais para desequilíbrios e ter um médio próximo para superioridades, mas muitas vezes era apenas com o médio interior encostado à linha, como um extremo – e nisso Neves e Samu não são fortes.

A solução era bater bolas longas na frente, como as duas enviadas para o espaço antes dos 8’ e aquela enviada aos 21’. Nesta última, Pedro Neto, o “alvo” de todas estes passes longos, conseguiu espaço para drible e cruzou para o desvio certeiro de André Almeida.

O futebol português, algo rudimentar, parecia até um desperdício das competências de Pedro Neto – que não só não pôde jogar na ala, como mais gosta, como ainda teve de actuar sobretudo na meia-esquerda, sendo obrigado quase sempre a usar o pé direito, o menos forte. Mas o aparente desperdício de talento de Neto como extremo puro estava, na prática, a dar resultado – e o português teve sucesso como alvo de bolas longas.

Defender, defender…

A vantagem no marcador seduziu Portugal a baixar linhas e defender frequentemente com 11 jogadores atrás da linha da bola, algo que deu maior conforto ao losango – sobretudo porque Neto e Fábio Silva começaram a ajudar a defender os laterais neerlandeses.

Só mais uma vez houve real perigo dos Países Baixos, sempre com Brobbey a jogar em apoios frontais e a servir os alas – Summerville criou perigo aos 40’.

O resultado podia não espelhar o que se passava em campo, mas, numa prova curta, o mais importante estava a ser feito – ainda que Rui Jorge desvalorize frequentemente os resultados nos sub-21, preferindo apelar à demonstração de qualidade.

Na segunda parte houve mais remates dos Países Baixos logo a abrir e Rui Jorge mostrou que o que queria da partida era, essencialmente, intensidade sem bola que permitisse manter o estado de coisas.

Trocou os dois atacantes por dois jogadores frescos para fazerem raides defensivos constantes e colocou Paulo Bernardo no lugar de André Almeida, também tendo um médio mais fresco para jogar sem bola e um jogador como João Neves na posição 10 – que foi mais um segundo 6 do que um 10. Ofensivamente, a ideia já não passava por ter dois avançados a explorarem o espaço, mas dois alas abertos, para transições, mesmo que isso retirasse presença na área.

Os neerlandeses estavam novamente a comandar o jogo e aos 73’ Brobbey esteve perto do golo – voltou a salvar Biai – e aos 79’, após um canto, o jogador mais perigoso dos neerlandeses chegou, finalmente, ao sucesso. Finalizou e marcou o 1-1, resultado que espelhava um pouco melhor o que se tinha passado em Tbilisi.

Com cerca de dez minutos para jogar, Portugal tinha uma escolha dura: ir para o ataque e arriscar sair do Europeu ou agarrar-se a um empate que deixava tudo em aberto para a última jornada, ainda que num cenário difícil. No papel, Rui Jorge escolheu a primeira opção, trocando Dantas por Henrique Araújo. Na prática, a equipa não foi especialmente audaz na procura do golo e tudo ficou como estava.

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