Torrão: um roteiro entre a planície e as curvas do Sado

A vila é conhecida pela doçaria, mas tem-se mostrado especial também pelo vinho e pela beleza da paisagem. Roteiro de dois dias em redor de um território que tem resistido ao turismo de massas.

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Passeios no Sado com a Sunrice Tours Marisa Cardoso
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Estrada a caminho da Herdade da Barrosinha Marisa Cardoso
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Barragem do Pego do Altar, em Santa Susana Marisa Cardoso
,Garrafa de vidro
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Herdade da Arcebispa Marisa Cardoso
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Arrozal em Alcácer do Sal
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Sara Carapinha, enóloga da Herdade da Barrosinha
Vinho
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Herdade da Barrosinha Marisa Cardoso
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Vila do Torrão, Alcácer do Sal Marisa Cardoso
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Vinhas da Herdade da Barrosinha, Alcácer do Sal Marisa Cardoso
,Garrafa de vidro
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Herdade da Barrosinha, Alcácer do Sal Marisa Cardoso
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Discretamente estacionada a 30 minutos de Alcácer do Sal, a vila do Torrão, conhecida pela doçaria, tem-se mostrado especial em várias frentes. Uma delas o vinho, que ali tem encontrado as condições ideais para se fazer bom. Outra é a beleza da paisagem, entre a várzea e o montado, com o bónus acrescido de ser uma das últimas sobreviventes ao turismo de massas. Motivos de sobra para dois dias de passeio em redor do Sado.

Antes de entrar na vila propriamente dita, uma breve paragem no parque de merendas pode servir de nota introdutória ao que dali a cerca de meio quilómetro se vai encontrar no Torrão: História e tradição orgulhosamente juntas na preservação de uma identidade local que não esconde as origens agrícolas e a forte ligação ao Sado.

É ali, na berma da EN2, junto à ponte romana que liga as duas margens do que agora é um muito tímido curso do rio Xarrama – a seca tem sido catastrófica para os afluentes do Sado –, que surge o convite para entrar.

De carro, a chegada ao centro faz-se em dois minutos e com alguma falta de charme. Outra opção, mais longa e exigente, mas muito mais contemplativa, é seguir pelo trilho que desce do parque em direcção à pedreira e ir descobrindo a várzea, os arrozais, o montado e o olival que circundam a vila, até invariavelmente chegar à Praça Bernardim Ribeiro, onde tudo começa – e que oferece uma série de bons motivos para uma paragem.

Torrão, Alcácer do Sal Marisa Cardoso
Torrão, Alcácer do Sal Marisa Cardoso
Torrão, Alcácer do Sal Marisa Cardoso
Torrão, Alcácer do Sal Marisa Cardoso
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Torrão, Alcácer do Sal Marisa Cardoso

Desde logo, o Besugo, que podia perfeitamente chamar-se “café central”, não fosse a força e antiguidade do nome que tem, e que é o sítio certo para conhecer de que se faz a gastronomia local.

Primeira coisa a saber: venha o que vier para a mesa, virá em travessa de inox, que costuma ser um bom indicador de honestidade na cozinha e que aqui se confirma. Segunda: perguntar pelas bifanas que não estão no menu. Terceira: optar pelas bifanas, apesar da oferta tentadora de pratos do dia. Chamar-lhes bifanas é um eufemismo que se comprova no tamanho sobredimensionado do pão e respectivo recheio: carne finíssima bem batida e aconchegada num ovo frito, “que vai ainda melhor com uma pinguinha de picante e um jarrinho de branco”, sugere-se.

O vinho da casa é da Península e a oferta, que pode ser consultada na carta ou perguntando directamente o que há, não foge muito do que se produz nas adegas vizinhas.

Tratada que está a primeira refeição do dia, a ordem é continuar, agora seguindo o Trilho da Ermida. Saindo da mesma praça, “onde param as camionetas”, o percurso de três quilómetros oferece o roteiro completo dos monumentos da vila – sobretudo igrejas –, mas a certa altura obriga a um ligeiro desvio para chegar ao promontório da Ermida de Nossa Senhora do Bom Sucesso, unanimemente apresentada como “visita obrigatória”, mas que pela vista de rio roubada por um olival intensivo plantado à porta e o quase estado de abandono do edifício, talvez não valha a subida.

Restaurante O Besugo, na vila do Torrão (Alcácer do Sal) Marisa Cardoso
Carne finíssima bem batida e aconchegada num ovo frito, “que vai ainda melhor com uma pinguinha de picante e um jarrinho de branco”. No restaurante O Besugo, no Torrão (Alcácer do Sal), vale a pena conferir a bifana. Marisa Cardoso
Ermida de Nossa Senhora do Bom Sucesso, no Torrão (Alcácer do Sal) Marisa Cardoso
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Restaurante O Besugo, na vila do Torrão (Alcácer do Sal) Marisa Cardoso

De regresso ao centro, uma boa nova que vem mesmo a calhar para equilibrar a intensidade do passeio: há um espaço novo no Torrão, o São João, uma casa de vinhos e petiscos que nasceu numa antiga taberna com o mesmo nome e se transformou na meca da “melhor imperial da terra” – quem o diz é Nuno Pestana, ex-vereador do Município de Alcácer do Sal, apreciador dos prazeres que a boa comida e bebida regionais oferecem, que trocou a carreira política pelo gosto de receber e partilhar à mesa.

Ele trata dos vinhos e do serviço; a mulher, Sandra, cozinha e são dela os ovos de codorniz de tomatada, os choquinhos de coentrada, as moelas, as sobremesas alentejanas e as demais “coisinhas para picar”. Mais a sério, há porco preto e maminha na grelha, bifanas do lombo e um prato do dia que varia conforme a inspiração e que pode passar pelos filetes de peixe-galo com arroz de coentros. Está aberto até à meia-noite (por vezes, até às 2h) e depois de a cozinha encerrar há uma montra muito jeitosa com queijos, enchidos e saladas frias para servir até ao fecho.

Café São João, uma casa de vinhos e petiscos que nasceu numa antiga taberna, no Torrão (Alcácer do Sal) Marisa Cardoso
Sandra e Nuno Pestana, proprietários do Café São João, no Torrão (Alcácer do Sal) Marisa Cardoso
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Café São João, uma casa de vinhos e petiscos que nasceu numa antiga taberna, no Torrão (Alcácer do Sal) Marisa Cardoso

Casa, comida e vinho à beira-rio

Podia ser que os torranenses se queixassem da falta de turismo na vila, mas até nem é o caso. Não tendo sido vítima das invasões dos últimos anos, também não se sentem esquecidos. No Verão, o movimento é trazido pelos banhistas da Comporta, e no resto do ano a afamada doçaria do Torrão e o marco da rota da EN2 são marketing suficiente para que quase todos os dias se vejam caras novas na vila.

Antes de voltar à estrada, uma última espreitadela à Praça Bernardim Ribeiro para assistir a um espectáculo de pôr-do-sol que pinta o centro da vila de rosa e lilás.

Em direcção à Alcácer do Sal, com os arrozais e o rio Sado a acompanhar a EN5, quase à entrada da cidade, a Herdade da Barrosinha aparece do lado esquerdo e é o poiso para os próximos dias.

Fundada há quase 70 anos, a maior casa agrícola do concelho já viveu várias vidas até se assumir oficialmente como hotel, em 2019 (depois de ter sido uma albergaria e um hotel rural), para dar novo fôlego à oferta enoturística da casa.

Mas vamos por partes, que há muito para fazer dentro dos dois mil hectares que a Barrosinha ocupa. Antes de se conhecer os cantos à casa – e atenção que a casa é grande –, há que perceber que a herdade se distribui por vários edifícios de traça industrial, com tectos altos, janelões rasgados e terreno a perder de vista. Por estar inserida numa paisagem riquíssima, colada ao Sado, com zonas de arrozal, serra e açude, faz uso da localização privilegiada para se assumir como montra do que de melhor se produz na região, não só a nível de produto, mas também de tradição.

Herdade da Barrosinha, Alcácer do Sal Marisa Cardoso
Herdade da Barrosinha, Alcácer do Sal Marisa Cardoso
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Herdade da Barrosinha, Alcácer do Sal Marisa Cardoso

Comece-se pelos vinhos, sete referências no total, entre branco, tinto, rosé e moscatel, produzidos nas duas vinhas da herdade, num total de 100 hectares divididos entre as cepas mais velhas, plantadas à frente da herdade, e a vinha mais “jovem”, a cerca de 5 quilómetros da casa-mãe. De ambas saem as castas tradicionais da região de Setúbal e um par de francesas tintas.

A magia da transformação acontece na adega ao lado do hotel, onde Sara Carapinha, enóloga, explica que as características únicas do vinho da Barrosinha se devem em grande parte ao clima quente, temperado pela brisa do rio, que obrigou a antecipar a vindima para meados de Agosto, para garantir a qualidade. “Agora estuda-se a uva no campo, para saber quando está pronta para ser transformada. E é esse acompanhamento, que antigamente não se fazia, que garante a qualidade dos nossos vinhos”, diz.

A visita à adega não tem uma fórmula definida, acontece como acontece, muito ao sabor do que os visitantes procuram. Desde a revisitação de alguma maquinaria antiga – ainda em funcionamento – até ao laboratório onde é testado o produto, passando pela zona de engarrafamento, o momento mais inusitado acontece quando Sara distribui os copos de prova e se serve directamente da barrica. Não apenas de uma, mas de duas, de castas distintas e que, inesperadamente, criam um blend feito na hora.

O resultado é perfeito? Nem sempre, porque para isso era preciso medir com rigor a quantidade exacta de cada casta dentro de cada copo, mas assim, em jeito de self-service, é possível brincar aos enólogos, ao mesmo tempo que se descobre vinhos que normalmente não seriam dados à prova.

Adega da Herdade da Barrosinha (Alcácer do Sal) Marisa Cardoso
Adega da Herdade da Barrosinha (Alcácer do Sal) Marisa Cardoso
Sara Carapinha, enóloga da Herdade da Barrosinha (Alcácer do Sal) Marisa Cardoso
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Adega da Herdade da Barrosinha (Alcácer do Sal) Marisa Cardoso

Espíritos mais apontados para a previsibilidade têm sempre a opção do plano habitual de prova, que pode acontecer na Taberna – antiga cantina da escola primária dos funcionários da herdade, agora a servir petiscos alentejanos todo o dia, num espaço praticamente inalterado desde a fundação, em 1947 –, na sala de convívio do hotel ou na adega.

Há queijos, enchidos e pão para acompanhar e, no fim, uma visita à loja de produtos regionais, onde estão para levar para casa todos os intervenientes da prova. A variedade de vinhos servidos é personalizável e os preços combinados directamente com a Herdade.

Taberna da Herdade da Barrosinha (Alcácer do Sal) Marisa Cardoso
Taberna da Herdade da Barrosinha (Alcácer do Sal) Marisa Cardoso
Taberna da Herdade da Barrosinha (Alcácer do Sal) Marisa Cardoso
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Taberna da Herdade da Barrosinha (Alcácer do Sal) Marisa Cardoso

A sugestão é que se deixe esta aventura para depois de almoço, aproveitando a manhã para ir ver o Sado. “Não é um rio qualquer”, diz Manuel Magalhães, skipper do “único barco movido a energia solar em Alcácer”, da Sunrice Tours. E o que o torna tão especial não é a água salobra onde habitam mais de 800 espécies de aves, nem sequer os robalos de mar que ali vão desovar ou o facto de ter sido a principal rota de transporte de mercadorias de romanos e fenícios, não. O que faz do Sado o Sado são “as várias paisagens que se encontra ao longo do seu curso, que num momento se parecem à Amazónia e noutro ao Sudeste Asiático”.

Por sorte, é mesmo ali, partindo do porto da cidade para montante, onde o rio se torna mais serpenteante e intimista, que tudo se encontra: fauna, flora, uma ilhota que já serviu de poiso a banhistas, casas de pescadores e até vestígios de ânforas romanas em repouso numa das margens. A bordo, a recepção faz-se com uma tábua de enchidos, fruta fresca e um branco da Barrosinha, tudo isto ajustável ao gosto de cada grupo. O barco tem capacidade para 10 pessoas e as várias modalidades de passeio, desde observação de aves a pequeno-almoço ao nascer do sol, podem ser marcadas na recepção do hotel ou directamente com o operador.

Manuel Magalhães é o skipper da Sunrice Tours, que propõe viagens Sado acima num barco movido a energia solar. Marisa Cardoso
Passeio no Sado com a Sunrice Tours Marisa Cardoso
Passeio no Sado com a Sunrice Tours Marisa Cardoso
Passeio no Sado com a Sunrice Tours Marisa Cardoso
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Manuel Magalhães é o skipper da Sunrice Tours, que propõe viagens Sado acima num barco movido a energia solar. Marisa Cardoso

Nas últimas horas de luz, ainda há tempo para um mergulho na piscina da Barrosinha. Tem acesso directo através das varandas dos quartos mais recentes e oferece uma vista simpática para o campo e a garantia de um fim de tarde refrescante quanto baste, sobretudo quando acompanhado de um último copo de vinho antes do jantar no restaurante do hotel. A ementa é curta, com duas opções alentejanas e uma vegetariana. Por oposição, a carta de vinhos é agradavelmente competente, com boas referências da casa a copo.

Na herdade, além dos 37 quartos no edifício principal do hotel, há seis villas T1 e T2 mais resguardadas e uma “pequena” mansão privada com quatro quartos e piscina.

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A piscina da Herdade da Barrosinha tem acesso directo através das varandas dos quartos mais recentes e oferece uma vista simpática para o campo em redor. Marisa Cardoso

A doce despedida

O regresso ao Torrão, na manhã seguinte, tem de acontecer impreterivelmente entre as cinco da manhã e o meio-dia, hora a que Vânia Jesus fecha as portas da Pastelaria do Tio Raimundo, queimando, assim, qualquer possibilidade de se deitar o dente às últimas queijadas do dia. A receita é a das famosas queijadas do Torrão, trabalhada pela experiência de 50 anos de pastelaria do pai de Vânia, Raimundo de Jesus.

Fica, no entanto, o alerta: não há sinalética de espécie alguma a anunciar a pastelaria, pelo que a solução é confiar nas indicações do Google, mesmo que a certa altura pareça impossível que naquela rua residencial uma das portas de alumínio dê entrada para uma pequena fábrica de bolos. A venda faz-se directamente ao público, não há sítio para sentar e as fornadas do dia incluem queijadas, ferraduras, discos, costas estendidas e costas dobradas (com canela, erva-doce, banha e açúcar) e bolos secos. Cumprida que está a missão de “levar qualquer coisinha para casa de recordação” – uma caixa com seis queijadas custa 6 euros –, a viagem segue, aproximando-se do fim.

Vânia Jesus e o pai, Raimundo, fazem as queijadas mais cobiçadas do Torrão, na Pastelaria do Tio Raimundo. Marisa Cardoso
Queijadas do Torrão, da Pastelaria do Tio Raimundo Marisa Cardoso
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Vânia Jesus e o pai, Raimundo, fazem as queijadas mais cobiçadas do Torrão, na Pastelaria do Tio Raimundo. Marisa Cardoso

Antes da despedida das terras do Sado, a paragem no restaurante A Mondina, em Santa Susana, debruçado sobre a albufeira do Pego do Altar, devia ser tornada lei. Não haverá em Portugal muitas esplanadas tão bem situadas como esta que desce em socalco em direcção à água. Funciona há 54 anos e vai já na quarta geração da família Consciência.

Actualmente são Rui e Célia a gerir a casa e fazem-no com distinção, seja no serviço, simpático e acolhedor, ou na cozinha, honesta e fiel ao receituário regional, que o digam o choco frito e a salada da horta, temperada por alguém que sabe que na hora de dar sabor a um tomate não há que ter medo de carregar no azeite e no sal. A carta de vinhos é modesta e dá destaque aos de Setúbal, que estão disponíveis a copo, à garrafa ou em jarrinhos de meio litro.

O restaurante A Mondina, em Santa Susana, fica debruçado sobre a albufeira do Pego do Altar. Marisa Cardoso
Restaurante A Mondina, Santa Susana (Alcácer do Sal) Marisa Cardoso
Restaurante A Mondina, Santa Susana (Alcácer do Sal) Marisa Cardoso
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O restaurante A Mondina, em Santa Susana, fica debruçado sobre a albufeira do Pego do Altar. Marisa Cardoso

Dali até à Herdade da Arcebispa, outro nome de peso entre os produtores de vinho da região, são 15 minutos de carro pela Nacional 253, durante os quais vale a pena ir encostando para fotografar uma ou outra cegonha que por ali pousa.

A sociedade agro-pecuária foi fundada em 2006 e só dez anos mais tarde lançou a primeira gama de vinhos com a marca Herdade da Arcebispa. Hoje são 14, alguns premiados, provenientes de 35 hectares de vinha, entre o Alqueva e Alcácer. Visitantes curiosos talvez não se entusiasmem com a visita à adega, por não haver grandes referências à produção tradicional. O cenário é maioritariamente povoado por gigantes cubas de inox e uma sala de barricas. “É o preço a pagar pela tecnologia de ponta”, explica o enólogo Gonçalo Carapeto, que sempre que pode tenta desviar os visitantes para aquilo de que ele sabe que vêm à procura: o refeitório dos trabalhadores da herdade, qual sala de associação desportiva da aldeia.

Herdade da Arcebispa, em Castelo de Arez (Alcácer do Sal)
Herdade da Arcebispa, em Castelo de Arez (Alcácer do Sal)
Gonçalo Carapeto é o enólogo da Herdade da Arcebispa.
Herdade da Arcebispa, em Castelo de Arez (Alcácer do Sal)
Herdade da Arcebispa, em Castelo de Arez (Alcácer do Sal)
Herdade da Arcebispa, em Castelo de Arez (Alcácer do Sal)
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Herdade da Arcebispa, em Castelo de Arez (Alcácer do Sal)

É lá que se põe a mesa das provas, com a mesma informalidade com que se almoça com os colegas, e até com a mesma ementa: queijo e os enchidos que houver, pão alentejano e um prato com toucinho de porco preto curado em sal e alho picado, “que é uma bomba para o coração, mas vale a pena só pelo prazer de acompanhar com o nosso branco”, diz Gonçalo. Do branco ao espumante da Arcebispa é um saltinho, e uma óptima desculpa para limpar o palato antes de passar para os tintos que acompanham os queijos.

No fim, o licoroso, que não se pode chamar moscatel por razões territoriais, é servido com uma das maravilhas da doçaria conventual portuguesa, o bolo de chocolate e mousse com creme de ovos e cobertura de mousse, que é isso tudo que anuncia ser. As provas devem ser marcadas com antecedência e os preços são sob consulta.

Quase em inconfidência, deixa-se uma última sugestão: perguntar a Gonçalo pelo Sacrifício, vinho que o próprio ali produz desde 2016 e do qual fala com alguma reserva, para não interromper o que está a contar sobre os 450 mil litros de vinho que a Arcebispa produz anualmente. Infelizmente, o Sacrifício não está à prova durante a experiência, mas é possível encontrá-lo em garrafeiras e alguns restaurantes locais.

Por esta altura estima-se que haja alguém que se tenha disposto a abdicar do que acabou de ser descrito em prol da segurança rodoviária no regresso a casa. A visita à Arcebispa pode ser o final de boca perfeito, mas tem muito pouco de inofensiva.


Este artigo foi publicado na edição n.º 5 da revista Solo.

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