A sopa caramela e o vinho que lhe faz companhia
A sopa caramela, herança dos trabalhadores oriundos da Beira Litoral que ajudaram a desenvolver a região, é hoje uma das atracções gastronómicas de Palmela.
Moscatel Roxo, a casta que quase desaparecia à bicadaApesar de a Península de Setúbal ser uma região às portas de Lisboa, algumas das freguesias agrícolas de Palmela, em especial Pinhal Novo, Poceirão e Marateca, só se desenvolveram com o contributo de gente vinda de várias regiões da Beira Litoral. Gente rural e analfabeta, ficaram conhecidos como os caramelos. E, para não variar, trouxeram costumes gastronómicos que, hoje, são atracção enoturística. Entre eles a sopa caramela e o arroz doce (a malta dos arrozais do centro do país sabia fazê-lo muito bem).
A coisa é de tal forma que a maior adega da região – a Casa Ermelinda Freitas – recebe grupos de pessoas que, diz Leonor Freitas a rir, “Não sei se vêm por causa dos nossos vinhos ou por causa da sopa caramela e do arroz doce. Ainda recentemente recebemos um grupo de 40 pessoas.”
Por assim dizer, a sopa mais não é do que uma variante da sopa da pedra, mas com mais vegetais. Se hoje se apresenta como tal, inteira e numa única malga, na casa da mãe de Leonor – a Ermelinda Freitas –, era decomposta: “Primeiro vinha o caldo com as leguminosas e os vegetais, só depois é que vinham as carnes, o conduto, que era assim que se designava. Noutros tempos, os meus filhos não ligavam nenhuma à sopa caramela, mas hoje já não é bem assim. Nem eles, nem alguns dos nossos colaboradores que, quando os visitantes vão embora, ficam a perguntar se não sobrou sopa.”
Uma dica: Se alguém é fã desta sopa de entulho, experimente prová-la com um vinho branco mais estruturado (e não necessariamente com um tinto). Já fizemos uns testes em Almeirim, pelo que sabemos do que estamos a falar.
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Este texto foi publicado no n.º 5 da revista Solo.