Harrison Ford começou a sua carreira no ecrã em 1966, e parecia votado a papéis menores. Nada que o preocupasse: afinal, garante hoje, com 80 anos (quase 81, a 13 de Julho), apenas ambicionava “ganhar a vida como actor e não ter de complementar o rendimento com outra actividade secundária”. E continua: “Ninguém acredita nisto, mas eu nunca quis ser rico e famoso. Só queria ser actor.”
Em conversa com a revista People, numa edição da qual é capa e que chega dia 26 às bancas, Ford até se recorda de imaginar que “teria sorte se tivesse um papel de personagem num programa de televisão normal”.
Mas o normal deu lugar ao extraordinário, sobretudo depois de ter enchido o grande ecrã com um dos maiores e melhores personagens da história do cinema, de acordo com uma lista compilada pela britânica Empire, em 2020. Han Solo era um contrabandista ganancioso e cínico, imprudente e aparentemente egoísta, mas também um leal amigo de Chewbacca — e um inesperado aliado dos Jedi. A Guerra das Estrelas catapultou-o para o sucesso.
Depois, com a chegada de Indy à sua vida, com Indiana Jones e Os Salteadores da Arca Perdida, em 1981, tornou-se claro que viria a ter um lugar cativo entre os maiores. Para mais porque Ford não se ficou pelos papéis populares: foi um excêntrico inventor em A Costa do Mosquito (1986), o analista da CIA Jack Ryan em Jogos de Poder - O Atentado (1992), o médico Richard Kimble em O Fugitivo (1993), o galã Linus em Sabrina (1995), um marido enganado em Encontro Acidental (1999), um agente na reserva em Blade Runner 2049 (2017). Pelo meio, houve mais quatro filmes em que apareceu na pele de Han Solo e seis em que foi Indy (o último, Indiana Jones e o Marcador do Destino, chega às salas no dia 28).
“Nunca pensei que seria um actor principal”, desabafa à People, ao longo de uma conversa em que não se esquiva ao tema idade, admitindo as suas desvantagens (uma rotura muscular num ombro no segundo dia de filmagens de Indiana Jones e o Marcador do Destino ainda não está sarada), mas sem deixar de declarar que não sofre de saudosismo. “Não quero voltar a ser jovem (…), gosto de ser velho.” E, diz, nunca gostou tanto de fazer filmes como agora.
Algo que, provavelmente, não passou despercebido em Cannes, onde o filme estreou e Harrison Ford foi homenageado com a Palma de Ouro pela sua carreira, um momento que guarda na memória com carinho: “Os aplausos da multidão foram muito generosos.”
Mas não se pense, por isso, que a reforma está para breve. Aliás, a sua agenda poucas vezes esteve tão preenchida e na calha estão previstos dois filmes para o próximo ano, ambos do universo Marvel: Thunderbolts, de Jake Schreier, e Captain America: Brave New World, de Julius Onah.