Ao fim de cinco horas e meia, Blinken e Qin Gang concordaram em voltar a encontrar-se

Expectativa sobre a primeira visita de um chefe da diplomacia dos EUA à China em cinco anos era baixa, mas o facto de o ministro chinês ter ido receber o seu homólogo ao exterior pode ser simbólico.

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Antony Blinken e Qin Gang, depois da fotografia e antes do encontro LEAH MILLIS/Reuters

O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, enfatizou este domingo a importância de manter linhas de comunicação abertas com a China para reduzir o risco de equívocos durante uma conversa com o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Qin Gang, em Pequim, que durou mais de cinco horas e terminou com os dois a concordarem em reunir-se de novo em breve, em Washington.

Na primeira visita de um chefe da diplomacia norte-americana à China em cinco anos, Blinken manteve conversas "sinceras, substanciais e construtivas" com o conselheiro de Estado e ministro dos Negócios Estrangeiros da República Popular da China (RPC), de acordo com um porta-voz do Departamento de Estado.

"O secretário enfatizou a importância da diplomacia e da manutenção de canais abertos de comunicação em todas as questões para reduzir o risco de percepções erradas e cálculos equivocados", disse Matthew Miller, porta-voz do Departamento de Estado.

Blinken também se referiu a várias questões em relação às quais os EUA estão preocupados, ao mesmo tempo que salientou as “oportunidades para explorar a cooperação em questões transnacionais partilhadas com a RPC, onde os nossos interesses se alinham", acrescentou em comunicado.

Antes das conversações, em Washington não havia muito optimismo sobre o que podia vir a acontecer. As possibilidades de haver avanços na longa lista de disputas entre as duas maiores economias do mundo eram ínfimas, desde os esforços dos EUA para conter a indústria de semicondutores da China até ao estatuto de Taiwan, passando pelo histórico de direitos humanos da China.

Miller referiu que Blinken convidou Qin para visitar Washington "para dar continuidade às discussões e concordaram em agendar uma visita recíproca num momento mutuamente adequado".

Blinken, que adiou a viagem à China em Fevereiro depois de um suspeito balão espião chinês sobrevoar o espaço aéreo dos EUA, é o mais alto funcionário do governo dos EUA a visitar a China desde que o Presidente Joe Biden assumiu o cargo em Janeiro de 2021.

Mesmo não havendo avanços nas conversações, o gesto de Qin de receber Blinken e a sua delegação no exterior da Casa de Hóspedes do Estado de Diaoyutai, em Pequim, em vez de no interior, como é habitual, pode ser visto como um bom sinal, tendo em conta o peso que Pequim dá ao simbolismo.

Os dois foram conversando enquanto caminhavam, tendo o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês perguntado ao seu homólogo, em inglês, como tinha sido a viagem, antes de apertarem as mãos para a fotografia junto às bandeiras dos dois países.

Nem um nem outro fizeram, no entanto, qualquer declaração antes ou depois de entrarem para o encontro de cinco horas e meia.

Quem comentou foi a vice-ministra dos Negócios Estrangeiros chinesa. No Twitter, com uma imagem dos dois ministros a cumprimentarem-se junto às bandeiras, Hua Chunying escreveu: "Espero que esta reunião possa ajudar a direccionar as relações entre a China e os EUA de volta ao que os dois Presidentes concordaram em Bali.”

Joe Biden e Xi Jinping tiveram o seu primeiro encontro cara a cara em Novembro, na ilha indonésia de Bali, à margem da cimeira do G20, conversando francamente sobre temas como Taiwan e a Coreia do Norte e prometendo manter uma comunicação mais frequente entre os dois.

Blinken vai ficar até segunda-feira em Pequim, tendo um encontro marcado com Wang Yi, director da comissão de Negócios Estrangeiros do comité central do Partido Comunista Chinês, e possivelmente com o Presidente Xi Jinping.

Autoridades dos EUA e analistas esperam que a visita de Blinken abra caminho para mais reuniões bilaterais entre Washington e Pequim nos próximos meses, incluindo possíveis viagens da secretária do Tesouro, Janet Yellen, e da secretária do Comércio, Gina Raimondo, abrindo terreno para reuniões entre Xi e Biden em cimeiras multilaterais ainda este ano.