Junho é o mês do orgulho LGBTQI+ (lésbicas, gays, bissexuais, trans, intersexo e outras identidades). Por todo o país, há marchas, conferências, protestos e festas para dar visibilidade ao movimento, celebrar as conquistas da comunidade e também reivindicar os direitos que ainda estão por reconhecer.
O arco-íris é, provavelmente, o símbolo mais conhecido, já que integra a primeira bandeira criada em 1978 e inclui todos os elementos da sigla LGBTQI+. Mas, ao longo dos anos, foram sendo criadas outras bandeiras mais progressistas para integrar diferentes minorias dentro da comunidade e que, de certa forma, espelham a evolução histórica em direcção a uma sociedade mais inclusiva.
Estes símbolos funcionam "como elementos representativos de pertença", defende Ana Aresta, presidente da ILGA Portugal, organização que promove os direitos da comunidade LGBTQI+. Apesar de já existirem, pelo menos, sete versões destas bandeiras, "é bem provável que continuem a evoluir, a abraçar novas identidades e significar ainda mais a ampla diversidade das nossas comunidades".
Em relação à importância destes símbolos, Ana Aresta explica que "em conjunto, nós e estas bandeiras, ocupamos o espaço público para quebrar preconceitos e mostrarmos ao mundo que a comunidade queer e LGBTQI+ está aqui, é diversa e tem direito a todos os direitos".
A bandeira original do orgulho LGBT
Esperança, união e empoderamento da comunidade LGBTQI+. Estes são alguns dos valores representados na primeira bandeira queer, criada em 1978 por Gilbert Baker (à data, Portugal tinha apenas quatro anos de democracia).
O rosa significa sexualidade, o vermelho é uma referência à vida, o laranja simboliza cura, o amarelo o sol, o verde é sinónimo de tranquilidade e natureza, o turquesa lembra a arte, o azul simboliza harmonia e o violeta lembra o espírito. Tudo isto foi pensado pelo activista político e designer Gilbert Baker, que dedicou a vida à criação de bandeiras e outros conteúdos artísticos pro-gay e contra a guerra.
Depois de desenhada, tingida e costurada à mão por Baker com a ajuda de 30 voluntários, a versão original da bandeira do orgulho LGBTQI+ saiu à rua em São Francisco (Califórnia, EUA) durante a marcha de Liberdade Gay e Lésbica. E ficou para sempre como um símbolo dos direitos desta comunidade.
Bandeira do Progresso
Esta bandeira queer foi desenhada por Daniel Quasar, tendo como ponto de partida a original. Quarenta anos depois, é uma versão mais inclusiva e que representa a evolução LGBTQI+. Assim, inclui também as cores da bandeira trans (branco, azul e rosa) e tem ainda riscas castanhas e pretas para reconhecer as pessoas LGBTQ racializadas e as pessoas infectadas com VIH (ou HIV, na sigla em inglês).
O objectivo do designer foi dar voz a todos, incluindo a comunidade trans e pessoas racializadas ou com doenças sexualmente transmissíveis que não eram representadas na versão original da bandeira. A faixa preta, dizem, pode ainda ser uma alusão ao sofrimento e violência que muitas pessoas da comunidade LGBTQI+ enfrentam diariamente e aos que já perderam a vida.
"Eu queria tentar dar mais ênfase ao design da bandeira para dar força à sua mensagem", explica o autor da bandeira no site Progress. Daniel Quatar é designer de comunicação, queer e não binário.
"A minha bandeira é a progress flag, a bandeira arco-íris que inclui toda a comunidade queer, as suas semelhanças e diferenças, dando enfoque às pessoas que, por vezes, são mais invisíveis, como as intersexo, trans e racializadas", conta ao P3 Riley Silva, pessoa não binária.
Bandeira do orgulho trans
Os tons claros e neutros sugerem o género também neutro ou indefinido. Foi essa a ideia de Mónica Helms, mulher trans e activista que foi veterana da marinha dos Estados Unidos durante oito anos, quando, em 1999, criou a bandeira do orgulho trans.
As próprias cores — rosa e azul —, muito associadas ao binarismo dos géneros feminino e masculino, e a forma como estão organizadas na bandeira, sugerem a transição entre géneros e neutralidade, com o branco ao centro, o azul nos extremos e o rosa mais próximo do meio. Para a autora da bandeira, o branco inclui ainda pessoas não binárias, disse ao The Huffington Post.
Bandeira do orgulho não binário
Acolher as pessoas que não se sentiam representadas pela bandeira queer foi a intenção da bandeira não binária, criada em 2014 por Kye Rowan. Na altura com apenas 17 anos, Rowan quis dar resposta às queixas e criou um novo design tendo como ponto de partida a bandeira queer de Marilyn Roxie.
Desenhada em 2011, esta versão tinha apenas três cores: violeta, como resultado da junção do azul e rosa, em representação da comunidade queer, branco em alusão ao género neutro e verde como inverso ao violeta, ou seja, inclui pessoas que têm identidades fora do binarismo feminino/masculino.
Voltando à criação de Kye Rowan, o amarelo representa os que se identificam com outros géneros que não os binários, o branco faz alusão a quem se revê em diferentes géneros, o violeta é uma referência a quem se identifica com um género que junta o masculino e o feminino e o preto pretende representar os que não têm género.
Bandeira intersexo
Um pouco à semelhança da bandeira não binária, a bandeira intersexo quer representar os que não se identificam com o binarismo do género (feminino ou masculino) apenas por causa das características sexuais.
Em termos simbólicos, o amarelo e o roxo sempre estiveram associados à identidade intersexo — juntas, estas cores transmitem unidade e plenitude. Esta bandeira foi desenhada em 2013 por Morgan Carpenter, defensor dos direitos humanos das pessoas intersexo e investigador de bioética na Escola de Saúde Pública da Universidade de Sydney, Austrália.
Bandeira do orgulho bissexual
Fazer com que os pixels roxos se misturassem com os tons rosa e azul de forma discreta foi o objectivo gráfico desta bandeira do orgulho bissexual criada por Michael Page em 1998 (dois anos depois, em 2000, saía à rua a primeira marcha do orgulho LGBT em Portugal).
A ideia de desenhar uma bandeira bi surgiu ao perceber que a maioria das pessoas bissexuais não se reviam a 100% na bandeira LGBTQI+. O autor contactava de perto com esta realidade porque é activista pelos direitos da comunidade bissexual e voluntário na BiNet USA, uma organização sem fins lucrativos que também se dedica à causa.
Simbolicamente, este efeito visual pode ser uma metáfora para a atracção que une as pessoas bissexuais.
Bandeira do orgulho lésbico
A bandeira do orgulho lésbico já sofreu imensas alterações ao longo do tempo mas, neste momento, a mais utilizada é a redesenhada em 2018 por Emily Gwen. Os tons laranja e rosa dominam esta bandeira. As anteriores versões tinham outras variações de cores, que podiam oscilar entre diferentes tons de rosa, rosa e vermelho, rosa e violeta, etc, e incluíam a marca de uns lábios com batom.
Este símbolo foi introduzido "na tentativa de incluir a representação das chamadas lipstick lesbians, mas excluindo assim todas as que não se apresentassem de forma estereotipadamente feminina", explica ao P3 Joana Vieira, a designer que, em 2019, redesenhou a imagem gráfica da ILGA World.
Como sugere Emily Gwen no Twitter, o dégradé de cores pretende representar diferentes valores e aspectos dos relacionamentos amorosos: a não-conformidade de género, a independência, a comunidade, as relações únicas entre seres humanos, a paz e a serenidade, o amor e o sexo e a feminilidade.
As várias versões das bandeiras queer espelham "a democratização do design" que surgiu "através do acesso à tecnologia, ferramentas técnicas de fácil utilização, e em simultâneo com a utilização de redes sociais para a divulgação e debate", diz Joana Vieira. "Tornou possível que qualquer pessoa pudesse criar a sua própria versão da bandeira num ambiente rico de partilha de ideias e opiniões."
Quanto ao futuro das bandeiras LGBTQI+, a designer aponta que "o percurso natural de evolução será o contínuo aparecimento de novas versões ao longo dos anos". "Tal como a comunidade LGBTQI+ evolui diariamente na sua mentalidade e consciência, irão também evoluir os seus símbolos", conclui.