Do tradicional ao alternativo: há Santo António em todos os bairros de Lisboa

Por entre a profusão de propostas de animação e de comes e bebes, o melhor mesmo será apontar a uma área da cidade. Com maior ou menor dimensão, quase todos bairros convidam à festa.

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Tanta é a oferta que cada um pode bem construir o seu roteiro pessoal de Santo António NUNO FERREIRA SANTOS
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É uma questão de atitude ante a desmesura da oferta. Se o cardápio gastronómico é mais ou menos rígido, oscilando entre as inevitáveis sardinhas, as febras e os chouriços assados, regados pelo vinho e pela cerveja, o catálogo de possibilidades de entretenimento revela-se quase inesgotável. Na mais longa noite lisboeta, a escolha por entre a multitude de propostas de diversão assume-se como o resultado do gosto e das circunstâncias de cada um. Há arraiais um pouco por toda a cidade, de todos os tamanhos e a condizer com as respectivas afinidades electivas.

E se a deambulação, mais ou menos anárquica, por entre alguns deles poderá ser a opção dos mais afoitos – ou mais preparados do ponto de vista atlético -, apontar a mira a uma das zonas da capital e, dentro dela, “assentar arraiais” poderá não ser má ideia de todo. É que, já se sabe, a confluência de tanta gente em direcção ao coração da cidade e, sobretudo, aos seus bairros históricos torna a circulação e o acesso à comida e à bebida em desafios não menosprezáveis. Mas, claro está, esse é parte do apelo da noite de Santo António: o mergulho na multidão, gozando do convívio com estranhos e a magia do acaso.

Se quiser fazer um roteiro canónico, rumar à Avenida da Liberdade poderá assumir-se como a mais óbvia das opções, onde, a partir das 21h, as laterais se enchem para assistir às tradicionais marchas populares, que, este ano, terão duas dezenas de bairros em competição. Um desfile de música, cor e bairrismo a descer lentamente a mais icónica artéria da capital durante quatro horas. A partir daí, a imaginação e a predisposição ditarão a escolha.

Assumindo que a ideia de diversão passa por mergulhar nos lugares mais incontornáveis, então o melhor é rumar ao arraial de São Miguel, no largo com o mesmo nome, situado bem no coração do bairro de Alfama. Mais típico e abarrotar pelas costuras deve ser difícil. Este é um dos epicentros da acção, sem dúvida. A tradição já não é o que era, sabemo-lo bem, mas para quem não é de Lisboa e quer ficar com uma ideia do que é o Santo António, isto anda lá próximo. Mas, como já salientamos, também pode servir como exemplo do desafio que é movimentar-se e tentar comprar comida e bebidas, nesta noite.

Por falar em proximidade, não muito longe dali, na Doca da Marinha, a dois passos do Terreiro do Paço, há os Santos no Tejo, uma espécie de fusão entre festival de música e arraial popular. Num recinto fechado, que os organizadores baptizaram como “Santódromo”, e ao qual se acede comprando um bilhete (7,5 euros online, 10 euros no local), entre as 17h e as 4h, há uma aposta na eclética animação musical, que esta noite conta com James Flower (18h), Bacalhau no Azeite (20h), Ágata (21h30), Insert Coin (23h30), e ainda Dj sets de Nuno Lopes (1h) e de Moulinex (2h30). A gastronomia e os jogos populares completam a oferta. Mas, atenção, tudo isso é pago à parte.

Num registo menos institucional, mas mantendo a proximidade ao coração de Lisboa e aos seus bairros tradicionais, uma excelente opção pode ser rumar ao Largo da Rosa, para mergulhar no arraial da Associação Renovar a Mouraria, que este ano comemora os seus 15 anos. A animação começa pelas 19h, com a Colombina Clandestina, “coletivo artivista”, que, promete-se, traz a expressão popular e libertária do Carnaval para abrir a noite em grande ritmo. De seguida, os Telefonia acenam com uma incursão nostálgica por clássicos da música portuguesa. Os Suricata mergulharão num caldeirão de possibilidades, que vai do funaná ao samba, da marrabenta à pop dos anos 80, do funk do Sudão ao jazz do Japão.

Mantendo as atenções na animação proposta por colectivos empenhados no envolvimento e no progresso comunitários, e que celebram o seu aniversário, podemos, a seguir, rumar à mais que centenária Voz do Operário, no bairro da Graça, onde a animação estará por conta do Trio Nova Opção, até às 2h. Aquela verdadeira instituição lisboeta está a comemorar os seus 140 anos e merece todo o nosso carinho. Uns metros mais acima, o Largo da Graça será, por certo, uma boa opção para quem queira encontrar diversidade na oferta gastronómica.

Mas tem sido a Vila Berta quem, nos últimos anos, tem assumido inegável protagonismo, por esta altura do ano, naquela zona da cidade. Tanto que o seu passou a ser um dos mais procurados arraiais da cidade, assumindo-se, em pouco mais de uma década, como um dos ex-libris da zona da Graça / São Vicente. A animação musical desta noite estará a cargo de Deixa Rolá e DJ Cota Ruizadas. O desafio, como se tem visto nos últimos anos, será mesmo conseguir entrar e atravessar o elegante arruamento.

Por falar em arraiais que passaram de um segredo bem guardado às bocas do mundo num ápice, o da Rua de Arroios atingiu um protagonismo inusitado em muito pouco tempo. Organizado pelo Clube Atlético de Arroios, frente à sua sede, no número 151 A, é um dos mais concorridos, numa das zonas da cidade que mais dinamismo cultural e social tem conhecido nos últimos anos. Quase sempre, a noite atinge o zénite com a comunhão da multidão a cantar em uníssono o que a animação musical ao vivo vai propondo. Hoje, esse papel será desempenhado pelos Exlibris (20h) e por Roky Ferracci & Roberto DJSet (meia-noite).

Não deverá ser difícil imaginar semelhante apelo à cantoria colectiva quando José Cid subir ao palco, a partir das 22h, para animar ao arraial da freguesia de Alvalade, que acontece no Complexo Desportivo Municipal São João de Brito e tem entrada livre. O recinto abre às 19h. A última proposta de entretenimento da noite estará a cargo da Banda Tudo ao Molho, a partir da 1h.

Em Campolide, a animação e os fumos emanados pelos grelhadores provirão do Parque Urbano Quinta do Zé Pinto. Este ano, foi escolhida a imagem tutelar da actriz Beatriz Costa como ícone das festas, que, para a noite maior dos “Santos”, terá a animação musical a cargo da cantora popular Ruth Marlene, pela hora de jantar. Será bailarico à “moda antiga”. Esta pode ser uma boa proposta para quem não queira perder-se na confusão da zona mais central da capital.

O mesmo papel pode assumir o Arraial do Marquês, promovido pela Junta de Freguesia da Ajuda, no bonito Largo da Paz, junto à Igreja da Memória. Até à 1h, é possível desfrutar de tudo a que temos direito na noite de Santo António, incluindo música ao vivo, sem ficarmos stressados com a avalanche de gente sentida em muitos outros sítios. Na verdade, onde houver um assador, bebidas e música, pode bem ser o local perfeito para gozar desta noite.

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