Crono

Jaen

Dão

12 por cento

29

95

Edgardo Pacheco

João Correia Lino parece um poeta quando fala de vinho. Vê o que outros não alcançam, detesta o óbvio e recusa fazer mais do mesmo. Com o primo Manuel Ribas Fernandes criou um projecto – o Cronos – para trabalhar aquelas castas que, históricas, foram de alguma forma esquecidas ou tornadas secundarizadas. O Jaen, no Dão, é um belo exemplo. Quantos produtores engarrafam vinhos varietais de Jaen? Poucos, mas, curiosamente, é uma casta importante para a definição do perfil de um grande vinho do Dão. E por que razão não se engarrafam mais Jaen? Porque a casta – como muitas outras grandes castas – é caprichosa. E é isso que desafia João Lino. “Com este projecto que é dedicado a produções limitadas e vinhos de baixa intervenção [mas levam sulfuroso, pouco, tenham calma], pretendo mostrar o que é a pureza de uma casta que eu aprecio e que raramente aparece numa garrafa no seu estado mais primário possível.” Para isso, o enólogo anda pelo país à procura de uvas e de um pequeno espaço numa adega para fazer o vinho à sua maneira. Neste sentido, João Lino diz ser “um enólogo nómada”. E temos que agradecer esta maneira de ser porque já há muito tempo não sentíamos aqueles aromas e sabores tão primários, tão vegetais, tão adstringentes e, ainda assim, a indicar que o tempo vai dar aquele carácter aveludado e sedoso que só um grande Dão dá. Quem conhece Mencias galegos (a casta é a mesma) sabe do que é que a gente está a falar.