Homicídio de Jéssica Biscaia: arguido Justo Montes nega acusações. “Nunca estava em casa”

O primeiro a ser ouvido é um dos três arguidos acusados das agressões à criança. Diz desconhecer quase tudo. Só sabe que a menina caiu de uma cadeira.

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Jéssica Biscaia, de três anos, morreu em Junho de 2022, depois de ter sido alvo de violência e maus-tratos Ricardo Lopes
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O julgamento de Jéssica Biscaia, a menina de três anos que morreu em Junho de 2022 vítima de maus tratos, começou esta manhã no tribunal de Setúbal, com o primeiro dos arguidos a ser ouvido, Justo Montes, a negar todas as acusações.

Acusado de homicídio qualificado, rapto qualificado e agressões à integridade física da criança, o arguido foi ouvido durante cerca de uma hora e meia. Diz que “é tudo mentira” e que nunca viu Inês Sanches, mãe de Jéssica, na sua habitação, porque “andava muito na rua, nunca estava em casa”, saía às oito da manhã e voltava apenas ao meio-dia para almoçar, voltando a sair até à noite. Afirmou que dormia na sala e “as crianças estavam no quarto”.

Sobre o que aconteceu à menina, durante os cinco dias em que esteve na sua casa, disse também não saber. “Eu não sei. Não vi nada”, afirmou Justo Montes. Acrescentou não ter tido conhecimento sequer de que a menina morreu no dia 20 de Junho. “Soube pela minha mulher, no dia seguinte.”

O acusado disse ter conhecimento de que “a menina caiu da cadeira” e que viu que “ficou com a boca inchada” mas não se recorda da data. Das queimaduras nada sabe.

O juiz presidente do colectivo confrontou-o com objectos, um alicate, uma tesoura e uns ovinhos, encontrados no seu casaco. Disse desconhecer. Mesmo confrontado com fotografias, manteve sempre que nada sabe.

Confirmou ter ido a Leiria, “ver o sogro, homem com 80 e tal anos”. Garantiu que ninguém limpou a casa antes de a família ter ido para Leiria. Acrescentou que a informação de que a família levou Jéssica Biscaia nessa viagem é “mentira”. Assim classificou também as acusações de que a família se dedicava ao tráfico de droga. Disse que os rendimentos da família, no valor de “500 e tal euros”, provinham exclusivamente do Rendimento Social de Inserção.

“Então o senhor, tirando esse ferimento no rosto da menina, não viu outras lesões nem se recorda de ver a menina na sua casa antes dos últimos cinco dias?”, perguntou o juiz. O acusado confirmou.

Admitiu que o isqueiro encontrado no bolso do seu casaco lhe pertencia, assegurou que nunca o entregou às crianças, nem o deixava em casa, mas, quando o juiz lhe perguntou que explicação tinha para o facto de terem sido encontrados vestígios de Jéssica nesse isqueiro, respondeu que não sabia.

Quando confrontado com as fotografias do corpo da criança, recolhidas na autópsia, Justo Montes atirou: “Eu não fui, não quero saber nada disto, não foi nada comigo” e reafirmou que não viu nem ouviu nada em casa.

Depois de questionado pelos três juízes, o arguido respondeu também às perguntas de alguns dos advogados mas nada de relevante acrescentou.

Assim que a primeira sessão do julgamento começou, nesta segunda-feira, ficou logo a saber-se que as três arguidas vão remeter-se ao silêncio. São elas Inês Sanches, mãe de Jéssica, Ana Pinto e Esmeralda Justo.

O julgamento foi suspenso às 13 horas e deveria ser retomado ainda nesta segunda-feira, às 14h30, estando prevista a audição do arguido Eduardo Montes e, eventualmente, a reprodução das declarações dos arguidos em primeiro interrogatório. Contudo, esta sessão foi suspensa devido à greve dos funcionários judiciais.

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