João criou uma app para denunciar estacionamentos proibidos. Até a polícia usa

O engenheiro quer acabar com o estacionamento ilegal, mas diz que a app “não tem espírito delator”. Depois de fotografar o carro e pôr a localização é enviado um email à polícia.

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João criou uma app para denunciar estacionamentos proibidos. Até a polícia usa Miguel Manso
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Sempre que saía de casa João Pimentel Ferreira não via praticamente mais nada a não ser carros mal estacionados. Em Lisboa, encontrar viaturas em segunda fila e na passadeira deixavam-no de tal forma frustrado que decidiu desenvolver, nos tempos livres, uma aplicação para denunciar este tipo de infracções à polícia e, idealmente, acabar com o problema.

“Um dia li um artigo num jornal que dizia que a polícia municipal de Lisboa aceitava queixas por email de cidadãos que tiravam fotografias aos carros. Pensei: porque não usar uma app para agilizar este processo?”, conta em entrevista ao P3.

A ideia começou em 2017, mas desde então, a Denúncia de Estacionamento já sofreu algumas actualizações. Segundo o engenheiro electrotécnico de computadores, a plataforma está a fazer com que a polícia emita autos de multa mais rapidamente, mas o estacionamento indevido na cidade continua.

João afasta a ideia de vigilantes. “A app não tem qualquer espírito delator, mas o mero incentivo à cidadania no respeito pelos direitos dos peões e dos demais utilizadores vulneráveis do espaço público”, assegura. É gratuita e existe tanto para Android como para IOS.

A par disto, adianta João, funciona de forma bastante simples: o menu inclui campos de preenchimento com as informações que vigoram nos autos. Primeiro o denunciante terá de escrever qual é o modelo, marca e matrícula da viatura que está mal estacionada, seguido da data e hora, concelho e rua onde está parada. Por fim, o tipo de ocorrência.

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João Pimentel Ferreira
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Estacionamentos nos passeios, ciclovias, rotundas, lugares para pessoas com deficiência, em cima da linha amarela ou pontes são algumas das opções. É também possível denunciar um carro que não deixou espaço para outros circularem.

“As infracções vão sendo acrescentadas e as novas esquadras da polícia também”, adianta o engenheiro de 42 anos. No total, e caso tal se verifique, o denunciante pode seleccionar até quatro diferentes infracções por veículo.

Como a polícia não aceita denúncias anónimas, o denunciante terá de colocar o nome, morada e número de identificação civil na app, contudo, assegura João, os dados não são guardados. Do lado do denunciado, também não existe qualquer dado pessoal a não ser a matrícula.

Depois disto, a aplicação vai gerar uma mensagem com estas informações e, a partir da localização, detecta quais as esquadras mais próximas. A pessoa escolhe a que quiser e envia um email com a mensagem gerada automaticamente para a caixa de correio das autoridades.

Segundo João, nos últimos tempos, a plataforma tem sido utilizada com mais frequência, inclusive pela polícia que a usa “para fazer a detecção da morada, localização, modelo e tipologia”. “Em vez de [os agentes] enviarem email para policia, enviam para eles.”

Neste momento existem mais de 13034 denúncias registadas na aplicação e estão à vista de todos no mapa da plataforma. Embora tenha sido criada para resolver um problema, João sabe que a continuidade da app pode vir a ser ameaçada por uma “decisão judicial ou administrativa”, pelo que não faz planos para o futuro.

Por outro lado, agora que a Denúncia de Estacionamento está criada, passa os tempos livres a desenvolver uma outra app que apelidou de No meu Bairro. O projecto é semelhante à plataforma Na Minha Rua, da Câmara Municipal de Lisboa, mas funciona para todo o país denunciando problemas na via pública, como buracos nas estradas, e avisando as autarquias.

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