Podemos concordar que a geração Z é uma força para o bem?
É fácil dizer que acham que “têm direito a tudo” quando um jovem de 20 e poucos anos exige mais do que nós, mas isso não faz com que esteja errado.
Os millennials acordaram recentemente para uma realidade trágica: estamos a caminhar a passos largos para a meia-idade. Esta transição é marcada não só por dores aleatórias nos joelhos, mas também pela nossa ascensão na hierarquia empresarial e pelo desejo de proferir frases como "estes miúdos de hoje em dia", enquanto reviramos os olhos às palhaçadas da geração Z. Ao longo dos últimos dois anos, a geração Z tornou-se a geração mais falada e os millennials estão a dirigir-lhes todos os insultos: que são preguiçosos e que acham que têm direito a tudo.
Depois das críticas brutais que os millennials receberam no seu tempo, ganhámos o direito a participar na tradição consagrada de denegrir a geração que vem a seguir. E, francamente, eles estão a tornar-se alvos fáceis com o seu "quiet quitting" e as "bare minimum mondays"(segundas-feiras em serviços mínimos, numa tradução livre). Ainda assim, não devemos ignorar o que estão a dizer só por causa da sua juventude — mesmo que a mensagem se esteja a espalhar sobretudo no TikTok. A forma como a geração Z exige mais e que se estabeleçam limites desde cedo pode ser uma afronta às nossas sensibilidades, mas cada geração traz uma nova perspectiva sobre o trabalho. Os millennials, por exemplo, normalizaram que se mudasse várias vezes de emprego quando se tornou claro que os empregadores não os recompensavam de forma justa, nem valorizavam a lealdade.
Não estou, certamente, acima de mandar uma boca à geração mais jovem, mas tenho empatia pela sua situação. Os millennials atingiram a maioridade num mundo que parecia estar a ser destruído. A Grande Recessão atingiu os millennials mais velhos quando tinham 27 anos, a mesma idade que os mais velhos da geração Z têm actualmente. A versão do mercado de trabalho que nos prometeram quando fomos para a faculdade e contraímos empréstimos para estudar evaporou-se de repente. O subemprego era galopante no início das nossas carreiras, dando origem à cultura do side-hustle e à economia paralela. E quando finalmente encontrámos o nosso equilíbrio financeiro, o mercado imobiliário estava tão em brasa que parecia impossível comprar uma casa.
A geração Z está no início da sua própria desilusão, mas teve muito mais informação sobre a situação dos mais velhos graças às redes sociais e à Internet.
Esta será a primeira geração a ter vivido toda a sua vida com a Internet. Ir à biblioteca para fazer trabalho da escola é uma coisa estranha para eles, que tinham o mundo na ponta dos dedos. Cresceram nas redes sociais antes de poderem autorizar a publicação das suas imagens. O mundo deles não se parece nada com o nosso e é por isso que têm desejos completamente diferentes em relação ao mercado de trabalho, aos limites a impor e à forma como querem ganhar a vida.
O TikTok, o Instagram e o YouTube deram a qualquer pessoa uma plataforma para ser um influenciador, o empresário dos tempos modernos. Além disso, a geração Z tem o optimismo cauteloso que vem com a juventude. Estão a improvisar uma forma de ganhar a vida confortavelmente numa economia incerta.
A cultura de #HustleHarder e #GirlBoss, que marcou a entrada dos millennials no mercado de trabalho, deixou de estar na moda, em parte devido às elevadas taxas de burnout e de stress crónico. Referem-se a ambos os termos como "tóxicos" e consideram-nos um elemento do feminismo corporativo e mercantilizado ou até como as piores partes do capitalismo.
No entanto, a geração Z parece estar na vanguarda da sua própria actividade paralela. A possibilidade de trabalhar remotamente abriu uma oportunidade para quem tem tempo, energia e motivação para trabalhar simultaneamente em dois empregos assalariados a tempo inteiro. Alguns aproveitam as diferenças de fuso horário ou concentram-se em cargos com menor probabilidade de estarem carregados de reuniões. O fenómeno é diferente do que acontecia no meu tempo, em que uma actividade paralela significava apenas algumas horas de trabalho para além de um emprego a tempo inteiro. Não era possível estar em dois sítios ao mesmo tempo. O advento do ChatGPT e da inteligência artificial poderá aumentar ainda mais a aptidão da geração Z para os vários empregos. Basta pedir aos robots que escrevam o primeiro rascunho enquanto se está numa reunião.
É possível que a geração Z ainda esteja demasiado no início da carreira para se preocupar com as ramificações de se ser despedido não de um, mas de dois empregos a tempo inteiro. Ou talvez já estejam fartos de trabalhar para os grandes senhores das empresas e estejam prontos para se vingarem deles durante o máximo de tempo possível. Ou talvez, de forma não intencional, estejam a ser ultracapitalistas, tirando partido da procura e tentando chegar às suas próprias conclusões.
A geração Z também tem a reputação de estabelecer limites, de se opor e de dizer "não" aos seus superiores. É fácil dizer que acham que "têm direito a tudo" quando um jovem de 20 e poucos anos exige mais do que nós, mas isso não faz com que esteja errado. Os empregadores não devem ter o direito de controlar o seu tempo fora do trabalho. Claro que isto varia consoante o sector, mas há demasiados sectores que exigem um nível de dedicação que não é necessário nem compensado de forma justa.
Alterações nas políticas, como as regras que promovem uma maior transparência salarial, devem ajudar a geração Z a pedir mais, mas os millennials que são seus superiores também devem fazer parte desta luta. Sabemos muito bem o que é sofrer pela estagnação salarial, e o facto de assumirmos posições de autoridade deve encorajar-nos a exigir mais para nós próprios e para a geração Z. Os locais de trabalho acabam por se adaptar à geração seguinte. Afinal, quantas pessoas levavam os cães para o trabalho antes de os millennials o começarem a exigir?
Ainda não sou velha o suficiente para ter esquecido a sensação de ser desrespeitada e rejeitada no início da minha carreira. Chegar à idade adulta nunca é uma transição fácil, mas a guerra de gerações no local de trabalho agrava o problema. Muitas vezes são os jovens que impulsionam a mudança, porque têm uma nova perspectiva sobre comportamentos antiquados ou maus tratos. Têm menos a perder no início das suas carreiras e, por conseguinte, mais poder para se afirmarem ou se afastarem. Quando eram jovens, as mulheres boomer e da geração X abriram o caminho para que eu pudesse aceder à minha carreira, mas eu também não estava errada quando pedia mudanças ou resistia a comportamentos enraizados, como glorificar um regresso rápido ao local de trabalho após o parto ou aceitar que uma mulher-símbolo numa posição de poder fosse encarado como um progresso. A geração Z também não está errada em querer continuar a fazer evoluir a nossa sociedade e o mercado de trabalho.