Inés Arrimadas, ex-líder e “estrela” do Cidadãos, abandona a política

Uma das principais figuras dos liberais espanhóis nos últimos anos renuncia à carreira política dias depois de o partido anunciar que não vai concorrer às legislativas, após o desastre nas regionais.

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Inés Arrimadas numa acção de campanha em Barcelona, em 2017 Reuters/JON NAZCA
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O partido liberal espanhol Cidadãos, que venceu as eleições autonómicas catalãs de 2017 e que ficou a poucos milhares de votos de ser a segunda maior força política de Espanha nas suas primeiras eleições legislativas, em 2019, perde esta quinta-feira mais uma das suas principais figuras, naquele que é mais um passo rumo à insignificância política de um projecto partidário que chegou a ser um dos mais promissores da última década no país vizinho.

Aos 41 anos, Inés Arrimadas, líder do Cidadãos entre Março de 2020 e Janeiro deste ano, e porta-voz do partido no Parlamento, revelou, num discurso emotivo e sem direito a perguntas dos jornalistas, no Congresso dos Deputados em Madrid, que vai abandonar a política.

“Decidi pôr fim à minha etapa política e iniciar uma etapa à margem dela, depois de ter dedicado os melhores anos da minha vida a servir o meu país”, anunciou.

“Durante este período tive erros e sucessos, mas podem estar seguros de que sempre tomei todas as decisões pensando naquilo que era o melhor para o nosso país. Hoje não posso resumir tudo o que aprendi, tudo o que vivi, tudo o que sofri, tudo o que desfrutei; mas há uma palavra que pode resumir tudo o que sinto e que é: obrigada”, afirmou.

O facto de não ter concorrido às primárias do Cidadãos, realizadas em Janeiro, abdicando da possibilidade de uma reeleição – apoiou a candidatura vencedora de Patricia Guasp – e de se ter mudado recentemente para Jerez de la Frontera, em Cádis, já tinha sido entendido pela imprensa espanhola como um sinal de algo estava a mudar na sua relação com a política partidária.

Fontes próximas de Arrimadas garantiram esta quinta-feira ao El País que, de facto, a sua decisão já tinha sido tomada há algum tempo, nomeadamente antes das eleições regionais do passado domingo. Mas o péssimo resultado eleitoral do Cidadãos, admitem, acelerou o anúncio.

Com apenas 1,35% do total de votos nessas eleições e sem conseguir eleger representantes mos parlamentos autonómicos que participaram nas regionais, o partido liberal – fundado em 2006, e que, a par do Podemos (esquerda radical), foi um dos principais responsáveis pelo fim do regime de alternância de poder entre PSOE (centro-esquerda) e PP (centro-direita) – anunciou na terça-feira que não vai concorrer às próximas eleições legislativas, convocadas pelo presidente do Governo de Espanha, Pedro Sánchez, para 23 de Julho.

“É uma decisão da qual não só partilho como sempre defendi. É uma decisão difícil, mas é a mais responsável para Espanha e a mais inteligente para o espaço do centro liberal”, disse Arrimadas na sua intervenção.

Com este anúncio, exclui-se também (pelo menos para já) um cenário de ingresso da deputada nas listas do PP, uma possibilidade que, segundo fontes do principal partido da oposição – o grande vencedor das eleições de domingo – chegou a ser ponderada.

Arrimadas, depois de Rivera

Depois de ter guiado o Cidadãos a uma grande vitória nas eleições legislativas na Catalunha realizadas poucos meses depois do referendo secessionista declarado ilegal por Madrid e da declaração unilateral de independência no parlamento autonómico, em 2017 – não chegou ao governo porque os partidos independentistas se coligaram –, Inés Arrimadas foi a escolha natural para a liderança do partido após o abandono da sua outra grande “estrela”: Albert Rivera.

Rivera saiu de cena após as segundas legislativas de 2019, tendo deixado o partido na quinta posição, quando, meses antes, num sólido terceiro lugar, recusou viabilizar ou entrar num governo com o PSOE.

A guinada do Cidadãos à direita, muito assente numa posição de firmeza absoluta contra o independentismo catalão – o partido nasceu na Catalunha – foi muito criticada pela ala moderada e europeísta do partido e pode ajudar a explicar a sua acelerada erosão: os eleitores mais conservadores optaram pelo barulho do Vox (extrema-direita) e os mais centristas aderiram à recuperação do PP, agora liderado por Alberto Núñez Feijóo.

No seu discurso desta quinta-feira, Arrimadas agradeceu a “oportunidade” que lhe foi dada por Rivera, nomeadamente por lhe ter permitido brilhar na Catalunha. E foi à região autonómica que deixou a derradeira dedicatória.

“Quero dirigir-me aos cidadãos da Catalunha, a essa terra onde decidi viver [e] onde me filiei no Cidadãos”, delcarou. “[Representei] o partido que levantou a voz, que rompeu o silêncio e que enfrentou pela primeira vez com êxito o regime nacionalista.”

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