Biblioteca Pedro Ivo retoma vocação original e reabre portas ao Porto

Com cerca de 1000 livros, sobretudo dedicados aos mais novos, histórica biblioteca do Marquês reabriu no dia da criança. Ali nascerá, também, um coro intergeracional e multicultural da palavra dita

neg - 01 JUNHO 2023 -  BIBLIOTECA PEDRO IVO
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Biblioteca Pedro Ivo reabriu no Dia da Criança
neg - 01 JUNHO 2023 -  BIBLIOTECA PEDRO IVO
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Biblioteca Pedro Ivo reabriu no Dia da Criança Nelson Garrido
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Antes da sessão inaugural da Biblioteca Pedro Ivo, no jardim do Marquês, Jorge Sobrado foi ouvindo testemunhos de portuenses que, ao assistirem ao aparato da reabertura, esta quinta-feira, no dia da criança, lhe foram segredando as suas memórias naquela pequena biblioteca criada há 75 anos. Também o director do Museu e Bibliotecas do Porto descobrira, há dias, que aquele pequeno espaço de 43 metros quadrados havia sido a biblioteca da sua mãe, moradora da Rua do Bonjardim, ali perto. Por tudo isso, Sobrado não temeu o exagero quando a apelidou de “casa de memória da cidade”. Está reaberta a Biblioteca Pedro Ivo, com um fundo infanto-juvenil com cerca de 1000 livros e programação regular dedicada aos mais novos.

A acção é um “sinal de compromisso”, afiançou Jorge Sobrado: “O compromisso das bibliotecas de continuarem a ser casas abertas, de encontro dos livros com os leitores, dos investigadores com as suas fontes.” Este é um dos pólos de um projecto maior, a Biblioteca Errante, apresentada em Abril, que ambiciona ter uma rede de 15 microbibliotecas pulverizadas pela cidade até ao fim de 2024.

Na Praça do Marquês, a biblioteca Pedro Ivo – aberta de terça-feira a sábado, das 10h às 13h e das 14h às 18h – acolhe sobretudo obras dedicadas à primeira infância, infância e público juvenil, mas também outros géneros e áreas de conhecimento, como literatura, história, geografia, ciências, filosofia e BD.

Estão disponíveis serviços de consulta e leitura presencial – com acesso gratuito à internet e à plataforma Press Reader, com acesso a publicações de mais de 150 países – e podem levar-se livros emprestados e requisitar outros que não estejam por ali.

Rui Moreira nem sempre achou que reabrir aquele espaço como biblioteca infanto-juvenil fizesse sentido. No início de 2020, depois de duas hastas públicas para ali abrir uma cafetaria terem levantado suspeitas de ilegalidades, o autarca anunciou a vontade de acabar com esse negócio e reabrir a casa como “equipamento para fins culturais”. Mas algo com uma “actividade cultural rotativa” e não com uma função fixa.

Esta quinta-feira, Moreira admitiu que os ensaios não foram os mais felizes. A “ideia fundadora de uma biblioteca infanto-juvenil e popular” era mesmo a “melhor opção” - juntando-lhe “novas dinâmicas” angariadas num concurso de ideias lançado pela autarquia.

O vencedor desse concurso, que ali instalará um projecto durante seis meses, foi o Bairro dos Livros, com o “Cor(p)o de Intervenção” – Coro Intergeracional e Multicultural da Palavra Dita”. Será “um pulmão de envolvimento comunitário local à biblioteca”, nas palavras do autarca do Porto.

Catarina Rocha, um dos cinco rostos do Bairro dos Livros, não escondia a felicidade de apresentar a ideia a quem por ali passava. “Há muito que gostaríamos de fazer alguma coisa aqui”, apontou. Minês Castanheira, também da associação cultural, andava a reler o Cancioneiro Popular do Porto e a pergunta começou a bailar-lhe no pensamento: “Por que não actualizar o cancioneiro?”

A proposta levada à Praça do Marquês é precisamente a de reescrever o cancioneiro com a comunidade, cruzando o tanto de diverso que naquela geografia existe, chamando escolas, lares, gente que frequenta o jardim, gente que mora ali ou noutra qualquer parte da cidade. Todos os que quiserem (para fazer parte basta fazer uma inscrição na própria biblioteca ou enviar um email para o Bairro dos Livros). Se “a arte e a cultura são uma ferramenta aglutinadora”, disse Catarina Rocha, este coro quer criar pontes para a unidade daquele território.

À equipa do Bairro dos Livros vai juntar-se André Neves (mais conhecido como MAZE, um dos membros dos Dealema), o poeta Renato Filipe Cardoso, a poeta e bibliotecária Raquel Patriarca e o investigador e livreiro Paulo Brás. Com oficinas de leituras e escrita, de música e dança, com mergulhos na história (do Cancioneiro, da própria biblioteca, da cidade), será criado um espectáculo – e a apresentação já tem palco: o coreto do Marquês.

José António chegou à apresentação da Biblioteca Pedro Ivo já depois de Rui Moreira ter saído. Para grande pena dele. Vinha para contestar o encerramento das casas de banho públicas da Praça. Mas entre a nostalgia dos Aliados ajardinados e daquela praça com outro trato, o homem, morador numa pensão com vista para a biblioteca e livre de uma vida entre drogas há vinte anos, tornou-se no primeiro contacto apontado pelo Bairro dos Livros: “Tem de participar”, tentavam convencê-lo Catarina Rocha e Minês Castanheira. Afinal, reescrever o Cancioneiro é aquilo: resgatar a voz do Porto que não chega aos palcos.

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