Rainhas do AutoEngano: intimismo, um toque de loucura e um grito de revolução

Trio formado em 2020 por cantoras e multi-instrumentistas, as Rainhas do AutoEngano estão a rodar canções que hão-de dar um álbum. Esta quinta-feira, no CCB, às 21h.

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Natália Green, Madalena Palmeirim e Kali Peres DARYAN DORNELLES
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A digressão começou em Março e esta quinta-feira chega a Lisboa, ao Pequeno Auditório do CCB, às 21h. O espectáculo chama-se Gota na Galáxia e é o resultado do trabalho de três cantoras e multi-instrumentistas que se encontraram pela primeira vez em 2020, a poucos dias de ser declarada a pandemia da covid-19: a portuguesa Madalena Palmeirim (voz e cavaquinho) e as brasileiras Natalia Green (voz e violão) e Zoe Dorey (voz, violão e fliscorne), que saiu em 2022 e foi substituída por Kali Peres (voz, guitarra e baixo acústico).

Quando Madalena Palmeirim se encontrou, pela primeira vez, com as futuras parceiras nas Rainhas do AutoEngano, tinha lançado há pouco tempo o seu álbum de estreia, Right As Rain, publicado em Dezembro de 2019. Um acaso que deu frutos, como ela recorda agora ao PÚBLICO: “Tivemos o primeiro encontro em Fevereiro, num dia pouco convencional, 29 (portanto, só celebramos de quatro em quatro anos o nosso nascimento). Foi um jantar informal, sem qualquer intenção de fazer uma banda. Basicamente, estava a conhecer duas músicas brasileiras que tinham vindo para Portugal.” No final do jantar, decidiram celebrar encontro com música e esse foi o rastilho: “Estava uma guitarra ao pé de nós e dali não saímos, até às cinco da manhã. Nesse tempo, surgiu o nome do projecto e quatro temas originais, de rajada. Foi um sinal muito forte de que tínhamos uma equipa vencedora.”

O nome do projecto, Rainhas do AutoEngano, foi inspirado num livro e nas conversas que ele ali gerou: “A Zoe Dorey, que é uma das fundadoras do trio, estava a ler um livro sobre o Autoengano. E nós, numa partilha informal e íntima sobre as nossas vidas, pessoais e amorosas, percebemos que tínhamos esse traço em comum, o de nos auto-enganarmos, nas relações ou nas expectativas que púnhamos nas coisas. Sentimo-nos rainhas disso tudo.”

A pandemia, declarada em Portugal no dia 11 de Março de 2020, mudou-lhes os planos, mas não travou as Rainhas: “Tivemos de ficar as três fechadas na ‘torre’ até nos podermos reencontrar. E conseguimos, aos poucos, ao ar livre. Foi um Verão ainda cheio de criação. Mais tarde, começámos a tocar ao vivo, porque sendo um projecto surgido no chão de uma sala de jantar, sentimos necessidade de estar com o público, para perceber se as canções e as reacções eram boas. Percebendo que sim, decidimos então gravar os singles.”

A primeira apresentação pública do trio foi no Espaço Lapo, em Lisboa, seguindo-se outros palcos, como o do Super Bock em Stock, a Casa do Capitão, Quintas de Leitura e Maus Hábitos (Porto), Ciclo de Polinização, A Vida Secreta das Palavras – MAP (Oeiras), Teatro Municipal de Vila Real, Teatro Municipal de Bragança, Olhão, Figueira da Foz, Coimbra e Évora. Fora de Portugal, já se apresentaram em França e em Cabo Verde.

O primeiro single do trio a ser publicado, em Fevereiro de 2021, foi Eu Jurei, uma das canções nascidas naquele primeiro encontro e que integrou a colectânea Novos Talentos Fnac 2021. No mesmo ano, publicaram mais três: Gota, Não falta nada e Quarentena, esta composta inteiramente por Zoe Dorey. Em 2022, publicaram mais uma canção, Tinder.

O espectáculo que agora chega ao CCB, Gota na Galáxia, tem encenação da actriz Sara Carinhas, e a sua apresentação mais recente foi em Mondim de Basto, no Favo das Artes, no dia 27 de Maio. “Correu muito bem”, diz Madalena. “Era uma viagem longa, mas como é um espectáculo com um universo muito próprio, por mais que as nossas vidas pessoais ou o cansaço ocupem demasiado espaço – e eu sinto que na Cultura estamos todos muito cansados, é outra luta –, quando entramos no palco com esta concepção de figurinos, cenários e encenação, somos absorvidas por esse universo. É uma viagem muito bonita.”

O espectáculo é, acrescenta Madalena Palmeirim, mais um passo para o álbum de estreia do trio, que só deve ser lançado em 2024, porque é preciso “ter tempo para pensar nos arranjos, com calma”. E, antes disso, testar as novas canções: “Gosto da ideia de rodarmos o máximo possível as canções em palco. E felizmente temos tido muitos concertos.”

Este, em particular, tem outra ambição e uma maior exigência, diz Madalena Palmeirim: “O que lhe dá um valor maior é ser um concerto encenado, mais do que um concerto. Existe uma dramaturgia interna, um levantar da cadeira das próprias canções, mas que respeita o processo das próprias Rainhas, que começaram num formato intimista. E é assim que começa, para acabar com um toque de loucura e outro de grito de revolução. É quase um passar de 24 horas com a vida das Rainhas toda lá dentro, basicamente.”

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