E, agora, um Homem-Aranha completamente diferente Através do Aranhaverso

As novas aventuras animadas de Miles Morales voltam a injectar frescura, humor e criatividade visual de cortar a respiração no gasto formato dos super-heróis. Mas era mesmo preciso fazer três filmes?

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Homem-Aranha: Através do Aranhaverso
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Sabia o leitor que, no “multiverso Aranha”, há uma dimensão com um T-Rex-Aranha? Ou com um Gato-Aranha que em vez de bolas de pêlo lança bolas de teia?

Pode não saber, mas se viu o surpreendente Homem-Aranha: No Universo Aranha, a animação de 2018 que ganhou o Óscar da categoria e veio injectar uma dose maciça de frescura, humor e espírito BD na interminável sucessão de fitas de super-heróis, tais variações tresloucadas fazem todo o sentido. E são amplificadas e retrabalhadas em Através do Aranhaverso, segundo filme de uma trilogia animada que coloca Miles Morales, Homem-Aranha de uma Brooklyn alternativa, a viajar por múltiplas dimensões — cada uma com um equivalente seu — em busca da sua “némesis”, uma (literal) “mancha negra” que procura vingança a todo o custo.

Não é spoiler nenhum dizer que vai haver um terceiro filme (Para Além do Aranhaverso) guiado pela dupla formada por Phil Lord e Christopher Miller, nem que a fulgurante criatividade visual do primeiro filme se prolonga e expande aqui. A fluidez quase sem esforço com que estilos de desenho muito diferentes e quase antitéticos se cruzam harmoniosamente numa mesma imagem, a inventividade e energia com que os visuais propulsionam a história e definem múltiplos universos com uma breve mão-cheia de pormenores, são de cortar a respiração.

Se fosse apenas uma questão de estilo e estética, estávamos conversados e íamos directamente para as cinco estrelas — porque há mais invenção, ritmo, cinema em todo este filme do que na grande maioria dos filmes de super-heróis de “imagem real”, resgatando ao mesmo tempo o espírito de divertimento que os comic books sempre conseguiram ter.

O problema é a necessidade de prolongar para uma trilogia o que poderia ter ficado por um único filme. O que sabia a pouco em menos de duas horas a 100 km/h torna-se excessivo acima das duas sem nunca ultrapassar os 60 à hora. E as “pausas” narrativas para dar espessura à personagem de Miles (onde se nota a mãozinha do dramaturgo e argumentista Kemp Powers, que conhecemos de Soul e Uma Noite em Miami) esticam-se para lá do que deveriam, deixando entrar alguma da sisudez que o primeiro filme tinha ejectado.

Felizmente, esta nova animação ainda consegue escapar à uniformização da “linha de montagem” em que o cinema de super-heróis se tornou (e esse é mesmo um dos temas do filme), mas explora abertamente o combate entre o “mais do mesmo” e o “agora algo de completamente diferente”. Por enquanto, este último ganha. Mas só o terceiro filme permitirá chegar a uma conclusão — e não só a esse respeito.

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