Ataques “totalmente inaceitáveis” provocam 30 feridos na missão da NATO no Kosovo

Militares envolvidos são italianos e húngaros. Confrontos aconteceram durante a tentativa de tomada de posse de autarcas albaneses, eleitos numa votação boicotada pela população sérvia.

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Os confrontos aconteceram em vários municípios no Norte do Kosovo LAURA HASANI/Reuters
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Um dia depois dos ataques "totalmente inaceitáveis" que deixaram feridos pelo menos 30 militares da força da NATO no Kosovo, a Aliança Atlântica anunciou que vai enviar forças adicionais para conter a violência no país. Centenas de manifestantes da minoria sérvia do Norte do Kosovo atacaram na segunda-feira os soldados da missão de manutenção de paz que tentavam impedir a invasão de um edifício municipal em Zvecan, na região de Mitrovica. Para além dos soldados, ficaram feridos 52 manifestantes.

“Já temos demasiada violência hoje na Europa, não podemos permitir outro conflito”, afirmou, nesta terça-feira, em Bruxelas, o alto-representante para a Política Externa e de Segurança da União Europeia, Josep Borrell. Em Moscovo, o Ministério dos Negócios Estrangeiros pediu que “o Ocidente silencie finalmente a sua propaganda e deixe de atribuir a culpa dos incidentes no Kosovo a sérvios levados ao desespero, que são pacíficos, estão desarmados, e tentam defender os seus direitos e liberdades legítimos”.

Já nesta terça-feira, “homens com máscaras esmagaram os vidros de um carro com matrícula albanesa” que era usado por uma equipa de televisão, descreveu um jornalista da Reuters que assistiu ao ataque. Um segundo carro de jornalistas foi destruído.

Os confrontos entre manifestantes e a polícia vêm da semana passada, quando Belgrado acusou a política de Pristina de abusos e colocou o seu Exército em alerta, enviando soldados para a fronteira kosovar.

As actuais tensões começaram em Abril, quando a comunidade sérvia boicotou as eleições locais. O resultado foi uma participação inferior a 4% e a eleição de autarcas da minoria albanesa nos quatro municípios da região – são esses que agora têm tentado tomar posse perante os protestos dos sérvios. Para além da eleição de autarcas albaneses, os manifestantes sentiram-se provocados pela forte presença da polícia e pela retirada das bandeiras sérvias dos edifícios municipais, onde foram substituídas por bandeiras do Kosovo.

No total, mais de 90% da população kosovar é albanesa, mas no Norte os sérvios são a maioria.

Tanto os Estados Unidos como a UE criticaram as autoridades kosovares por desestabilizarem a situação no Norte do país, salientando que já tinham avisado que a questão podia inflamar as tensões étnicas na zona – o primeiro-ministro do Kosovo, Albin Kurti, respondeu que as forças de segurança só têm tentado garantir que os autarcas eleitos possam trabalhar. Antes dos últimos incidentes com a Kfor, a força da NATO mobilizada na região desde o fim da guerra de 1999, as patrulhas da missão civil da UE também já tinham sido alvo de ataques.

Os soldados da NATO foram atacados junto a um edifício municipal, onde a polícia (maioritariamente albanesa) tentava deter os manifestantes com recurso a gás lacrimogéneo e granadas de atordoamento. Os militares estrangeiros formaram ainda um cordão de segurança em redor de outras duas câmaras municipais, explicou a BBC. “Este nível de violência não se via há anos no Kosovo”, descreveu o jornal Le Monde.

A maioria dos feridos são italianos e húngaros, diz a NATO, que refere 30 militares, a maioria com fracturas e queimaduras de “dispositivos incendiários improvisados”; e três feridos com armas de fogo.

No conjunto, Roma e Budapeste falam em 31 soldados feridos: o ministro dos Negócios Estrangeiros italiano, Antonio Tajani, diz que onze italianos foram feridos, incluindo três com gravidade; o Ministério da Defesa da Hungria conta pelo menos 20 soldados feridos, sete dos quais em estado grave, mas estável, e anunciou o seu repatriamento. A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, denunciou um ataque “inaceitável e irresponsável”.

O Kosovo declarou a sua independência da Sérvia em 2008 e o país é reconhecido por 101 dos 193 Estados-membros das Nações Unidas, incluindo grande parte, mas não todos os Estados-membros da UE. E tanto a Sérvia como a maioria dos kosovares de etnia sérvia recusaram fazê-lo.

Na segunda-feira, em reacção a estes incidentes, o tenista Novak Djokovic, a disputar o torneio de Roland Garros, aproveitou a tradicional assinatura numa câmara de televisão no final da partida para marcar uma posição e deixar um apelo: “O Kosovo é o coração da Sérvia! Parem com a violência.” Questionado sobre o seu gesto na conferência de imprensa que se seguiu à sua vitória, o tenista sérvio explicou: “Isto é o mínimo que eu podia fazer. Sinto uma enorme responsabilidade em expressar o meu apoio ao nosso povo e a toda a Sérvia, especialmente como filho de um homem nascido no Kosovo.”

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